1.1.2

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Canterlot High School. Cidade de Canterlot.

No labirinto, você encontrará
não apenas seu inimigo,
mas a si mesmo.

Em minha perspectiva, a cerimônia de coroação era longa. Especialmente se eu não estivesse autorizada a abandonar o palco dramaticamente nos primeiros segundos. A vencedora aguardou que os alunos se acalmassem a sós, se preocupando em agradecer a todos que compunham o palco: os assistentes, Celestia e até a mim, que me encontrei com o seu abraço ainda em catatonia.

Um completo fracasso. É o que sou.

Quando os ânimos finalmente se acalmaram, o seu discurso emergiu longo, diplomático e, por vezes, descontraído, findando-se com fotografias e rituais tradicionais. O último deles e o mais recente estava prestes a ocorrer: Com luvas, os assistentes seguraram os cristais foscos, pobres em magia, de minha coroa. Meu corpo se remexeu, temendo que a pedraria se alimentasse de sua pele mágica, considerando a Equestriana fidedigna que era.

Prendi a respiração assim que a posicionaram em seu couro cabeludo, suportando os aplausos e assobios. Nada ocorreu. Nem um mísero estalo de magia escapou. Pisco, confusa entre sentir alívio e estranheza. Se a magia da coroa se intimida, como retornarei? Shimmer se afastou dos assistentes, sorrindo e acenando para os registros. Ela estava deslumbrante. Seus cabelos flamejavam, deixando o seu rosto ainda mais afiado, amadurecido.

O backstage parecia tão agitado quanto a minha mente, confusa entre me desferir xingamentos, recalcular a rota (como?!) e me acalmar, considerando que talvez o que Sunset havia dito fosse verídico: Ela não quer a magia. Não sei por quanto tempo permaneci naquele looping, mas despertei quando o motivo para o alvoroço nos bastidores emergiu: um vulto nos transpassou. Ágil, encorpou a coroa em suas mãos e disparou.

Revivendo aquela cena, a minha resposta corporal foi persegui-lo sem questionamentos. O capuz se driblou por detrás do palco, onde havia uma menor circulação de pessoas. Déjà vu infernal, xinguei.

Elegante, o seu figurino fazia com que a sua corrida se assemelhasse a uma dança: Seu capuz era médio, o suficiente para que não soubéssemos definir a sua silhueta, mas impossível de ser agarrado, o que me permitiria capturá-lo. Era tão bem feito, que o meu cérebro passou a liberar hormônios atrelados à calmaria em vez do medo: Ficaria tudo bem, ainda que eu não saiba como.

Nos esgueiramos por debaixo do palco que antes ocupávamos, apenas ouvindo os passos pesados no salão acima de nós, que corriam sem propósito, sem sequer desconfiar que estávamos abaixo de seus pés, driblando caixas empoleiradas o mais rápido possível. Ao alcançarmos as paredes, o vulto chutou um tapume, alcançando o ar livre com muito propósito. Lá, pisoteou as plantações dos ecológicos a caminho da marcação de fronteira entre as dependências de Canterlot High e o início da vasta Everfree. Me apressei, mas os seus passos logo estagnaram. O ferro da coroa quase perfurou a minha barriga quando voei em seu corpo pacífico.

A agarro, incrédula.

As mãos, que tateavam o capuz, escorregaram pelas golas, encontrando um zíper. A revelada pele pálida contrastou com seu esmalte refinado, me deixando de queixo caído. A revelação de seu rosto não me impressionou mais do que a sua coloração.

— Rarity — minha entonação está grave.

— Não te procurarão aqui. Corra na vertical até o amanhecer, sem descansar muito. Se afaste o máximo possível, mas sem se aprofundar na floresta. Não corra na horizontal ou acabará se perdendo. Suma com isso. Está entendendo?

Em Chamas [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora