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Canterlot High School. Cidade de Canterlot.

Essas tristezas antigas renovam-se,
tornando-se novas.

Os ossos latejavam. Meu corpo não consegue se curvar sem direcionar pontadas à cabeça, ocupando a vista escurecida com feixes estrelares.

A dor está trucidante. Gemi algumas zilhões de vezes. Minha única certeza era a de estar surpreendentemente viva após mergulhar no espelho onde tive meus órgãos achatados e empurrados na direção de um cano.

Sunset não pode estar em uma situação melhor. Acreditando nisso, mantive os olhos fechados e o corpo imóvel por um período incalculável, eventualmente adormecendo.

Despertei com a sensação de estar recebendo indiscriminadas compressões no cérebro. Grunhi, franzindo a testa. Me esforcei para abrir os olhos somente para fechá-los novamente. A visão revirou em conjunto ao corpo, respondendo à dor.

Pelas barbas de Starswirl — xinguei, torcendo o nariz assim que o péssimo hálito me atingiu. Fome.

Quando a consciência se estabeleceu, ruminei: Estou viva, logo, o espelho é um teletransportador de alguma natureza. Considerando a sua avançada técnica mágica, Sunset poderia ter desenvolvido um que a levasse para uma ala menos vigiada, constituindo o atalho de fuga perfeito.

Se for isso, é tarde demais. Fecho os olhos, sentindo muita raiva. É muito tarde.

As orbes se abriram novamente em um rompante. Se fosse tão simples, as princesas não hesitariam em nos perseguir, correto? Afinal, quem em Equestria conhece mais sobre magia do que Celestia e Cadance? Elas devem ter identificado a matéria daquela névoa em questão de milissegundos e, mesmo assim, não haviam vindo atrás de nós. Concedo a minha visão à escuridão outra vez. Então, não é tão simples assim.

Fora que um teletransportador qualquer não teria partido os meus ossos ao meio dessa forma, ou teria? Choraminguei. Se isso for um indicativo, eu estou muito, muito, muito longe de Equestria.

— Você perdeu o juízo, caipira?!

Engulo um grito ao ouvir um inesperado estrondo acompanhar aquele tom raivoso. Parecia que alguém havia sido arremessado em alumínio.

— Seus últimos meses não lhe ensinaram a não se intrometer nos negócios alheios? — ela continua.

Minhas mãos percorreram o chão, o apalpando até encontrar uma parede. A esfrego, mas não encontro nenhuma saída. Tento me aproximar do barulho, mas os tijolos amontoados constituíam uma barreira entre mim e o mundo.

Estou em um limbo?!

Meus batimentos entram em descompasso.

— Aquela garota conversa com animais, Applejack — meus olhos esbugalham e eu me desespero inutilmente à procura de uma saída — Acha mesmo que vale a pena arriscar a sua reputação, que caminha em pernas bambas, em prol da valentia de ser a heroína? Não tem medo de que eu te destrua por se meter no meu caminho? Não seria a primeira vez. Não seja estúpida de repetir o erro.

— Prefiro que brigue com alguém do seu tamanho, Shimmer — ouço a resposta de Applejack, o que me confunde. Era a mesma entonação, mas suas palavras estavam polidas. Não havia vestígios de seu sotaque interiorizado — Fluttershy pode não querer lhe fazer algum mal, mas eu quero.

Um riso seco ecoa, seguido de outro estrondo em alumínio. Era tão próximo de mim que eu poderia jurar ter ouvido um trincar de dentes.

Me livrei do apoio da parede, suportando as contrações musculares conseguintes. Preciso encontrar uma saída. Tento invocar minha magia, sem sucesso. Quem era Shimmer? Tentei resgatar à memória, mas nunca haviam a mencionado.

Em Chamas [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora