Bianca Castellani
Domingo, 18:30.
Leblon, Rio de Janeiro.
E aqui estou eu, de volta ao Brasil depois de 2 anos fora de casa.
— Mamãe, que saudadeee, — falo esmagando ela num abraço super apertado.
— Eu juro que vou rasgar seu passaporte e você nunca mais vai sair de perto de mim, menina, — diz retribuindo o abraço apertado.
— Ai mãe, foi só uma trip.
— Trip de 2 anos, Bianca. E se não fosse eu e seu pai insistindo, você nem ia voltar.
— Tava precisando desse tempinho fora do país, você sabe. Cadê meu pai? — pergunto me jogando no sofá da sala.
— Ligaram para ele do escritório, mas ele chega pro jantar.
— Entra ano, sai ano e nada muda. Vou tomar um banho, Evinha. Já desço pra te perturbar, — digo subindo as escadas e indo em direção ao meu quarto.
Me jogo na cama e ligo para a Alissa, vulgo minha melhor amiga.
Ligação:
— Oi, baby. Já estou em terras cariocas.
— MENTIRAAAAA! Tô indo aí agora.
— Só subir. Tô no meu quarto.
Ligação off:
Ai, que saudade que eu tava do meu quarto, da minha cama, do calor do Rio de Janeiro.
Fui pra Itália assim que eu completei 18 aninhos. Tinha acabado de me formar no ensino médio e tava precisando de umas férias, férias essas que duraram 2 anos.
A intenção era passar 6 meses e voltar, só que eu e a Alissa tivemos a brilhante ideia de conhecer todos os países da Europa. Foi ótimo, vivemos momentos incríveis e agora voltamos pra começar a nossa tão sonhada faculdade.
Depois de muita luta, insistência e chantagem, eu consegui convencer meu pai a me deixar cursar moda. Ele ainda acha que isso é mais uma das minhas ideias malucas de patricinha fútil, mas eu sinto desde que me entendo por gente que eu nasci para trabalhar com moda.
Amanhã mesmo eu começo na PUC-RJ, eu em moda e a Alissa em Direito.
— Amiga, que saudadee, — fala se jogando em cima de mim.
— A gente se viu semana passada, Ali.
— Nós moramos juntas 2 anos. 1 semana é muito tempo.
— Você foi lá conhecer a faculdade, né? Me conta como é.
— Lá é enorm
e, um monte de gostoso.
— Ai, tô ansiosa. Dorme aqui hoje e vamos juntas amanhã.
— Eu vim para dormir, minha filha. Tá pensando que eu ia voltar para casa?
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Perigo
Complexo da Maré, Rio de Janeiro.
Domingo, 21:30.
Nasci na terra da desigualdade e, por esse motivo ou não, sou dono do Complexo da Maré.
Muitos não botaram muita fé por eu ser novão, tá ligado? Mas são obrigados a aceitar que o meu trabalho é foda. Em menos de dois anos eu fiz o Complexo da Maré virar um dos morros mais respeitados do Rio de Janeiro.
Isso é fruto do meu suor e me orgulho pra caralho. Perdi muita gente na minha vida, a maioria o tráfico levou. Mas eu sigo firmão cuidando dos que ficaram.
Dafne e Mk cresceram junto comigo. Mato e morro por esses filhos da puta.
— Ala, Perigo tá falando que vai te botar pra desfilar. — fala Mk, me zoando.
— Tá me tirando pra viado, Dafne? Qual foi do bagulho? — pergunto dando um trago no meu cigarro de maconha.
— Que viado, cara? Tô falando que vocês vão ter que vestir as roupas que eu lançar.
— Nem conta comigo, papo reto.
— Sei que eu sou gostoso, mas esse bagulho vai ficar feião, pô. Os bandidos mais perigosos do RJ desfilando.
— Hum, desculpa, bandido mais perigoso do RJ, — fala Dafne debochando do irmão.
— Tu sabe como chegar na faculdade dos playba?
— Pior que não. Acho que daqui pra lá são 4 ônibus e detalhe, não posso chegar atrasada por causa da bolsa.
— Já falei pra tu pegar um dos carros que estão lá na pedreira. Só carrão.
— Roubado, né, Maicon? Aí a polícia me para e me leva presa.
— Vou colocar um menor pra te levar e te buscar todos os dias, já?
— Pode ser. Só até eu aprender a ir sozinha.
— Faculdade mais cara do RJ, motorista e os caralho. Minha irmãzinha tá mijando na cara do estado.
— Eu vou é pra casa arrumar as minhas coisas. Vocês estão com a vida ganha, — fala levantando do sofá e saindo.
— Ptk e Rd, chega aqui na boca, — falo no radinho e minutos depois eles aparecem.
— As princesas demoraram, mas chegaram.
— Vai se foder, Mk. Tava trampando. Tenho tua vida mansa não, — fala Ptk, jogando a almofada no Mk.
— Parece duas piranhas brigando, mané, — diz Rd, negando com a cabeça enquanto dá um trago no cigarro.
— Quero 5 carros novos aqui amanhã. Tô precisando farmar um dinheiro.
— Jae, patrão. Tem preferência?
— Carro novo, carro caro e sem ser preso.
— Jae, vou levar um menor comigo pro Leblon amanhã.
— Vou pro Recreio.
— É isso. Atividade máxima.
— Rd, aproveita e leva a Dafne na faculdade amanhã.
— Jae, só levar mesmo?
— Levar e buscar todos os dias. Teu nome é o único limpo na pista mermo.
— Sem olhar, conversar, respirar e muito menos tocar na minha irmã em menor, se tu quiser continuar vivo.
— É isso, rapaziada. Fé nas missões.