A nova assistente

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POV: Anong.

Já são dez horas da noite quando eu chego em casa. Passo pela caixa de correios do prédio antes de subir para o meu apartamento e pego minha correspondência. Um envelope grande e pesado se faz presente, o primeiro script de "Keep My Heart Safe", eu imagino.

Deixo escapar um suspiro antes de abrir a porta, hoje foi um dia cansativo e chegar em casa é muito prazeroso. Luna, minha gatinha de estimação, que dormia preguiçosamente no sofá, se levanta quando eu acendo a luz da sala e vem se esfregar na minha perna, pedindo comida.

- Oi, meu amor.

Tiro minhas botas no hall de entrada e calço minhas pantufas, faço um afago em Luna, penduro minha bolsa no cabideiro do hall de entrada e coloco a correspondência sobre a mesa.

Luna me olha com uma carinha de pedinte me acompanhando enquanto troco a água de seu bebedouro e coloco ração em seu pote. Abro a fivela do meu cinto e os botões da minha camisa, me desfazendo de minhas roupas preguiçosamente antes mesmo de entrar na minha suíte.

Tomo um banho demorado e deixo a água quente levar meu cansaço com ela pelo ralo abaixo. Não funciona, a água quente apesar de fazer meu corpo relaxar, também me deixa mole. Eu preciso da minha cama, mas estou morta de fome. Assim que termino minha rotina noturna de skincare, passo creme hidratante no corpo e visto meu robe de seda, vou até a cozinha e busco algo na geladeira que eu possa esquentar pra comer.

Droga. A geladeira está cheia, mas nada que já esteja pronto, apenas ingredientes que claramente vão estragar porque eu nunca tenho tempo de cozinhar. Honestamente não sei porque ainda tento comprar todos esses ingredientes, eu deveria fazer uma assinatura desses serviços de entrega de marmitex. Pego meu telefone que estava sobre a mesa da sala, é Wongnai (N.A.: serviço de entrega de comida tipo Ifood popular na Tailândia), parece que somos eu e você de novo essa noite.

...

Acordo amaldiçoando o som do meu despertador, às sete horas da manhã. Considerando que eu fui dormir quase às duas da manhã esperando minha comida chegar, eu não consegui descansar o suficiente para o que me aguarda hoje. Luna está deitada junto a mim debaixo das cobertas e seu calor em contraste com a refrigeração do quarto vinda do ar condicionado torna ainda mais difícil a tarefa de sair da cama.

Me arrasto até a cozinha e preparo a cafeteira com o filtro, a água e o pó de café, ligando a máquina em seguida e me servindo um copo de água enquanto aguardo o café ficar pronto. Me reservo o direito de tomar minha caneca de café com calma antes de ir tomar um banho e me arrumar para ir até o estúdio. Hoje é dia da primeira leitura do script com o resto do elenco de KMHS.

Visto uma regata branca e uma camisa estampada azul marinho por cima, uma calça jeans com o joelho rasgado, um all star e prendo meu cabelo em um coque frouxo. Escolho como acessórios uma corrente de prata, um cinto de couro, 3 anéis, uma pulseira de couro fina, óculos de sol que posiciono no topo da minha cabeça e um relógio Rolex feminino.

Passei em uma barraquinha a caminho do estúdio e comprei uma porção de omelete com arroz e frango (N.A.: Sim, eles costumam comer arroz e frango de café da manhã na Tailândia) que devorei rapidamente antes de descer do carro e entrar no prédio seguindo em direção ao elevador que dá para a sala de reunião. Percebo as portas de metal prestes a se fechar e grito pra pessoa que está lá dentro.

- Por favor, segura o elevador.

Uma mão de pele clara, dedos magros e duas vezes menor do que a minha se coloca entre as portas antes de elas se fecharem e o elevador se abre novamente, eu agradeço a gentileza assim que entro. Olho para o painel na intenção de apertar o botão do meu andar, mas já está pressionado.

- Obrigada.

- Por nada. - Ela responde em um tom de voz tímido e doce, enquanto junta suas mãos por educação ao me recepcionar.

Quem segurou o elevador pra mim foi uma garota de cerca de vinte e poucos anos. Ela carrega uma bolsa de laptop, veste um suéter preto com uma camisa social por baixo cujo a gola branca se sobrepõe à gola do suéter, uma saia pregueada preta na altura dos joelhos e uma sandália de salto baixo. Ela mede na altura dos meus ombros, tem cabelos longos e castanhos, usa óculos de armação delicada e uma máscara hospitalar descartável (presumo que por estar resfriada ou algo do tipo). O elevador inteiro é preenchido com seu perfume. É doce, mas não de um jeito enjoativo, não parece ser o cheiro de um perfume propriamente, mas de algum creme hidratante de baunilha.

Chegamos ao nosso andar e por educação, porque sou mais velha, ela permite que eu saia primeiro. Eu agradeço com um aceno de cabeça e sigo para a sala de reunião. A garota faz o mesmo caminho que eu e se senta ao fundo, abrindo sua bolsa e tirando dela um laptop. Ela abre o aparelho sobre a mesa. Algumas pessoas da equipe a cumprimentam educadamente, mas acredito que ela seja nova por aqui.

Eu me sento ao lado de Chalita, que me recepciona com um abraço e nós conversamos amenidades por cerca de dois minutos até o restante da equipe chegar. Finalmente Dao, nosso produtor executivo, surge na sala para anunciar nossa agenda de pré-produção.

Ele menciona as datas estimadas das primeiras filmagens que começam daqui a um mês. Ou seja, um mês de pré produção. Para Chalita isso significa exercícios vocais e sessões de gravação no estúdio para as músicas tema da série e as cenas musicais num geral (eu participarei de uma sessão ou outra de gravação mas só para a música tema da série). Pra mim, significa academia, dieta rica em proteínas, aulas de parkour para iniciantes (apenas para as cenas nas quais não vamos poder usar dublês porque o enquadramento vai precisar mostrar meu rosto) e Muay Thai para me preparar para algumas coreografias de lutas (nada muito pesado, é uma série de romance e não de ação, afinal de contas).

A garota do elevador parece se atentar mais à reunião quando Dao começa a falar sobre Chalita e eu e nossa agenda para o próximo mês. Ela toma nota de todos os itens que nos dizem respeito, como meu treino e as sessões de Chalita no estúdio de gravação. Dao então se dirige a mim e a minha co-star especificamente.

- Meninas, como eu mencionei anteriormente, esse projeto vai exigir mais de vocês quando o assunto é preparação, principalmente de você, Anong. Se você olhar, por exemplo, na página 94 do script 1, na cena 5 você precisa conseguir carregar a Chalita no colo e correr dos caras que estão perseguindo ela. Existem pelo menos 7 takes que precisam enquadrar o seu rosto e não vai ter como te substituir com dublês. Eu sei que a agenda parece apertada, principalmente se a gente incluir os workshops com a preparadora de elenco, então pra ajudar vocês, nós reservamos uma verba para uma assistente.

Ele olha na direção da garota do elevador e estende a mão na direção dela.

- Anong, Chalita, essa é a Chaisee, a sua nova assistente. 

A Assistente: O amor pode estar aonde você menos espera.Onde histórias criam vida. Descubra agora