15. Your sister splashed out on the bottle [E]

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[Alerta de gatilho: violência doméstica e infantil e bullying por homofobia]
(N/A: Chegou o dia do "pijaminha", quem já leu no twitter, sabe.)

O quão precioso é o sonho de uma criança, com flores e brinquedos, bichos de pelúcia e brincadeiras sob o sol que cintilava em sua pele delicada? Um tesouro que o pequeno Pete nunca havia alcançado, mesmo que tentasse fechar seus olhos com tanta força que suas pálpebras formavam rugas em seu rostinho infantil.

    Suas mãos cobriam seus ouvidos todas as noites e encolhido debaixo das suas cobertas, ele sussurrava um truque antigo que sua querida avó havia lhe contado.

— Um carneirinho, dois carneirinhos, três carneirinhos...

    Ele contava com a voz trêmula como uma chama, chama essa que queimava no andar de baixo e fazia as paredes finas da casa ecoarem e dançarem como um terremoto.

    Pete não sabia ver as horas, mas o relógio do corredor já passava do horário em que crianças não deveriam estar acordadas. Porém, que culpa o garoto que não podia sonhar tinha se a voz feroz de seu pai rugiu por toda a casa?

    Ele acordava como se não estivesse dormindo, seu sono vazio era leve como uma pena, seu corpo estava sempre em alerta.

    Logo ele ouviu estrondos altos como bombardeios, a cada objeto que seu pai lançava contra todos os cantos inatento a quais alvos ele poderia acertar.

    O coração no peito de Pete batia forte e acelerado e ele mal conseguia respirar com a cabeça coberta, arrependido de ter pedido para sua mãe deixar uma pequena brecha da porta aberta para que ele não tivesse medo de ir ao banheiro se precisasse, sendo guiado pela fresta de luz no corredor e mesmo assim tremia só de pensar em se levantar para fechá-la.

    Por isso ele pensou que talvez se estivesse dormindo, o bicho-papão o deixaria em paz só daquela vez. Então ele ninou-se com desespero e esperou, mas nada do sono vir abraçá-lo e conceder a dádiva de ir para o mundo dos sonhos.

    De repente silêncio, tanto que ele achou que estava dormindo porque não havia gritos de seu pai e lamúrias de sua mãe e ainda que fosse muito jovem, Pete sabia que não existia tal possibilidade em um mundo que não fosse fantasia.

    Suavizou o aperto em seus olhos lentamente, sem coragem para abri-los de vez. Esperou mais um pouco até decidir ver que mundo o esperava, mas assim que abriu os olhos a coberta foi puxada de cima dele revelando a figura de seu pai agachada sobre seu corpo minúsculo.

    Congelado em puro medo, seus olhos se arregalaram e suas pernas pesaram como toneladas de aço, sua mente o dizia para correr e gritar, mas Pete sabia que nada daquilo daria certo.

— Seu bostinha, por que você não está dormindo, hm?

    O homem o agarrou pela camisa do pijama de dinossauros que ele havia ganhado no dia anterior e o arrastou para fora do quarto como se ele não pesasse nada – e de fato, não pesava.

    Pete tentou travar seus pés no chão sem sucesso, o caminho até a sala no andar de baixo demonstrando o quanto aquela casa era horrenda marcada por anos de fúria em cada centímetro do lugar.

    Os porta-retratos nas paredes eram tortos e quebrados, o papel de parede estava rasgado, a escada rangia toda vez que alguém subia ou descia e o corrimão estava bambo, quase não haviam mais copos e pratos restantes e o tapete tinha uma mancha vermelha irritante que nunca saía, não importava o quanto esfregasse.

    Lembretes de todas as vezes em que Pete e sua mãe haviam sido um alívio para a mente perturbada de um homem viciado, que tentava libertar seus demônios nas marcas que deixava naqueles que um dia havia dito que amava.

CHAMPAGNE PROBLEMS | VEGASPETEOnde histórias criam vida. Descubra agora