2 de 3: As ações do paulista

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Nota inicial: Para quem não acreditava, enfim estou de volta. Segundo capítulo enfim veio e eu agradeço pela paciência de quem esperou e me apoiou todo esse tempo. Obrigada de verdade.

Tenham uma boa leitura!

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Mudanças

Segurando em uma das mãos um bilhete que recebeu durante a noite passada, discretamente arrastado pela brecha de sua porta, o fluminense caminhava na calada da noite pelo caminho de mata em seu encontro com o remetente. Sabia dos riscos de estar ali, que além de não poder contar com o apoio da maioria, sua atitude poderia ser interpretada de forma equivocada. Ainda assim, depois de refletir durante horas quando recebeu aquele bilhete da parte de Lisboa - alguém que depois de toda a tensão que havia surgido entre Portugal e Brasil, Rio não via há dias - finalmente ele decidiu que, independente de qualquer coisa, os dois precisavam de uma conversa.

Enfim seus passos o levaram até a praia, a lua crescente bem visível no céu estrelado, cada brilho, longe ou perto, ofuscante ou quase imperceptível, refletindo sobre o mar que se estendia pelo horizonte e alguns navios se localizavam em sua margem, preparando-se para partir enquanto a maioria dormia.

- Sabia que você viria. - a voz do lisboeta se fez presente quase num sussurro ansioso ao se aproximar do fluminense que mal notou sua presença. A reação do de cachos foi um inicial nervosismo, afinal tudo havia se tornado um caos após da declaração de independência e se por um lado vários apoiaram Brasil, por outro tiveram a surpresa de alguns que ainda estavam do lado de Portugal, o que causou ainda mais conflitos e brigas. E em meio a tudo, ele estava agora se encontrando com Lisboa, seu noivo, ou ex-noivo, não sabia definir mais o que eram. - Guanabara, me escuta. Isso não deve durar muito tempo. Não é a primeira vez que lidamos com esses rebeldes e logo as coisas devem voltar ao seu lugar. Preciso que você me espere aqui e...

- Eu... - franzindo levemente sua testa, Rio se incomodou com a fala do europeu o interrompendo de repente. Respirou fundo ao organizar sua fala, para sua surpresa obtendo a atenção do outro que se mostrou estarrecido por sua reação. - Eu não acho que as coisas devam voltar ao que eram, Lis. Realmente algumas coisas precisam ser mudadas. - apesar de seu tom de voz brando, as palavras saíram firmes e sinceras, mas claramente amargas para o paladar de Lisboa que fez uma carranca ao ouvir.

- Você está do lado deles? - o europeu questionou incrédulo, de forma retórica, e em seguida forçou uma risada irônica. - Vocês não conhecem o mundo lá fora. Não sabem o quão cruéis os outros podem ser. Quanta ingratidão! Não vão sobreviver um dia sequer.

- Nós vamos sobreviver! - exclamou contra de forma impulsiva sentindo seu corpo todo tremer, mas não por medo, identificou aquele sentimento como raiva. Estava cansado de aceitar a personalidade que diziam que ele tinha ou de acreditar cegamente na verdade que outras pessoas definiam. Precisava desesperadamente se descobrir, se conhecer, e iria começar por não permitir que Lisboa o dominasse mais.

- E quanto a mim? - após um momento de silêncio entre ambos, o europeu perguntou frio, meio indignado. - Pensei que me amava.

- Eu amo, de verdade. Mas, Lisboa, do fundo do meu coração, eu preciso colocar as coisas no lugar, descobrir quem eu sou.

- Ora pois, você é Guanabara. Meu Guanabara. - aquelas palavras escorreram de seus lábios tão doce como mel, porém não foi agradável, não era o que o fluminense desejava ouvir, e mais uma vez conseguiu reunir coragem para retrucar.

- Não. Isso não está certo. Eu preciso ser alguma coisa além de seu. - respondeu em seguida. Era doloroso demais ir contra o lusitano, sentia-se nadando contra a correnteza. Seus olhos encheram-se de lágrimas, queria tanto que ele lhe estendesse a mão, que o puxasse para fora da água e o abraçasse amorosamente, porém aquela reação era algo que parecia impossível vindo de Lisboa, e agora era também impossível da parte do paulista que tanto acreditou nele. São Paulo... Seu coração se contorcia sob o peito cada vez que se lembrava do sudestino que mal o encarava de volta. Sentia tanto a sua falta mesmo sem poder. Mesmo amando Lisboa, desejava-o tanto.

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⏰ Última atualização: Apr 24 ⏰

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