Amor

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POV: Anong.

Amor.

Uma palavra tão pequena que carrega tanto significado. Alguns acreditam ser o sentido da nossa existência, outros acreditam ser uma ilusão criada por agentes químicos dentro de nossos corpos. Eu, porém, já não sei o que penso sobre o assunto.

É curioso pensar que o meu trabalho depende que existam pessoas que acreditam profundamente na ideia de romance e na força de um grande amor. E que esse mesmo trabalho é o que me impede de descobrir por mim mesma se tal força avassaladora realmente existe. Irônico, não?

Minha última paixão aconteceu faz tanto tempo que eu honestamente não sei dizer se foi amor ou apenas uma ilusão induzida por hormônios. Eu me lembro dela com carinho, minha única ex namorada, com quem estive por 3 anos, é até hoje uma pessoa muito querida pra mim e uma grande amiga. Mas isso foi antes da minha carreira decolar, antes de eu ser engolida pelo universo dos dramas GL que giram em torno daquilo que eu não posso ter.

Você deve estar se perguntando por que o meu trabalho faz com que seja impossível que eu tenha um relacionamento amoroso. É simples. Protagonizar um GL envolve fazer fanservice fora de cena com a minha co-star, o que automaticamente nos transforma em um "ship".

Estar em um ship dentro dessa indústria é quase como estar em um casamento, existe um contrato e uma responsabilidade para com a outra. A diferença é que nesse "casamento" todo o fandom é como nossos filhos, filhos que podem passar a te odiar da noite pro dia caso haja uma separação. É complicado para se dizer o mínimo.

"E se eu me apaixonasse pela minha co-star?" Você me pergunta. Bem, digamos que eu venha a me apaixonar pela minha co-star, o que não é algo garantido, porque sentimentos não podem ser forçados, mas digamos que por algum milagre isso aconteça. O que acontece se brigarmos? Casais discutem, se desentendem. Como eu poderia colocar minha carreira em risco dessa maneira? Como eu poderia ter um relacionamento com toda essa pressão sobre ele? Seria um pesadelo.

"Mas o que te impede de se envolver com alguém fora da indústria?" É a sua próxima pergunta, certo? Você se envolveria com uma pessoa que além de não ter tempo pra você porque tem uma agenda ocupada, ainda passa a maior parte do tempo na companhia de uma atriz de uma beleza exuberante trocando carinhos e dividindo momentos fofos na frente das câmeras? Isso sem mencionar a atuação em si, as cenas de sexo repletas de beijos e olhares apaixonados. Como você se sentiria ao ver as fotos dos ensaios sensuais da sua namorada com essa atriz linda espalhadas pela internet? As compilações de momentos fofos feitas por fãs? Bom, acho que eu não preciso dizer mais nada.

Minha co-star se chama Chalita e o nosso ship se chama "Chanong". Nós duas já trabalhamos juntas em dois projetos antes e estamos prestes a gravar o terceiro. Ela é extremamente profissional e eu agradeço por isso. Apesar de nossa relação ser estritamente profissional, existe um nível de cumplicidade porque ela é uma das únicas pessoas no mundo que sabe na pele como eu me sinto, porque ela também se encontra na mesma situação, e eu aprecio isso.

Chalita é uma atriz extremamente talentosa e de uma beleza exuberante. Seus lábios são cheios e rosados, seu sorriso é encantador, os traços de seu rosto são delicados, sua pele parece porcelana e seu corpo é magro e esculpido. Não é à toa que nós duas formamos um casal lindo. Ela com seu jeito delicado e gracioso faz um par perfeito com minha energia dominante.

Nosso próximo projeto juntas foi escrito com o propósito de realçar esses arquétipos que ambas representamos. É uma história sobre uma pop star que se apaixona por sua guarda costas. Obviamente eu farei o papel da guarda costas e ela será a pop star. A série se chamará " Keep my heart safe".

Estamos as duas nesse momento em uma entrevista com a imprensa sobre o lançamento desse novo projeto. Ela usa um vestido azul longo que realça sua pele clara, um salto delicado que a deixa quase da minha altura, um colar de prata com um pingente azul que combina com seu vestido, seus longos cabelos negros soltos caindo em cascata sobre seus ombros desnudos e sua clavícula. Eu visto uma calça de alfaiataria preta com um cinto de couro e fivela prata, botas de couro com um salto baixo, uma camisa social preta com os botões abertos do colarinho até a linha do meu sutiã, formando um decote generoso, uma fina corrente de prata orna meu pescoço, um Rolex feminino se faz visível ao fim da manga dobrada da camisa, um anel também de prata no meu dedo indicador. Uso meus cabelos penteados para trás com uma camada leve de gel que traz um aspecto de cabelo molhado emoldurando meu rosto e a linha da minha mandíbula e um par de óculos escuros repousam no topo da minha cabeça compondo o conjunto de acessórios.

Chalita está de pé ao meu lado e repousa a cabeça no meu ombro enquanto minha mão (que é quase duas vezes maior que a dela) rodeia sua cintura de forma possessiva. Flashes vindos de todas as direções na intenção de capturar a imagem que formamos juntas. Sim, nós somos um casal exuberante. As perguntas, como sempre, são as mais inapropriadas possíveis, mas nós estamos acostumadas a essa altura. Quando as perguntas se encerram, nós agradecemos a presença de todos e principalmente das fãs que compõe 90% das pessoas presentes no auditório em que estamos.

Chalita se aproxima de mim e sussurra ao meu ouvido.

- Pronta pra dar a elas o que elas querem?

O simples ato de sussurrar algo ao meu ouvido já foi o suficiente para arrancar gritos da plateia e para que todos os celulares estivessem apontados em nossa direção. Mas o show estava apenas começando. Uma colega de elenco que também está presente no palco, Kittiya, mais popularmente conhecida como Kitty, se aproxima de nós para nos cumprimentar. Ela já trabalhou conosco em um projeto anterior e interpretou minha rival, competindo pelo coração da personagem de Chalita. Naturalmente as fãs trazem isso pra fora das telas e antagonizam todas as interações entre as duas, perfeito.

Eu não preciso explicar para Chalita o que ela precisa fazer, nós duas estamos nessa estrada a tempo suficiente pra que ela saiba exatamente o que eu estou pensando. Ela se aproxima de Kitty e a cumprimenta educadamente com um abraço. Kitty entende o que estamos fazendo e entra na brincadeira, colocando sua mão em volta da cintura de Chalita. Eu me aproximo para cumprimentar Kitty também, mas com uma certa agressividade proposital. Após cumprimenta-la com um meio abraço engessado (propositalmente) eu aproveito a proximidade para discretamente afastar sua mão da cintura de Chalita e a substituir com a minha, puxando com força seu corpo em minha direção, até que ela ela esteja de frente pra mim com ambas as mãos em volta do meu pescoço delicadamente enquanto as minhas ainda seguram sua cintura com firmeza.

Ela me olha com um sorriso divertido no rosto que pode ser interpretado por quem nos assiste como um sorriso apaixonado, ela sempre se diverte quando fazemos ceninhas desse tipo. Chalita finaliza com um beijo casto em minha bochecha enquanto eu finjo surpresa pela demonstração pública de afeto. Não tiro meus olhos dela, mas consigo perceber com a minha visão periférica o alvoroço ao nosso redor. Bom, se queríamos gerar buzz para essa nova série, acho que conseguimos.

Como eu disse, Chalita é uma excelente atriz e eu sou grata por tê-la como minha parceira. 

A Assistente: O amor pode estar aonde você menos espera.Onde histórias criam vida. Descubra agora