1853 palavras
"A história é apenas uma série de crimes e desgraças." Voltaire
"Senhoras e senhores, boa tarde, estamos felizes em informar que o pequeno defeito na embarcação fora consertado e estamos prontos para seguir com a viagem. Agradecemos a todos pela compreensão e pedimos desculpas pelo transtorno."
Helena ouviu as palavras reproduzida nos alto-falantes da embarcação com um suspiro de alívio e se afastou do isolado convés do navio em direção a sua cabine. O tempo ao seu redor prometia uma forte tempestade e ela não queria apreciar essa vista do convés.
A tarde se mostrava sombria no mar agitado, o vento frio do norte cortava como uma lâmina afiada, fazendo os cabelos da mulher dançarem ao ritmo da tempestade que se aproximava. Do alto do convés do navio, ela observava com olhos atentos as nuvens escuras que se formavam no horizonte, prenunciando a chegada do caos.
O mar revolto rugia em fúria, as ondas se erguiam imponentes, ameaçando engolir o navio em um abraço mortal. O céu se tingia de um tom ameaçador, relâmpagos cortavam o ar e trovões ecoavam no céu, como se a natureza estivesse prestes a desabar sobre eles.
Algo que ela realmente não queria ver de perto.
Caminhou em silêncio, com uma postura firme e decidida, apesar dos ventos que pareciam fazer seu corpo balançar em um ritmo próprio a cada passo dado. Ela odiava aquele clima com todas as suas forças.
Ao entrar na grande estrutura que levava a cabine, Helena foi surpreendida ao se deparar com a má iluminação repentina das escadas, se encontrando de repente com a outra mulher em um esbarrão repentino, fazendo com que uma delas perdesse o equilíbrio e caísse no chão. A mulher que estava correndo, desesperada, olhou para trás, com os olhos arregalados de medo, enquanto tentava, com dificuldade, levantar do chão.
A misteriosa mulher respirava ofegante, sua expressão era de pânico puro, como se estivesse sendo perseguida por algo sinistro. Seus cabelos desgrenhados voavam ao vento vindo da porta aberta que gritava aos quatro ventos a tempestade que se aproximava. Suas roupas estavam amassadas e rasgadas como se tivesse passado por uma verdadeira batalha corporal.
A cena era quase surreal, com as duas se encarando em meio às escadas vazias do cruzeiro, isoladas do resto dos passageiros.
— A senhora está bem? — Disse Helena, preocupada com a mulher visivelmente grávida, ajudando-a a levantar — A senhora não deveria correr assim em seu estado, pode acabar se ferindo gravemente.
A misteriosa mulher parecia não lhe ouvir, virava a cabeça nervosamente de um lado para o outro, seus suspiros eram entrecortados, pelos batimentos desenfreados de seu coração assustado.
— Senhora? — Indagou a moça preocupada. — Está tudo bem?
Antes que a moça pudesse responder, vozes masculinas e irritadas foram ouvidas na escada, fazendo com que a moça exibisse uma expressão de horror, dizendo-lhe em um sussurro:
— Fuja. Se esconda!— Disse uma moça com uma voz desesperada empurrando-a em direção ao convés novamente.
— O que está acontecendo? — Perguntou Helena confusa
— Não há tempo, se esconda e leve isso com você.— Disse a mulher colocando um cordão em seu pescoço — Entregue a polícia.— finalizou a moça empurrando-a para o armário de botes salva-vidas e fechando.
Por conta dos ventos, ela não podia ouvir o que estava acontecendo, então entreabriu a porta rapidamente ao ver a moça se escondendo, com dificuldade, atrás dos botes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ventos do Norte
Mystery / ThrillerAo ajudar uma desconhecida em apuros, Helena não imaginava que estava prestes a mergulhar em um perigoso esquema de tráfico humano. Agora, ela se vê enredada em uma teia sombria, se tornando alvo de criminosos impiedosos. Sua única esperança repousa...