Capítulo 54

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CECÍLIA

São Paulo, 4 de julho de 2023

No dia após organizar toda a minha ida, decidi passar no prédio de João com uma carta em mãos.

João pisou na bola comigo e eu não conseguiria lidar com aquilo nesse momento, por isso a escolha de ir embora. No entanto, eu ainda o amava muito e sabia que ele merecia pelo menos uma explicação.

Eu odeio despedidas e sabia que seria impossível fazer aquilo cara a cara. Não, não era a opção mais justa, mas foi o que eu me senti capaz de fazer naquele momento.

Ali, no banco de trás do táxi que me levaria ao aeroporto depois da parada na casa de meu, agora, ex-namorado, eu relia o que tinha escrito.

São Paulo,
4 de julho de 2024

Querido João,

Eu sei que vai parecer uma decisão covarde, mas prometo que foi muito pensada (por pelo menos 24 horas consecutivas) para ser a melhor para nós dois.
Estou saindo de São Paulo hoje. Devo chegar em Milão amanhã.
Sabemos que uma hora ou outra essa despedida viria. Eu só não esperava que ela pudesse ser tão repentina e, quem sabe, eterna.
Eu não queria acabar assim.
Mas, acho que, afinal, talvez seja o melhor.
A verdade é que você merece ser feliz e, se todos estiverem certos, sua felicidade não está comigo.
Em algum momento, eu tomei essa "verdade universal" como minha também, e algo em mim sentiu que não era justo de prender a mim, sendo que seu amor é outro alguém.
Talvez outra parte de mim — a mais medrosa e covarde delas — só tenha medo de você ir embora, então, fez o que eu fui ensinada a fazer por meu querido pai: fugir.
Nada vai justificar, eu sei. Acho que o problema está em mim.
Eu também sei que até posso ter raiva de ti, assim como você tem o mesmo direito. Porém, parto leve, prometendo guardar só aquilo que foi lindo, sem distorcer nada por descobertas posteriores que possam me afetar.
Em outras vidas, talvez a gente possa se encontrar e dar certo.

Acho que nos achamos cedo demais mais uma vez.
Ou talvez só tenha sido tarde demais.

Eu te amo com tudo que há em mim.
Espero que você me entenda.

Se cuida.

- Cecília



— Moça, nós chegamos — avisou o motorista do táxi assim que paramos em frente ao edifício de João, tirando a atenção de minha carta

— Ah, obrigada — eu disse, abrindo a porta do carro enquanto colocava o papel em minhas mãos dentro de um envelope — Eu volto num instante

Caminhei até a portaria e o porteiro que trabalhava naquele dia me reconheceu instantaneamente.

— Oi, Cecília! — ele disse abrindo o portão — Quer que avise o seu Jão que você chegou?

— Oi, Luís — eu chamei-o por seu nome — Não precisa, eu só vim deixar isso aqui para ele.

Eu estendi o envelope para ele, que pegou-o de minhas mãos, e garantiu que seria entregue para João Vitor.

Eu, então, voltei para o carro, partindo direto para o aeroporto, com o coração mais apertado do que nunca.

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