𝟐𝟕 ━⠀" 24 remédios e um arrependimento "⠀♡

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Se passaram alguns dias. Muitos, na verdade. Nikolai recebia vários convites para sair, todos de seu grupo de amigos, mas rejeitava todos. Ir ao shopping, ao cinema, ir em uma festa, até mesmo quando combinaram de ir em uma sorveteria, Gogol ignorou totalmente. Um pouco antes das férias, ele parou de tomar seus remédios novamente. Ele tinha essa mania de parar de se medicar quando achava que estava melhor, sempre o mesmo erro.

No meio das férias o período depressivo bateu em sua porta novamente. Até mesmo com Fyodor ele ficou um pouco mais distante, dificilmente aceitava fazer ligações, e respondia de hora em hora. Isso sim deixava o russo confuso.

Não queria ter contato com ninguém, já era um grande esforço se manter vivo e sair da cama para vagar pela casa. Só não havia tentado nada contra si mesmo pois seu pai e sua madrasta estavam em casa o tempo inteiro. Hoje, que foi justo o dia que

No dia de hoje, depois de Fyodor praticamente implorar a semana inteira, o ucraniano finalmente aceitou ficar em ligação com ele. Seu tom de voz era nitidamente fraco, cansado. A todo momento insistia que tudo estava bem, quando era claro que não estava.

A voz de Dostoy era a única fonte de alegria que teve no dia de hoje. Nem mesmo sua família pôde o tirar da cama durante o dia inteiro. Só se levantou antes para ir ao banheiro, e comeu quando o russo praticamente o deu a ordem de ir colocar algo no estômago enquanto estavam em ligação.

Eles jogaram, conversaram sobre alguns livros que o moreno leu recentemente, sobre o colégio, filmes e afins. Mas nada preenchia seu vazio, nada nunca faria isso, nem mesmo Fyodor, embora se recusasse a acreditar nesse fato.

Agora, Gogol estava na cozinha, com o celular em mãos, era por volta de dez da noite e ainda estava em ligação com Fyodor. Ele estava apoiado na bancada, olhando fixamente para os potinhos de remédio que tinha ali em cima. O antidepressivo que ele devia estar tomando, alguns remédios para dores, remédios para dormir… e então, sua atenção voltou ao celular

━ Me ouviu? ━ Fyodor o chamou de novo

━ Hm?

━ Falta uma semana pra eu voltar. Vai me ver no aeroporto? ━ Ele indagou, Nikolai ponderou por alguns segundos. Se Dostoyevsky soubesse que, se tudo desse certo, o albino nem sequer estaria vivo daqui uma semana…

━ Vou sim,  Fedya. ━ Um falso ânimo era nítido em sua voz, e o russo suspirou.

━ Eu não ia tocar nesse assunto, mas acho melhor eu perguntar. O que foi, Nikolai? Você tá distante. Normalmente, é o primeiro a perguntar se podemos ficar em ligação. Essa semana eu tive que implorar pra poder te ligar, e ultimamente você mal anda respondendo as pessoas. ━ Ele apontou, e Nikolai ficou meio boquiaberto, não sabia que resposta dar.

━ Tô apenas com um mal estar, não se preocupe.  ━ Ele mentiu descaradamente forçando uma risada. ━ Mas sim, semana que vem eu vou estar te esperando, eu prometo. ━ Mentiu de novo, uma promessa vazia que não conseguiria manter.

Nunca foi de prometer as coisas para Dostoyevsky e não cumprir com o que disse, mas precisava tranquilizá-lo, precisava fazer ele pensar que o veria de novo, que voltaria para Yokohama e Gogol estaria pulando em cima dele assim que o avistasse.

Nikolai suspirou, abrindo a geladeira e colocando água em um copo, deixando ao lado dos remédios na bancada de mármore. Decidiu mudar o assunto, dando um pequeno sorrisinho, com o que iria dizer a seguir. O mais perto de um sorriso sincero que deu naquela noite escura, sem graça e triste.

━ Fedya? ━ Ele chamou pelo garoto.

━ Hm? ━ Ele disse depois de bocejar, já era de madrugada na Rússia, e estava fazendo um esforço para se manter acordado.

━ Eu te amo.

━ Eu também te amo, Kolya.

━ Quanto?

━ Quanto o que? ━ O moreno indagou em um tom confuso.

━ Quanto você me ama? ━ O albino indagou, com um sorrisinho.

━ Não sei, muito? ━ Era mais um tom de dúvida do que afirmação, não sabia bem o que responder.

━ Só? Que raso. ━ O de olhos heterocromáticos deu uma risadinha, que por mais que fosse falsa, aqueceu o coração de Fyodor, como todas as vezes que ria.

━ Eu te amo do tanto que um artista ama sua musa, do tanto que a lua amou o sol, mesmo sabendo que nunca poderiam ficar juntos. ━ O sorriso de Nikolai caiu por água abaixo ouvindo as últimas palavras.

━ Então nunca poderemos ficar juntos? ━ O albino perguntou, ouvir aquilo saindo de sua própria boca era como uma facada.

━ Não foi isso que eu quis dizer. ━ Fyodor suspirou. Ele só quis dizer que esperaria por Gogol quanto tempo fosse necessário, não que eles não poderiam ficar juntos. ━ Podemos, e estamos juntos. Mas vai demorar um pouco até podermos dizer isso pra todo mundo. Talvez uns meses, talvez semanas, quem sabe. As coisas seriam mais fáceis se…

━ Se eu fosse uma garota? ━ Nikolai o interrompeu, e ao ouvir aquilo, Dostoyevsky arregalou os olhos.

━ … Se meus pais não fossem tão conservadores com coisas assim. ━ Ele completou o que estava dizendo antes, e Gogol deu um tapa em sua própria testa.

━ Ah… ━ Ele percebeu que havia falado demais. Ele sempre falava demais. Suspirou, decidindo que era a hora. Forçou um bocejo, que pareceu real. ━ Bom, eu preciso desligar, tô cansado. ━ O ucraniano estava falando sério. Estava cansado. Cansado de viver, de procurar algo que o preenchesse e nunca encontrar.

━ Tudo bem. Descanse bastante, sim? Amanhã nos falamos. ━ Fyodor disse, com um tom cansado também, mas seu cansaço era físico, não psicológico, tal qual o outro.

Agora, o celular de Gogol estava jogado em cima da mesa da sala, totalmente desligado. A maioria dos recipientes de remédio estavam vazios e jogados no tapete fofinho da sala, tal qual o copo de água. Ele consumiu três comprimidos de cada analgésico ━ ou seja, quatro remwdios diferentes ━, cinco remédios para dormir, sete antidepressivos. 

Já havia tentado tirar sua vida outras vezes. Mas dessa vez era a primeira que sentia um leve medo. Medo de morrer? De perder Fyodor? Talvez arrependimento também. Mas era tarde demais para arrependimentos, talvez devesse ter pensado antes. Lágrimas escorriam seu rosto enquanto ele estava sentado no sofá.

Nunca havia sentido medo da morte, nunca havia sentindo arrependimento em tentar se matar. A sensação que normalmente o causava uma sensação de que estava prestes a ser tornar livre, agora não era nada além de angustiante.

Ele tentou correr para o banheiro, talvez para tentar tirar aquelas medicações todas de seu corpo, mas era como se tivesse perdido todas as forças de seu corpo, já que antes mesmo já estava lutando para se manter acordado.

Caiu no chão, no tapete macio, desistiu de ter uma segunda chance. Talvez agora realmente fosse a hora de partir, de todo jeito, esperava encontrar Fyodor em outras vidas, se realmente fosse morrer agora.

Sua visão escureceu, e em um ato desesperado, sussurrou um “me desculpa” como se estivesse falando com alguém, mesmo que a casa estivesse vazia. Ele queria que o russo pudesse o ouvir, que pudesse o dizer que estava tudo bem, e que ele ficaria bem.

Mas ele só ouvia os grilos e um silêncio ensurdecedor. Ninguém poderia ajudá-lo agora, nem ele mesmo.

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É isso gente, Nikolai morreu e a fanfic acabou, beijos

Mentira, eu prometo pra vocês que ele não tá morto e que a fanfic vai ter final feliz KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK questionem meus meios mas não meus resultados. Todavia, vou tentar ainda essa semana escrever pelo menos três capítulos novos, porque até eu tô ansioso pra escrever o que vai acontecer.

‣ Sin and Liberty.⠀ ♥︎⠀﹫ FyolaiOnde histórias criam vida. Descubra agora