𝟐𝟗 ━⠀" visitas diárias. "⠀♡

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Se passaram dias desde a volta de Fyodor. Na verdade, se passou tanto tempo que as aulas já tinham até voltado. E obviamente, não era a mesma coisa sem Nikolai.

Nunca foi a mesma coisa, nem mesmo quando ele apenas faltava uma aula por preguiça de ir. Mas isso era diferente. No intervalo, era ainda mais notório a diferença que Gogol fazia no ambiente.

Antes, o grupo que sempre era um dos mais barulhentos durante o intervalo, sentava em silêncio na mesa de piquenique no pátio. Era quase como se estivesse brincando de "quem falar primeiro perde", vez ou outra alguém dizia algo, mas voltavam a ficar em silêncio depois de alguns instantes.

Nikolai não era nenhum anônimo no colégio e isso não era segredo. Ele era até que vem conhecido de certa forma, e isso fez com que várias pessoas perguntassem para os amigos próximos dele onde ele estava. A resposta sempre eram as mesmas, "ficou doente" ou "está se sentindo mal".

Os únicos que realmente ficaram sabendo o que aconteceu, foram Tetchou e Jouno, por serem amigos de Nikolai há mais tempo, sendo assim, os garotos sabiam que poderiam contar para eles.

E assim que ficaram sabendo, os dois adolescentes começaram a ir pelo menos uma vez por semana no hospital ver o albino, nem que ficassem somente alguns minutos. Por falar em visitas, todos do grupo iam vê-lo. Claro, em dias diferentes, ou em horários diferentes.

Sua madrasta e seu pai também o visitavam com frequência. Sua mãe? Bom, ela ficou sim sabendo que ele estava em cima no hospital, mas nunca se deu ao trabalho de botar seus pés lá para vê-lo. Provavelmente ela devia pensar que seria melhor se ele realmente tivesse morrido.

Seu pai ia todos os dias, antes do trabalho, quando era liberado do serviço ou então, no seu horário de almoço, mas todos os dias ele se encontrava lá. A mulher nem sempre podia ir, mas havia criado um carinho pelo enteado, então sempre tentava manter uma frequência.

Até mesmo os pais de Dostoyevsky já haviam visitado Gogol com o filho. Agora, por falar em Fyodor...

As coisas eram difíceis para ele. Tentava não deixar aquilo afetar o seu dia a dia, mas era impossível. O ucraniano fazia parte de 99% do seu dia, até mesmo quando ele estava viajando. Ele antes já não tinha muita vontade de sair de casa para dar uma volta, imagine depois disso.

Mesmo assim, ele ia ver seu amor todos os dias depois do colégio, sempre na mesma esperança boba de que ele iria acordar a qualquer momento. Já fazia um tempo que ele não rezava sozinho e fazia pedidos à deus, mesmo que continuasse frequentando a igreja com constância. Mas, recentemente, o tema de suas orações era sempre o albino. Seus pedidos? Eram sempre que ele acordasse bem, que ele despertasse logo.

Parecia algo bobo, mas realmente tinha fé que Deus poderia ajudá-lo, que Deus podia acordar o garoto.

Como ele o visitava com frequência, vivia se esbarrando com o "sogro", o que os fizeram acabar por interagir mais, conversar mais. No dia de hoje, cerca de três semanas depois de sua volta e uma semana depois que as aulas retornaram, não foi diferente

Dostoyevsky pegou o caminho habitual para o quarto de Nikolai, e encontrou o pai dele assim que abriu a porta. O homem notou sua presença, sabia que era ele mesmo sem ter virado para ver. Eles ficaram em silêncio total por instantes, antes que o Gogol falasse primeiro.

━ Você vem vê-lo todo dia. Devem ser bem próximos. ━ O homem finalmente se virou para o russo, com um sorriso pequeno.

━ Ele é especial pra mim, senhor. ━ O rapaz respondeu vagamente, encarando o garoto inconsciente.

━ Sabe, Fyodor... eu não nasci ontem. ━ O homem começou a falar, com uma risada soprada. ━ Os olhos dele brilham quando a gente está conversando e ele acaba falando de você. De uma forma que eu nunca vi antes, nem quando ele era criança e eu dei o Artem a ele.

Aquilo fez Dostoy dar um sorriso sem graça, um sorriso meio envergonhado, mas com uma pontada de felicidade, mesmo que estivesse em um quarto de hospital, encarando Nikolai em coma.

━ Eu não sou a pessoa mais inteligente pra falar da vida dos mais novos, mas tem alguma coisa entre vocês acontecendo. ━ Ele continuou, apontando para o moreno e depois para o seu filho.

━ Eu estava na Rússia durante as férias. Quando voltei, eu tinha trago alianças, eu finalmente ia pedir o Kolya em namoro. ━ O mais novo disse, se aproximando do albino.

━ Ele é um garoto bom, Fyodor. É meio bobinho e consegue ser bem infantil às vezes, mas é um garoto bom. Quer dizer, não que eu precise te contar isso, você conhece ele há mais tempo que eu. Tudo que temos juntos são memórias de quando ele era uma criança, e memórias que ainda estão sendo construídas. ━ O homem falou com um sorrisinho reconfortante, olhando o horário em seu celular. ━ Bom, preciso voltar para a delegacia, vou deixar vocês a sós.

Quando pronunciou tais palavras, ele passou pelo russo, dando tapinhas em seu ombro. Dali, no silêncio, foi possível escutar o homem chamando o elevador e o barulho que isso fez quando chegou ao andar.

Como de costume, Fyodor se sentou ali na poltrona ao lado da cama e ficou observando o garoto. Vez ou outra acariciava seus fios, ou sua mão, que voltou a ser quentinha.

Normalmente, todas as vezes que Dostoyevsky entrava lá, ele contava sobre seu dia. O que fez na escola, o que aconteceu, o que comeu quando chegou em casa antes de ir para o hospital, coisas de um diálogo bobo qualquer que normalmente tinha com Nikolai, mas que agora tanto lhe fazia falta.

━ Chuuya deu um berro com o Dazai no meio do intervalo, foi um susto pra todo mundo, chega o pátio ficou em silêncio por segundos. ━ Ele se referia ao momento que Dazai começou a irritar o namorado propositalmente, apenas para ter alguma reação dele. ━ Eu terminei de ler aquele livro que eu comecei a ler antes das férias, fiquei enrolando a maior parte do tempo...

Ele suspirou, e encarou a janela do quarto por alguns instantes antes de voltar a falar novamente.

━ Sinto sua falta, bocó. Todo mundo sente, na verdade. No colégio vivem perguntando onde você tá. Famoso mesmo, hein? ━ O russo brincou, dando uma risadinha. ━ Mas é sério. Já fazem mais de três semanas. Não é a mesma coisa sem você no colégio, definitivamente não é. ━ O rapaz continuou, dando um suspiro.

Ele aproximou seu rosto do garoto inconsciente, olhando cada detalhe dele, seu rosto parecia sereno até mesmo em coma. Ele continuava bonito naquela situação. Dostoy afastou a franja de Gogol um pouco e deu um beijinho em sua testa, dando um sorrisinho em seguida. E então, quase em um surrusso, ele disse:

Volta pra mim logo, Kolya.

‣ Sin and Liberty.⠀ ♥︎⠀﹫ FyolaiOnde histórias criam vida. Descubra agora