💀мσятє

1 0 0
                                    

A escuridão sempre foi minha aliada, mesmo vindo da luz, era no entardecer que eu podia sair sem me preocupar com olhares maldosos e a violência física ou mental. Sempre fui uma criatura noturna, obrigada a coexistir com os humanos, que particularmente nos odiavam por sermos superiores a eles em todos os aspectos, embora nada de interessante possuíssem. Nunca me intimidaram e não seria agora que me limitaria às minhas corridas noturnas por causa deles, mesmo que Lysandre, meu irmão mais velho, insistisse para que eu não o fizesse. Ele sempre fora um pouco medroso quando se tratava de mim, especialmente depois dos quatro assassinatos de seres místicos. O culpado fora preso, mas logo depois solto, deixando-o constantemente histérico.

Distraída, retiro meu celular do bolso ao sentir a vibração, diminuindo o passo para atender. A tela se ilumina automaticamente com meu movimento, revelando uma ligação de Lysandre. Suspiro profundamente, ciente do que ele diria assim que soubesse onde eu estava.

"Estou na frente de casa garotinha" -Ele diz, sua voz transparecendo irritação. Sorrio levemente, apressando-me.

-Estou chegando -Respondo, mantendo o sorriso, embora invisível para ele.

"Sobre suas saídas noturnas..." -Sua voz soa novamente, enquanto eu desacelero. "Não estou te proibindo, apenas... faça isso de manhã." -Ele respira fundo e eu respondo com um som nasal.

-Estou chegando -Tento tranquilizá-lo. -Pode entrar, estou praticamente na esquina, Querubim -Uso seu apelido para acalmá-lo, e ele ri, um pequeno triunfo.

"Só entro com você ao meu lado, garotinha" -Ele diz descontraído, mas seu tom muda. "O que os pirralhos Stygian estão fazendo por aqui?" -Hakon e Klaus não eram comuns nesses lados. Nossas famílias, líderes da nossa espécie, se encontravam ocasionalmente, embora Lysandre mais do que eu. O celular estava longe da boca de meu irmão, sua voz mal audível.

"Acertando algumas pendências" -Eu não sabia de quem era, porém, estava detectando a ameaça em seu tom. Aumento meu passo, sabendo que os Stygian não eram civilizados. Um pressentimento ruim me assalta, instigando-me a chegar logo. Na esquina, testemunho a cena de longe. Mesmo à distância, vejo Lysandre e os dois outros. O aparelho em minha mão emite um som, simulando um grito de dor, e meu coração afunda. Tudo em mim clama para que seja os Stygian, tinha que ser, meu irmão era mais forte que eles. Meu irmão não podia ser ferido. Não ele.
As certezas desaparecem quando o vejo caindo e suas pernas perdendo forças. Sua queda desencadeia uma série de reações em mim, e corro em sua direção. Cada passo me enfraquece um pouco mais, mas ao alcançá-lo, vou ao chão e sustento seu corpo em meus braços. Minha respiração falha, minha garganta aperta, mas consigo segurar sua cabeça em meu colo.

-Acho que não vou conseguir entrar com você afinal -Ele murmura, sua voz fraca, silenciando meu mundo. Meu sorriso vacila, ele tenta me acalmar mesmo eu estando com o coração em pedaços.

-Fique quieto -Ordeno -Vou tentar ligar para o Aaron -Pego meu celular e ligo para o mesmo, porém a ligação não é atendida, volto a ligar novamente, porém só cai na caixa postal, eu não podia ligar para ambulância nem para a polícia, eles não ligavam para nós -Merda, porque ele não atende?

-Bjorn vai de ensinar como conduzir as coisas, não deve ser tão difícil para você como foi para mim... Você... Você é esperta -Lys fala e sua voz vai falhando aos poucos, deixo o celular de lado e presto atenção no que meu irmão fala.

-Deveria poupar força -Falo dando um leve sorriso. Talvez se eu souber o que feriu, posso ajudar. Assim verifico sua blusa, porém o que vejo é uma grande mancha escura pintando sua camiseta em cima do seu peito, levanto a camiseta lentamente e vejo uma corrosão profunda, feita pela única arma forte o bastante para matar nós, a espada do arcanjo Miguel.
Suspiro pesadamente, sabendo o que aquilo significava. A arma era letal para nós, sem cura, sem escape. A morte era a única direção possível. Desabo, implorando -Por favor, não -Minha voz sai tremula em desespero. Não podia ser real. Talvez um pesadelo do qual eu acordaria, levantaria e encontraria Lysandre na sala de jantar, sentado em sua cadeira favorita, com o sol iluminando seu anel de safira. Ele me veria, sorriria e reclamaria de meu pé descalço no chão, como sempre fazia.

-Minha irmã -Ele murmura já com sua respiração pesada. -Seus olhos piscam lentamente fazendo o mundo escurecendo ao meu redor -Viva... E me esqueça, eu te amo, sempre será minha garotinha -Suas últimas palavras, cheias de amor, ecoam em meus ouvidos enquanto vejo sua vida escorrer diante de mim.

O homem mais vibrante que já conheci, agora derrotado. Vi-o celebrar seus 30, 29, 28 anos, apenas para morrer em meus braços. Minha respiração se torna um suspiro a procurando ar, minhas mãos tremulas começa a formigar, nego a realidade, ele não podia ir e me deixar aqui. Na escuridão da noite, apenas meu choro é audível. Aconchego minha cabeça na sua, deixando minha tristeza o cobrir, como nos velhos tempos. Era apenas eu e ele.

💀

O sol forte encurtava minha caminhada, e havia muito a ser feito naquela manhã ensolarada e extremamente quente, pelo menos eu esperava. Ao passar pelo povoado, avistei Bella vindo na minha direção, e assim que me alcançou, abraçou firmemente minhas pernas.

-Bom dia -Ela disse com a cabeça entre minhas pernas, e sorri ao olhá-la.

-Bom dia -Respondi, e ela ergueu a cabeça para me olhar, rindo com um doce sorriso, cujo motivo desconhecia -Do que está rindo? -Perguntei, segurando seus ombros e balançando-os suavemente, logo após a pego em meus braços.

-BELLA! -Penelope gritou, procurando pela irmã mais nova, que estava em meu colo.

-Vamos -Falei, pegando Bella no colo e indo ao encontro da sua irmã. Ao me perceber, Penelope suspirou e logo sorriu.

-Eu disse para essa garota não correr sozinha pela rua -Pen falou, pegando sua irmã do meu colo. Bella fez um bico, cruzando os braços.

-Não quero ficar com você -Bella disse, e Pen revirou os olhos, colocando-a no chão.

-Vá fazer algo e não corra por aí -A irmã mais velha ordenou, e Bella foi até um gatinho que passava na rua -Ela vai me dar cabelos brancos antes de eu fazer 17 -Penelope disse, sorrindo enquanto observava a irmã tentar se aproximar do animal que fugia.

-Paciência, logo ela se acalma -Falei, e Pen juntou as mãos como se rezasse, olhando para o céu. O céu estava azul, sem nuvens para bloquear os raios do sol, tornando o calor ainda mais intenso e as sombras escassas.

-Estou ansiosa por esse dia, quando essa garotinha vai parar de aprontar -A olho como a mesma divesse me chamado, percebo meu equívoco e dou um passo para trás. De repente, o sol parecia ficar ainda mais quente, como se quisesse me expulsar dali.

-Bem, tenho que ir, muita coisa para fazer -Disse, tentando disfarçar o desconforto que crescia em mim, e dei um pequeno aceno -Dê um abraço na sua mãe e na Hilary por mim -Acrescentei antes de retomar minha caminhada em direção à minha casa.

Antes, morava no povoado, onde era reconfortante sair na rua e encontrar amigos e todos irem para escola. Mas, com o tempo, ficar ali deixara de ser gratificante, tornando-se um pesadelo constante. Minha nova moradia não ficava longe do povoado, mas não havia casas ao redor, era como se estivesse isolada. Contudo, isso não me incomodava, pois ali encontrava paz, uma boa companheira nos dias de solidão.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 11 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

ObscureOnde histórias criam vida. Descubra agora