Interlúdio: Reconciliação

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Narrado
por Applejack.

Enquanto Twilight regurgita...

Sanctuaire de la Faune.
Petshop dos Breeze.
Cidade de Canterlot.

Não há remédio melhor para a dor
do que o tempo, o perdão e o amor.

O sino tiniu logo que adentrei ao local. Escolhi pisar no carpete com o máximo de cuidado possível, como se a minha presença pudesse não ser notada em um horário de pouco movimento.

Fluttershy estava de costas, colando mais um comunicado sobre um projeto de extensão de Canterlot High, contribuindo com a poluição visual que a loja naturalmente propagava.

— É genial — admiti com o corpo posicionado atrás do seu, conseguindo ler o informativo sem que a pequena miopia me prejudicasse — O Clube de Teatro está convidado? São três dias. Vocês poderiam liberar a nossa entrada em algum deles.

A garota gira, me encarando pasma. Seus lábios pigmentados desgrudam e o olhar cintila. Meu peito implora para ser rasgado. O que eu faço?

— A abertura com a Corrida Ecológica é muito agressiva para o meu estilo de vida sedentário. Se eu for, acho que corre o risco de vocês esgotarem com o restante da água potável do mundo — a ouço rir, mas não havia sido do meu trocadilho porco. Seu riso era incrédulo, prostrando o medo em minhas costas — O dia do encerramento até me interessaria, geralmente adoro festas, mas nós realmente precisamos jogar esportes enquanto plantamos árvores? Prefiro algo mais ilegal.

Agora, seu riso foi genuíno.

— Escolho o segundo dia. Nem fim, nem começo. Contínuo. O bonde andando. Além de que canoagem seria uma experiência totalmente nova, especialmente quando há redes amarradas em nossos remos. É a ideia mais genial de coleta de lixo que já presenciei. O meu espírito competitivo faria com que a dupla vencesse com o maior número de quilos resgatados do fundo do rio.

Eu não possuía sequer um amigo para formar uma dupla. Falava qualquer coisa desesperadamente, esperando que Fluttershy finalmente quisesse me responder. Quando ela finalmente quis, soltei o ar que inconscientemente havia prendido.

— Applejack... O quê faz aqui?

É a pergunta do milhão. Nem eu sei.

Para ser sincera, sequer ensaiei. Cheguei até aqui movida pela minha extrema impulsividade, como sempre fiz. Dessa vez, bastou que uma desconhecida bizarra me impulsionasse para que eu fizesse o que estava martelando em meu peito.

Queria ver Fluttershy. Queria ouvi-la. Senti-la. Qualquer coisa que envolvesse os seus olhos em mim, raivosos ou amorosos. Eu precisava saber se ainda havia alguma chance para a nossa amizade.

— Vim conversar — enuncio. Ao não receber uma resposta rápida, coço a garganta — Não sei como isso vai acabar, mas eu gostaria de te ouvir. E, talvez, se quiser, que me ouvisse.

— Eu aceito — responde indubitavelmente, sem maiores questionamentos. Assinto devagar, sem graça, e seus passos se endireitam aos fundos da loja. A sigo timidamente, reconhecendo o caminho.

Subimos a escada em espiral, alcançando o topo do sobrado. Improvisada acima do negócio da família, a casa de Fluttershy era simples. Os móveis se mesclam entre marrom e verde, posicionados próximos demais e resguardando inúmeros pelos e penas. A saturação visual não era muito diferente da loja: Sua família ama adornar demais.

Torci o nariz, seguindo-a até a porta que estampava um símbolo da paz. Bastavam dois passos para que meus pés esbarrassem na cama de casal, onde o coelho de Fluttershy saltitou na minha direção. Ergo o polegar, acariciando o vão entre seus olhos.

Em Chamas [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora