Gentleman

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POV: Chaisee

Me surpreendo ao olhar dentro da muda de roupas que Anong me deu. Entre a blusa de moletom e a calça, está uma calcinha da Calvin Klein em uma embalagem fechada como se vinda direto da loja. Eu reconheço essa peça. Duas semanas atrás ela recebeu um pacote da marca com vários itens de presente e isso estava incluso. Eu sei disso porque, como sua assistente, quem informou seu endereço para os representantes da marca fui eu.

Lembro de na época, ela comentar que um dos itens que recebeu tinha uma numeração menor que a dela e que se eu quisesse ficar com o tal item, eu poderia levar comigo. Mas minha timidez nunca me permitiu aceitar e eu apenas disse que buscaria a tal calcinha um outro dia. Eu simplesmente não consigo acreditar que ela teve o cuidado de colocar isso aqui.

Ao sair do banho, vejo que Anong ainda está em seu quarto, imagino que se arrumando pra sair. Então decido preparar uma jarra de café na cafeteira. Por mais que já seja hora do almoço, eu sei bem que ela é viciada em café e vai ficar com dor de cabeça mais tarde se não tomar um pouco agora.

Sirvo a bebida em uma caneca e adoço com a quantidade exata de açúcar que ela gosta. Vou até seu quarto, bato na porta e espero ser convidada a entrar no cômodo.

- Entra. - Eu abro a porta entrando no quarto. - Huum, cheirinho bom de café. - Ela celebra com uma carinha fofa.

Anong veste uma calça jeans e uma blusa de moletom preta. Um relógio se faz visível abaixo da manga do moletom que está levantada na altura de seus cotovelos. Anéis de diversos tipos e uma pulseira de corrente ornam suas lindas mãos, seu cabelo está penteado para trás e um par de óculos de sol descansa no topo de sua cabeça. Como é que essa mulher consegue ser tão linda com roupas tão casuais? É um mistério pra mim.

Ela está finalizando sua maquiagem e quando me vê lhe estendendo a caneca de café, sorri em agradecimento, tomando a caneca em suas mãos e sorvendo a bebida.

- Nossa, tá perfeito. Obrigada. - Diz se referindo ao café que eu fiz. Anong então repara em meu rosto e fala. - Você tá usando alguma maquiagem?

- Ah, não. Eu não me maquiei ainda. - Eu poderia ter me maquiado, carrego meu estojo de maquiagem na bolsa, mas é que eu preferi ir fazer o café primeiro.

- A sua pele é linda. - Ela diz impressionada.

- Eu vou tentar não me ofender com o seu tom de surpresa. - Digo brincando. E pela primeira vez, vejo o rosto de Anong corar. Ela se recompõe rapidamente e me chama com um gesto de mão.

- Posso? - Diz evidenciando o pó compacto em suas mãos perguntando se pode fazer a minha maquiagem. Eu aceno que sim.

Anong corre as pontas de seus dedos delicadamente pelas mechas do meu cabelo na intenção de afastá-las do meu rosto e colocá-las atrás das minhas orelhas. Seu toque gentil me provoca arrepios. Ela então começa a me maquiar e sua atenção direta em meu rosto e a proximidade em que estamos me deixa nervosa. Ela me maquia como se estivesse pintando um quadro com pinceladas sutis e delicadas. Ao terminar de passar o batom em meus lábios, ela desliza o polegar abaixo de meu lábio inferior para limpar o excesso de batom e eu posso jurar que seu olhar fixo em meus lábios é sedento de desejo. Porém, eu sei que isso é só minha ilusão alimentada por meus sentimentos falando e que na realidade ela está apenas focada no que faz.

Eu preciso superar essa paixão ou vou enlouquecer.

...

Todas as pessoas têm atrações peculiares. O que eu quero dizer com isso é que existem cenários ou situações cotidianas que são extremamente atraentes para algumas pessoas, enquanto extremamente insignificante para outras. Atração é uma coisa difícil de se explicar.

