1.4

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Canterlot High School. Cidade de Canterlot.

O medo pode fazer com que
as pessoas cometam atos terríveis.
Não há virtude em servir aqueles
que planejam a maldade.

Após a resolução de uma dezena de simulados, com direito à consulta da pilha de livros de educação fundamental, me arrisquei em realizar o número décimo quinto embriagada de cafeína, uma bebida que a bibliotecária havia me apresentado. Sem direito à pesca, era chegada a hora de testar o conhecimento adquirido naquela madrugada.

Com o passar das horas, os fracos raios de sóis preencheram o ambiente, fazendo com que as luzes artificiais fossem desligadas. Quando terminei de contabilizar o último acerto, o local já estava relativamente cheio de estudantes. O cálculo da porcentagem final foi a parte mais rápida. As lágrimas caíam antes mesmo de encerrá-lo.

74,66%.

A aprovação depende de 95%.

Arranquei um pedaço do meu lábio ao mordê-lo com mágoa. Não haveria afago que resolvesse. Os soluços eram altos e refletiam muito mais do que o meu fracasso naquela avaliação. Aquele mar de água salgada eram o fracasso em sua totalidade.

Tombei a cabeça para trás quando o ar me faltou, o sugando pela boca mutilada. Não poderia piorar. Tem como piorar? Permaneci naquela posição fetal por uma hora, observando as pessoas saírem e entrarem. O local enchia cada vez mais, ao ponto da movimentação ficar estranha.

Alguns entravam agitados, seus olhos entregavam que procuravam por algo em específico, se acalmando ao encarar os meus, chorosos. Era quando se sentiam envergonhados e desviavam. Eles não se demoravam no recinto, se retirando.

A situação havia ficando tão incômoda que, para me desvincular dela, eu havia até mesmo voltado a folhear o livro de química. A minha mente foi facilmente distraída pela realidade: Apesar de ser doloroso, não me existiam outras opções além de tentar exaustivamente.

Sendo assim, quando a cadeira à minha frente rasgou o chão, acomodando uma cabeleira tão multicolorida que desbotava em alguns pontos, eu já me encontrava relendo os infinitos valores. A sua abordagem direcionada me assombrou: O que Rainbow Dash precisaria justo comigo?

— Olá — Rainbow se pronuncia. Assinto em concordância, como se o cuidado estar tão embalado em sua entonação fosse uma pergunta.

— Sim? — fungo, enxugando meus olhos com brutalidade. Ela se mantém em silêncio, esperando que eu terminasse para prosseguir.

— Planejava te questionar sobre algo, mas... — aponta com o queixo, indicando o meu pós-choro.

— Sobre o quê? — a encaro cansada, o olhar caído.

Preciso de mais café.

Sua expressão permanece intacta, apenas o seu olhar que se arrasta pela mesa, descansando no papel por segundos longos. Seus dedos calejados serpenteiam pela madeira, alcançando o simulado, onde o cálculo da porcentagem estava circulado. A colorida o folheou com um cuidado viciante, como se segurasse algo extremamente delicado.

Ela permanecia inabalável na tarefa, me fazendo constatar que as Leis da Física eram parecidas nesse mundo, mas algo muito mais improvável se transparecia: As Dash's eram diferentes.

Aquela versão introspectiva da futura-namorada-da-garota-que-eu-talvez-gostasse-e-que-por-coincidência-era-a-minha-melhor-amiga-em-Equestria era impressionante mesmo mediante lágrimas, cansaço e frustração.

Fechei os olhos, me encostando na cadeira. Permiti que meu peito doesse, sentindo uma falta tremenda de minhas companhias de aventuras. Elas saberiam exatamente o que fazer.

Em Chamas [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora