Polaroid

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POV: Anong

Eu sinceramente não esperava acordar tão disposta hoje. Tudo bem que por ser domingo eu pude acordar um pouco mais tarde, mas considerando que eu fiquei até às três horas da manhã trocando mensagens com PP, eu já estava psicologicamente preparada para não conseguir levantar da cama antes das 11 horas da manhã. Agarro meu celular sobre o criado mudo e olho a tela, são 8 horas da manhã, para o meu espanto.

Saio da cama e faço minha rotina de cuidados matinais, sigo até a cozinha e preparo para mim mesma um café da manhã caprichado do qual eu desfruto com prazer. Acordei me sentindo extremamente inspirada e consigo perceber os pensamentos correndo livres pela minha mente, é uma das melhores sensações.

Depois de arrumar a cozinha, decido visitar o que deveria ser um quarto de hóspedes em meu apartamento, mas que eu transformei em um ateliê. Ao entrar e sentir o cheiro de abafado, me dou conta de que não entrava aqui faz semanas.

Existe uma imagem se coçando para sair da minha mente e eu decido trazer ela à vida. Pego uma tela em branco de tamanho médio e a posiciono no cavalete. Prendo meu cabelo em um coque frouxo, visto meu avental, separo minhas tintas e os pinceis que pretendo usar e coloco todos os materiais sobre a mesa que fica disposta ao lado da cadeira.

O que acontece em seguida é pura mágica, me deixo fluir de uma forma que já não fazia a muito tempo.

...

Passo quase o meu dia inteiro pintando, mas consigo terminar a tela antes do pôr do sol. Assim que admiro a imagem diante de mim, decido que preciso tirar uma foto e enviar para PP.

A imagem que eu pintei foi de uma garota sem rosto, em um quarto que está completamente inundado. A garota nada para cima, na intenção de escapar, mas seu tornozelo está acorrentado e ela não consegue. As bolhas que saem de sua boca não são brancas ou transparentes, mas cinza, como se tivesse fumaça de cigarro nelas.

[Você: Imagem]

PP responde de imediato.

[PP: Não sei se me sinto lisonjeada por ter inspirado isso ou assustada porque você claramente invadiu a minha mente e bisbilhotou tudo que existe aqui dentro. Ler a mente das pessoas é invasão de privacidade, sabia?]

[Você: Desculpa a invasão, eu prometo pedir o seu consentimento da próxima vez que for bisbilhotar aí dentro.]

[PP: Haha, brincadeiras à parte, sua pintura ficou linda, você é muito talentosa.]

Sinto um quentinho curioso no meu peito. Por que é que um elogio de uma completa estranha me deixou assim?

[Você: Obrigada.]

[Você: Sobre esse texto, eu tenho uma pergunta. Você menciona fumaça (que eu presumo ser de cigarro), você fuma?]

[PP: Não, mas quando estava escrevendo esse texto, me peguei pensando em como muitas das coisas que fazemos para combater a ansiedade na verdade nos fazem mal. E quando a sua ansiedade é sobre não realizar as coisas que sonha em realizar na vida e na sensação de finitude de estar vivo, achei interessante o paradoxo do cigarro ser um paliativo contra essa ansiedade, ao mesmo tempo que torna o motivo da ansiedade ainda pior, por te tomar esse pouco tempo.]

Eu releio essa mensagem algumas vezes antes de responder. Como eu posso estar tão atraída por uma pessoa que eu nunca vi e que eu sequer sei o nome verdadeiro? Como a mente de uma pessoa pode ser tão linda para, além de me inspirar, despertar esse calor no meu peito?

Quem é você?

Decido mudar de assunto porque se continuarmos falando de arte eu sinceramente não sei como vou conseguir conter essa sensação.

[Você: Amei o conceito. Mudando de assunto, como foi o seu dia?]

[PP: Foi ótimo. Eu decidi aproveitar o meu tempo livre pra ir comprar umas roupas.]

[PP: Imagem]

Abro a foto e meu coração quase para com a imagem diante de mim. Uma foto digital (que presumo ter sido tirada agora com seu telefone) de uma foto polaroid. A foto dentro da foto provavelmente foi tirada em um provador de loja. Considerando que é uma foto de uma foto, eu não consigo distinguir muita coisa. Eu só consigo ver uma silhueta feminina dos ombros para baixo, ela foi tirada de perto, então eu não consigo identificar muitos dos elementos na imagem.

PP tem mãos delicadas, pele clara e uma silhueta magra. Seus cabelos parecem estar para trás, porque só consigo ver as pontas de algumas mechas atrás de suas costas, o que me impede de saber qual é o comprimento exato de seu cabelo. Ela veste um short branco de cintura alta que realça o volume de seu quadril acinturado, e um cropped com uma estampa que não consigo distinguir, porque suas mãos estão posicionadas na frente, segurando a câmera polaroid. O que eu consigo distinguir, porém, é o contorno de seus seios médios e sua clavícula marcada na gola do cropped.

Sinto meu rosto esquentar. Eu não estava psicologicamente preparada para a possibilidade de me atrair fisicamente por ela.

- Anong, onde é que você está se metendo? - reflito comigo mesma.

A Assistente: O amor pode estar aonde você menos espera.Onde histórias criam vida. Descubra agora