CAPÍTULO 5

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- Talvez um dia eu te conte... Quem sabe...

- Não se preocupe, Isabella.

- Nunca compartilhei isso com ninguém, exceto com Mauricio. E mesmo assim, ele não ficou sabendo por mim. Minha tia foi quem contou a ele, e aos poucos, ele se aproximou de mim e eu por ele.

- Você pretende me contar?

- Eu disse "talvez".

- Tudo bem, esperarei por esse dia.

- Tudo o que aconteceu ainda está muito vivo em minha mente.

- Seu olhar entrega isso.

- Preciso ir. Tenho que tirar algumas fotos, e meu tio ficará chateado se eu não aparecer.

Em um impulso repentino, dou um beijo no rosto de Guilherme e me levanto. Em seguida, percebo o que acabei de fazer e saio apressadamente.

Ao longe, escuto os gritos de Mariana: "Albuquerque?" Chego correndo ao local onde as fotos costumam ser tiradas.

- Onde você estava? Todos estavam te esperando - ela reclama.

- Desculpe, Mari, acabei me distraindo.

- Você, distraída? Isso é novidade - ela ironiza.

- Eu precisava de um tempo, sabe que hoje não é um bom dia.

- Tudo bem, vamos, não temos muito tempo.

Sempre com o rosto coberto pelo capacete e óculos, tiro as fotos. São vários cliques, mas pelo menos não preciso me preocupar em sorrir. Estou cansada dessa atenção e também estou com fome. Estou pensando em como sair para comer algo, mas Heitor me chama para pegar a moto.

Estou sentada na minha moto, observando as arquibancadas lotadas, e percebo o quanto esse esporte tem crescido ultimamente.

- O que será que se passa nessa cabecinha? - Guilherme vira a cabeça na minha direção.

- O quê? - respondo, perdida.

- Você parecia muito distraída - ele comenta.

- Não, estava apenas observando.

- As pessoas adoram suas apresentações. Bom, vou me juntar ao público. Boa sorte.

- Não preciso de sorte, tenho talento - digo com um tom de deboche, e ele ri.

- É claro que não precisa.

Assim que Guilherme sai, Mariana se aproxima, sorrindo.

- Fizeram as pazes? - ela pergunta, sem saber que estou sorrindo.

- Ele me pediu desculpas. Não sei se foi por pena, quando me viu em frente ao túmulo dos meus pais.

- O que? Você contou?

- Quase. Ele foi ao cemitério me buscar, já que você estava ocupada, não é mesmo? Ele viu, mas não falei sobre o assunto. Disse que talvez contasse.

- Amiga, você não quer falar comigo sobre isso? Nunca conversamos sobre isso.

- Não agora. Mas uma hora conversamos.

- Você confia nele?

- Não sei, talvez.

Ouço meu nome ser anunciado e me despeço de Mariana, seguindo para a entrada da pista. Na maioria das vezes, sou eu quem faz o encerramento das apresentações. Hoje não será diferente.

No momento em que acelero, o mundo parece parar ao meu redor. Não há problemas, mágoas, dores ou frustrações. É apenas... Eu! Realizo minhas manobras de motocross com precisão e fluidez, voando pelos saltos, fazendo giros no ar e aterrissando com perfeição. Cada salto, cada manobra, é uma expressão da minha paixão e habilidade no esporte. Sou livre nas alturas, esquecendo temporariamente os fardos da vida enquanto vivo o momento presente no ar.

Ao encerrar minha apresentação, agradeço pelos aplausos e me retiro para a garagem.

- Foi perfeito! - escuto a voz de Heitor atrás de mim.

- Arrebentou, amiga! - me viro vendo Mari junto a Heitor.

- Obrigada - sorrio.

- Olha quem está vindo - Mari diz ao meu ouvido.

- Quem? - pergunto, enquanto ela me vira na direção, e acabo me chocando com o corpo de Guilherme.

- Cuidado, Bella - me afasto envergonhada.

- Deixa que eu termino de guardar sua moto - Heitor diz pegando-a.

- Eu te acompanho - Mari diz o seguindo.

Fico boquiaberta ao perceber o que eles estão fazendo.

- Você foi muito bem - Guilherme fala, chamando minha atenção, e me entrega uma rosa vermelha.

- Ah! Obrigada! - digo sem jeito ao receber a flor.

- Sabe, onde eu treinava, ouvia muito sobre o famoso Albuquerque - rio ao ouvir "o famoso". - Ninguém conhece seu rosto, mas todos falavam o quanto você é boa. Hoje foi a primeira vez que vi uma apresentação sua. Tive certeza do que falavam, e pelo visto você fez o mínimo no dia que nos conhecemos.

- Como assim nunca viu uma apresentação minha? Que audácia a sua! - ele ri.

- Me irritava saber o quanto o Albuquerque é bom, mas a vida brinca conosco, não é mesmo?

- É... brinca mesmo.

- Bella... - ele para de falar, e fico o encarando na expectativa de que continue. - Você... É... Bem...

- Ficou gago de repente? - ele ri.

- Você aceita tomar um drink comigo? - sou pega desprevenida.

- Ahn... - fico nervosa e ele sorri. - Tudo bem, não precisa responder agora - ele beija minha testa e se retira.

AMOR SOBRE RODASOnde histórias criam vida. Descubra agora