CAPITÚLO 3

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- Você não quer me conhecer! - afirmo.

- Por que não? Seria tão ruim deixar alguém te conhecer?

- Não vale a pena me conhecer, não tem nada de bom.

- Decido sair de perto, e ele me segue.

- Para de me seguir, vai embora! - peço.

- Eu te levo para o CT.

- Não vou para lá hoje.

- Tudo bem, eu te levo para casa, então.

- Me deixa em paz, não quero que me leve a lugar nenhum.

Ele se afasta sem questionar e vai embora, então sigo meu caminho para o outro lado. Paro em frente ao túmulo de meus pais e coloco o restante das flores para eles.

- Sinto saudade - digo baixinho, me permito chorar nesse momento.

Depois de um tempo me recompondo, retorno para casa e encontro minha tia na sala.

- Isa? Achei que iria para o CT - ela diz.

- Hoje não é um dia bom, é aquele dia. E as datas são tão próximas. - digo com tristeza.

- Eu te entendo, meu amor. Me conte o que te aflige além disso.

- Sento ao seu lado no sofá, respiro fundo e conto sobre a chegada de Guilherme e o quanto ele tem me chateado nos últimos dias.

- Não acredito que a Carolina fez isso com você. Por isso não te vi chegar ontem. E seu tio nem pra me contar. E esse Guilherme, hein? - Parece que ele se arrependeu mesmo.

- Ele é chato pra caramba, parece que fica me seguindo, tá em todo lugar. Vou para o meu quarto.

- Você não quer comer?

- Estou sem fome, depois.

- Você precisa se alimentar, assim não vai dar conta de suas apresentações.

Subo para o quarto e me jogo na cama. Meu celular vibra, e vejo que é uma mensagem de um número que não conheço. Abro a mensagem.

"Bella, desculpe ter sido inconveniente hoje, sei que forcei a barra. Sinto muito mesmo - Guilherme."

Mas como ele pegou meu número? E por que está sendo legal comigo? Não dei essa brecha para que ele se sentisse confortável comigo. Meu celular vibra, anunciando outra mensagem.

"Pedi o seu contato à Mari! :)"

Fico boquiaberta ao ler a última mensagem. Como Mariana pode? Nem sequer me perguntou se podia fazer isso.

Minha tia entra no quarto, tirando-me dos meus pensamentos sobre Mariana. Ela anda até a cama e senta.

- Isa, eu sei o quanto essas datas são difíceis para você. Até porque são muito próximas, mas já faz 16 anos. Não se martirize, tenho certeza de que seus pais têm muito orgulho de você.

- Sabe, tia, quando conheci o Maurício, ficou mais fácil passar por essa data. Ele sempre estava lá, inventando alguma coisa para que passasse de uma forma mais leve. Mas acabei perdendo ele também. Tudo isso ainda dói, como se tivesse acabado de acontecer.

- Um dia, minha querida, você irá encontrar alguém que te fará tão bem e feliz ao ponto de aliviar todas as suas dores, mas você precisa se abrir para isso e...

- Bem difícil, tia. Sempre que começo a conhecer alguém, minhas tragédias surgem, a Carolina surge, e as pessoas se afastam. Talvez seja melhor assim...

- Isa, não pense assim. Você é um amor de pessoa, mas precisa deixar que as pessoas te conheçam por completo. Saiba que sempre terá a mim e ao seu tio. Você também tem a Mariana e Heitor, e quem sabe esse Guilherme venha a se tornar um bom amigo para você.

- Pode parar, tia, credo. Deu até arrepios.

Decido ir comer alguma coisa e descansar, afinal, hoje terá uma apresentação para a qual treinei a semana toda. Posso faltar ao aquecimento desta tarde.

[...]

Acordo com o som de batidas, e a porta se abre devagar, revelando ser meu tio.

- Ah, você já acordou - ele se aproxima. - Você tem que levantar.

- Preciso mesmo? - cubro a cabeça com o lençol, e meu tio o puxa.

- Você não pode ficar assim sempre que essa data chega. - ele diz seriamente.

- Eu sei, tio, já vou levantar.

- Tudo bem, entendo sua dor, mas não pode se deixar abater. Te espero lá embaixo.

Após realizar minhas higienes e me trocar, desço para encontrar meu tio.

- Está pronta? - ele pergunta, e assinto. - Então vamos.

- Preparada para os saltos? - tia Raquel pergunta.

- Sempre - respondo com convicção.

- Isso, essa é nossa garota. - meu tio diz me abraçando.

Estávamos quase chegando ao CT quando meu tio diz:

- Isa, estava pensando em fazer algo diferente para você.

- Diferente como? - pergunto curiosa.

- Pensei em você formar uma dupla com um garoto, fazendo saltos sincronizados, dando aquele efeito de espelho. Pode ser uma garota também. Podemos fazer testes para avaliar quem se sai melhor com você. Quero algo surpreendente.

- Interessante a ideia, mas será que alguém consegue me acompanhar assim?

- Como disse, faremos uns testes para avaliar quem se encaixa melhor como sua dupla - ele reafirma.

- Tudo bem então.

AMOR SOBRE RODASOnde histórias criam vida. Descubra agora