- Talvez um dia eu te conte... Quem sabe...
- Não se preocupe, Isabella.
- Nunca compartilhei isso com ninguém, exceto com Mauricio. E mesmo assim, ele não ficou sabendo por mim. Minha tia foi quem contou a ele, e aos poucos, ele se aproximou de mim e eu por ele.
- Você pretende me contar?
- Eu disse "talvez".
- Tudo bem, esperarei por esse dia.
- Tudo o que aconteceu ainda está muito vivo em minha mente.
- Seu olhar entrega isso.
- Preciso ir. Tenho que tirar algumas fotos, e meu tio ficará chateado se eu não aparecer.
Em um impulso repentino, dou um beijo no rosto de Guilherme e me levanto. Em seguida, percebo o que acabei de fazer e saio apressadamente.
Ao longe, escuto os gritos de Mariana: "Albuquerque?" Chego correndo ao local onde as fotos costumam ser tiradas.
- Onde você estava? Todos estavam te esperando - ela reclama.
- Desculpe, Mari, acabei me distraindo.
- Você, distraída? Isso é novidade - ela ironiza.
- Eu precisava de um tempo, sabe que hoje não é um bom dia.
- Tudo bem, vamos, não temos muito tempo.
Sempre com o rosto coberto pelo capacete e óculos, tiro as fotos. São vários cliques, mas pelo menos não preciso me preocupar em sorrir. Estou cansada dessa atenção e também estou com fome. Estou pensando em como sair para comer algo, mas Heitor me chama para pegar a moto.
Estou sentada na minha moto, observando as arquibancadas lotadas, e percebo o quanto esse esporte tem crescido ultimamente.
- O que será que se passa nessa cabecinha? - Guilherme vira a cabeça na minha direção.
- O quê? - respondo, perdida.
- Você parecia muito distraída - ele comenta.
- Não, estava apenas observando.
- As pessoas adoram suas apresentações. Bom, vou me juntar ao público. Boa sorte.
- Não preciso de sorte, tenho talento - digo com um tom de deboche, e ele ri.
- É claro que não precisa.
Assim que Guilherme sai, Mariana se aproxima, sorrindo.
- Fizeram as pazes? - ela pergunta, sem saber que estou sorrindo.
- Ele me pediu desculpas. Não sei se foi por pena, quando me viu em frente ao túmulo dos meus pais.
- O que? Você contou?
- Quase. Ele foi ao cemitério me buscar, já que você estava ocupada, não é mesmo? Ele viu, mas não falei sobre o assunto. Disse que talvez contasse.
- Amiga, você não quer falar comigo sobre isso? Nunca conversamos sobre isso.
- Não agora. Mas uma hora conversamos.
- Você confia nele?
- Não sei, talvez.
Ouço meu nome ser anunciado e me despeço de Mariana, seguindo para a entrada da pista. Na maioria das vezes, sou eu quem faz o encerramento das apresentações. Hoje não será diferente.
No momento em que acelero, o mundo parece parar ao meu redor. Não há problemas, mágoas, dores ou frustrações. É apenas... Eu! Realizo minhas manobras de motocross com precisão e fluidez, voando pelos saltos, fazendo giros no ar e aterrissando com perfeição. Cada salto, cada manobra, é uma expressão da minha paixão e habilidade no esporte. Sou livre nas alturas, esquecendo temporariamente os fardos da vida enquanto vivo o momento presente no ar.
Ao encerrar minha apresentação, agradeço pelos aplausos e me retiro para a garagem.
- Foi perfeito! - escuto a voz de Heitor atrás de mim.
- Arrebentou, amiga! - me viro vendo Mari junto a Heitor.
- Obrigada - sorrio.
- Olha quem está vindo - Mari diz ao meu ouvido.
- Quem? - pergunto, enquanto ela me vira na direção, e acabo me chocando com o corpo de Guilherme.
- Cuidado, Bella - me afasto envergonhada.
- Deixa que eu termino de guardar sua moto - Heitor diz pegando-a.
- Eu te acompanho - Mari diz o seguindo.
Fico boquiaberta ao perceber o que eles estão fazendo.
- Você foi muito bem - Guilherme fala, chamando minha atenção, e me entrega uma rosa vermelha.
- Ah! Obrigada! - digo sem jeito ao receber a flor.
- Sabe, onde eu treinava, ouvia muito sobre o famoso Albuquerque - rio ao ouvir "o famoso". - Ninguém conhece seu rosto, mas todos falavam o quanto você é boa. Hoje foi a primeira vez que vi uma apresentação sua. Tive certeza do que falavam, e pelo visto você fez o mínimo no dia que nos conhecemos.
- Como assim nunca viu uma apresentação minha? Que audácia a sua! - ele ri.
- Me irritava saber o quanto o Albuquerque é bom, mas a vida brinca conosco, não é mesmo?
- É... brinca mesmo.
- Bella... - ele para de falar, e fico o encarando na expectativa de que continue. - Você... É... Bem...
- Ficou gago de repente? - ele ri.
- Você aceita tomar um drink comigo? - sou pega desprevenida.
- Ahn... - fico nervosa e ele sorri. - Tudo bem, não precisa responder agora - ele beija minha testa e se retira.
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AMOR SOBRE RODAS
RomanceIsabella mora com seus tios desde os oito anos, ela tem um passado doloroso e não gosta de falar sobre, devido isso se tornou uma pessoa fria e com uma personalidade difícil de lidar. Mal sabia que alguém chegaria para quebrar sua armadura. Guilherm...