Capítulo 39

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JÃO

Depois que a minha sogra revelou algum tipo de transferência que a Cecília faria para a Itália em breve, o clima pesou um pouco. Eu não acho que era o único dali que não sabia disso, mas todos me olhavam como se a revelação tivesse sido apenas para mim.

Apesar de querer entender o que estava acontecendo, eu sabia que ali não era lugar e nem hora para conversar sobre aquilo.

Minha cabeça funcionou muito rápido e eu consegui dar um jeitinho na situação, fingindo que tinha apenas esquecido do assunto, e que estava tudo bem.

Cecí me lançou um olhar confuso, e eu sussurrei um "Tá tudo bem. Depois a gente conversa".

Fiquei meio aéreo pelo resto da noite, confesso, mas sempre que lembrava de onde eu estava, soltava alguma piada ou conversava sobre qualquer coisinha para descontrair.

Foi ficando mais tarde e mais tarde e, quando deram dez horas, eu já sabia que voltar para São Paulo não era mais uma opção.

— Filha, eu vou colocar uma roupa de cama lá no seu quarto pra você e pro João e aí amanhã vocês vão, pode ser? Não quero vocês na estrada até tarde — Dalva nos disse enquanto tirava os pratos sujos da mesa

— Tudo bem por você, amor? — Cecília se virou para mim

— Claro! — eu respondi sorrindo

Depois de ajudar minha sogra com a louça, eu fui para o quarto, onde Cecília estava colocando seu pijama.

— Oi — ela disse

— Oi

— Escuta, sobre o que minha mãe falou no jantar... Sobre a Itália...

— Não precisa falar, se você não quiser. Se quiser, a gente pode esperar chegar em São Paulo

— Não. Eu te devo isso — ela sentou na cama e fez sinal para que eu me aproximasse — João, eu não queria te contar, porque sabia que quando eu te contasse viraria realidade e eu nem sei se consigo acreditar... Talvez também fosse um pequeno medo da sua reação

Ela pegou seu celular e abriu o aplicativo de e-mail, mas não me mostrou o que tinha ali antes de me dar um contexto.

— É um e-mail da Prada — ela me entregou o celular — Eles me chamaram para fazer parte da equipe deles. O contrato dura um ano. Mas é lá em Milão e...

— Você foi chamada para entrar na Prada? — eu perguntei me exaltando e ela se encolheu um pouco — Meu amor, que orgulho!

Acho que ela não esperava essa reação, mas sorriu de orelha a orelha quando viu que eu estava feliz por ela.

Eu sabia das dificuldades de um relacionamento à distância, mas sabia o quanto aquilo era importante para ela.

Ela me apoiou enquanto eu passei meses viajando por vários estados durante a turnê. Não apoiar ela nesse sonho seria a maior imbecilidade da minha vida.

— Cecí, eu nem acredito! — eu peguei-a em meus braços e pulei — Minha namorada ainda vai ser a estilista mais renomada desse Brasil. Já posso até ver o nome "Cecília Ribeiro" no São Paulo Fashion Week

— Eu sei, não é? Quando eu ia imaginar? Prada! — ela pulou

— Sim! — eu exclamei — Sinto muito se alguma coisa fez você sentir que não podia me contar, gatinha

— Não foi culpa sua. É que todo mundo tem meio que um medo de relacionamentos à distância. Eu não sabia como a gente ia lidar

— A gente vai dar um jeito. Nem que eu tenha que arrumar uma turnê inteira na Itália. Quando você vai?

— No dia 10 de agosto

— Então tem bastante tempo até lá... A gente aproveita por aqui até a data e eu te levo até lá pro seu primeiro dia

— Dá pra adiar agosto pra sempre? Não leve a mal, eu tô super ansiosa... Mas é que eu queria ficar nessa vidinha com você mais um pouquinho — ela se aninhou em meus braços

— Eu prometo que vou te visitar o máximo possível. Nem vai dar tempo de você sentir a minha falta

— Apostaria todas as minhas fichas que a saudade vai dobrar toda vez que você for embora. Mas vai dar tudo certo. É pra isso que tem telefone... né?

— Com certeza, meu amor — eu disse e, em seguida, selei nossos lábios

Assim que finalizamos esse beijo, deitamos na cama abraçados e caímos no sono instantes depois.

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nota:
feliz quarta-feira cinza ☁️

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