Em Chamas [Livro 1]

1.6

Canterlot High School. Cidade de Canterlot.

Ou usamos a violência, o que é fatal,
ou usamos o controle, que deixa cicatrizes.

Havia duas opções para permanecer ilesa àquele incidente: Me escorar em um ponto-cego para ouvi-las ou realizar uma meia-volta.

O meu ódio optou pela opção excedente e escandalosa: Socar um dos armários, reverberando um barulho que as convencessem de se afastar. As encaro furiosamente, esperando que alguma delas se pronunciasse. A garota ruiva tratou de dar alguns passos a frente, despejando o seu veneno:

— O assunto resolveu revelar a face — Sunset assobiou, demonstrando muita preguiça em estabelecer um diálogo comigo.

Assunto? Semicerrei o olhar.

— Interessante ouvir isso quando as responsáveis por Canterlot High se importar tanto com a minha vida estão à minha frente. E então: Satisfeitas?

Meus braços se cruzam e Sunset institui um largo sorriso, parecendo achar graça de minha expressão corporal. Seus passos em minha direção ressoam como um rastejar. A altura da ruiva em relação à minha era terrivelmente intimidadora.

— Não parece perturbada — seu tom se acalma, soando tão plácido quanto no dia em que roubou a coroa. Exceto que, dessa vez, sua entonação não parecia natural — Não te incomodou? As pessoas não propagam mais seus preconceitos no lugar de onde você vêm? Isso me surpreende.

Uma vez que denunciava a discriminação inerente ao ambiente elitizado da Escola de Altas Habilidades Mágicas, não sobravam brechas para que não tivesse a frequentado. Me irritou que Shimmer não demonstrasse o mínimo temor em entregar uma informação como essa ao inimigo.

Sinto a minha confiança ser esfaqueada brutalmente, restando apenas o amargor. Sunset reconhece e zomba da minha abissal desvantagem, acatando o meu silêncio e prosseguindo o seu discurso com um sorriso no rosto:

— Com essa pequena calúnia, apenas quis te alertar sobre a sua ousadia em se vincular a essa instituição. Pelo bem da sua integridade, espero que isto tenha sido demonstração suficiente de que tenho a opinião deles em minhas mãos. Controlo o quanto te amam e o quanto te odeiam. Se quiser sobreviver aqui, não banque a esperta.

Nego com a cabeça de imediato. Eu não me rebaixaria ao ponto de engolir os seus ataques.

— O elemento da magia retornará à Equestria. Pode estourar minha cabeça contra a parede, Shimmer. À você, só recuarei morta — sussurrei ainda mais baixo do que seu tom de voz. Não desejo que Rarity compreenda uma única vírgula — Suas ameaças sempre serão vazias. Não pode me atingir quando não tenho nada a perder.

Faíscas escapam de seu olhar quando seu riso se torna engessado. O controle que lhe restou direcionou os seus pés na direção do corredor.

— Tem razão. Falhar no autoconhecimento lhe será fatal. Você não é insensível o suficiente, Twilight.

Ela alegou antes de se retirar, convicta de que eu não me moveria para replicá-la. Com o seu calor se fazendo distante, eu não tinha a sensação de ter ganho aquela discussão. Como se, com ela, não pudesse ser diferente: sempre sairíamos perdendo.

Não é possível escapar de sua órbita. Ao ocupar o mesmo ambiente que Sunset Shimmer, sempre haverá um filete de sangue a ser deixado para trás.

— Acabou de marcar um encontro entre o seu ponto mais fraco e Sunset Shimmer. Parabéns!

Rarity ousou se pronunciar pela primeira vez, em uma tonalidade descontraída, recebendo o meu riso seco como resposta. Não acredito nisso.

— Você tem bastante coragem, não é? Uma pena que venha acompanhada de tão pouco bom senso. Não se dirija a mim como se fôssemos amigas.