Eu não sei por qual motivo, mas sempre achei que as pessoas ficam mais atraentes dirigindo, principalmente mulheres que carregam uma forte energia dominante. Anong definitivamente se encaixa nessa categoria. Eu simplesmente não consigo desviar meu olhar dela enquanto ela dirige com tanta habilidade. Só posso dizer uma coisa, ainda bem que estou usando calcinha, afinal.

Me atrapalho um pouco para remover meu cinto de segurança quando paramos, porque carrego minha mochila comigo no colo (já que Anong vai me deixar em casa depois do almoço). Não sei se porque eu demorei demais, ou se simplesmente por educação, mas ela abre a porta do carro pra mim.

Enquanto caminhamos pelo estacionamento, Anong de repente segura minha cintura com firmeza, me impedindo de continuar andando. Um segundo depois, me assusto com um carro que eu não havia visto se aproximar, passando bem na minha frente. Deixo escapar uma risada nervosa e ela apenas ri da minha cara. Desde que nos conhecemos, ela nunca escondeu achar fofo o meu jeito desastrado.

Quando entramos no restaurante, ela me conduz pelo salão do lugar até uma mesa. Seu braço tem o comprimento perfeito para se encaixar nas minhas costas de forma que sua mão consegue envolver a minha cintura. Eu acharia estranho seu comportamento, mas eu já a conheço o suficiente para saber que esse é o seu jeito.

Anong é muito mais "gentleman" do que a maioria dos homens que eu já vi. Ela é atenciosa e protetora com qualquer mulher que esteja em sua companhia, Chalita, Amada, Praya, Kitty, até mesmo Fon que também tem uma certa energia dominante, se torna submissa sob os cuidados de Anong.

- Acho que sei qual prato daqui você vai gostar mais, posso pedir pra você? - Ela pergunta assim que nos sentamos. Eu apenas aceno que sim com a cabeça.

Olho de relance para o menu e entro em pânico.

- Anong... Eu não tenho dinheiro suficiente pra comer aqui... - Digo mortificada de vergonha.

- Que bom que fui eu quem te convidei e portanto sou eu quem vou pagar a conta, né?

Ela diz em tom de brincadeira como se fosse óbvio e minha preocupação fosse completamente hipotética.

- Realmente, que bom. Imagina só se não fosse esse o caso. - Apenas devolvo seguindo com a mesma narrativa, como se o meu comentário preocupado de antes fosse de fato hipotético, continuando com a brincadeira que ela começou.

...

Quando Anong me deixa em casa depois de um almoço delicioso, faz questão de descer do carro para se despedir de mim apropriadamente. Me despeço dela com um abraço e ela deposita um beijo casto na minha têmpora. É assim que ela costuma se despedir de Chalita e de outras amigas próximas. Essa é a primeira vez que ela se despede de mim dessa forma. Ela então aguarda que eu entre em segurança em meu prédio para retornar ao seu carro.

Não sei se porque estou desesperada para superar minha paixão platônica por Anong, ou se simplesmente porque eu realmente gosto dela e senti realmente sua falta, mas a primeira coisa que faço ao chegar em casa é mandar uma mensagem para GI.

[Você: Desculpa a demora pra responder, estava confortando uma amiga ontem.]

Alguns minutos depois ela me retorna.

[GI: Senti sua falta.]

E basta ela dizer isso para o maldito quentinho no meu peito voltar. Essa idiota não tem a menor intenção de ter algo real comigo e eu sigo aqui, toda boba por ela.

[Você: Então eu acho que deveria sumir mais vezes.]

[GI: Não. Por favor não some de novo. Você não sabe como eu fiquei mal ontem. Principalmente porque me arrependi do que eu te disse, deveria ter sido honesta com você.]

Meu coração erra uma batida.

[Você: Honesta sobre o que?]

[GI: Sobre a minha real identidade.]

A Assistente: O amor pode estar aonde você menos espera.Onde histórias criam vida. Descubra agora