Meu pai é frágil

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Está claro. Taehyung não estava na cama.

Estou todo limpo e os lençóis foram trocados sem que eu pudesse me dar conta. Recolho meus ombros. Que estranho. Como se a noite passada tivesse sido um sonho. Como se não houvesse acontecido nada. Seria certo esperar por ele aqui? Não, estou faminto demais para voltar a dormir.

Parece que ninguém vive por aqui perto. Ninguém tentou me contratar ou ligar enquanto eu estava com o Taehyung. Eu acho que deve estar tudo bem com Seo Hyeon.

Tudo passou por mim: as lembranças loucas da noite anterior. Toda aquela intimidade, palavras trocadas, nudez.

Havia permitido num momento de loucura. Sentia minha cabeça doer, meu coração bater mais forte.

Mon Dieu, o que eu fiz? Onde eu estava com a cabeça? Como pude ser tão louco e inconsequente?

Eu abaixei minhas defesas durante a noite. Eu nunca deveria ter dado ouvidos aquele demônio! dizendo que eu deveria receber mais do que eu merecia.

Quem poderia imaginar que aquela voz interior era uma mestra de entorpecer meus sentidos outra vez?

Posso ver que a fortaleza alta e robusta que construí nesse tempo, foi realmente construída sobre vigas quebradas

Ontem acabamos fazendo aquilo... várias vezes... No quarto... No banheiro... No closet... Não acho que Taehyung tenha se contentado com apenas isso. Os seus feromônios estavam sem nenhum controle. Um aroma quente e forte.

Eu ainda não entendo... Por que Taehyung quis dormir comigo? Mesmo sabendo que eu poderia tê-lo rejeitado seu convite. Será que foi por pena? Eu não quero pensar nisso. E se eu me acostumar com isso? Posso estar começando a me apegar com ele, quando estamos apenas tendo um caso.

UM CASO?

Eu virei um amante do meu ex?

Ficar aqui pensando bobagens sozinho não vai mudar nada. Já aconteceu.

Visto um roupão e vou para a sala.

Meus passos ecoam pela longa escada de madeira. Deixando um rastro meu para trás, consigo realmente apreciar o espaço desta vez. A sala principal parece um chalé, com o belíssimo teto abobadado e o piso de madeira brilhando de tão polido. O espaço todo era rodeado por janelas.

— Mas o quê? - murmuro. Digo para onde estivesse vindo aquele cheiro.

Ele solta um suspiro feliz.

— Não vai comer?

— Para que tudo isso? - Questiono, afastando uma cadeira para me sentar.

A agenda após ensaios dele não envolvem preparar o café da manhã para um simples cara como eu.

Taehyung riu, e o canto de seus olhos se enrugou.

— Você não deveria se subestimar tanto... - comentou, ele estava sorrindo daquele jeito modesto e contente, vestindo seu cardigã branco favorito, o que só podia significar que estava de bom humor. - Eu não estou fazendo isso por obrigação, de qualquer forma.

— E qual é o próximo passo agora? Deixa eu adivinhar. Piquenique às seis da tarde?

Taehyung puxa minha cadeira para mais perto. Seu olhar caiu para minha boca, roubando-me um beijo. Ele aprendeu. Finalmente.

— Se você quiser.

Levo a xícara aos lábios soprando o vapor. Sem suspiros cansados. Sem revirar de olhos, sem ironia em sua fala. Sem olhares vagos, mas sincero. Ele sabia o que queria. Queria todo o seu tempo para mim.

Uma sensação familiar me percorreu. Como se eu estivesse olhando para um espelho, anos atrás.

— Há algo de trágico em você. Não concorda, Cherie? - ele alisou meu rosto com os dedos.

Havia algumas linhas em minha bochecha esquerda, por vir direto do travesseiro para cá. Embora Taehyung não parecesse tão exausto quanto eu, ele encontrou meu olhar com um sorriso preguiçoso e sedutor, me obrigando a lembrar da forma como nossos corpos se arrastaram um contra o outro noite passada.

Eu ouço as palavras, mas perco o significado. Fiquei torcendo para que a onda de calor que passou pela minha pele não aparecesse no meu rosto.

Estou em algum lugar fora da minha vida normal. O cavalheirismo de Taehyung lhe caiu como uma espada.

Eu fugi da minha vida com ele porque não suportava não ter sido sua primeira escolha. Agora estou aceitando, ou apenas desejando ser apenas seu?

Você não pode ter tudo o que quer, Jungkook.

Eu vivo meus dias em um fio. Mas o jeito que ele me disse que eu sou dele, faz a minha cabeça se derreter. Doce como um vinho de cereja. Estava tudo bem me sentir assim? Taehyung colocou dois ovos fritos com queijo no prato. Meu estômago parecia estar cheio de pássaros cantando.

— Isso também estava no cardápio? - pergunto segurando um croissant de chocolate. - Quer um pedaço?

Taehyung ergueu uma sobrancelha, largou o pegador de bacon e olhou para mim, confuso.

— Oh, o pãozinho?

— Não precisa fazer essa cara... Você não precisa comer se não quiser.

Seus lábios se separaram. Taehyung mordeu um pedaço.

— Eu sei o quanto você gosta deles. Então pedi para a Rosalie fazer alguns.

Engulo seco. Isso não é justo! Como eu poderia culpá-lo desse jeito?

— Você poderia ter me acordado... E poderíamos ter feito eles... juntos.

Eu senti os braços de Taehyung segurando meu corpo a noite toda enquanto ele dormia. Arrisquei um olhar para ele por cima do ombro e meu pulso acelerou. Ele estava amarrotado, com o cabelo despenteado.

— Sobre ontem à noite... - ele começou. - Espero que tenha sido boa. Quero dizer, você está bem hoje, não está? Não quero que pense que não me importo. - seu rosto estava carregado de ressentimento. - Eu fui muito bruto com você... Parecia cansado... em certos momentos ouvi você fazendo alguns barulhinhos. Eu toquei seu rosto para ver se estava com febre, mas só estava muito calor... e eu...

O que há com esse alfa? Dou um abraço nele. Uma lágrima me escapa.

— Eu realmente estou bem. Eu senti sua falta, Taehy.

Eu sei quem eu sou quando estou sozinho. Mas viro outra pessoa quando vejo Taehyung.

Taehyung não entende, nunca poderia saber. Como é fácil precisar de alguém.

Está uma bagunça. A minha mente.

— Não se sente desconfortável onde mora? Me avise se mudar de ideia. Pensei... Nós... Poderíamos mudar juntos? Poderia me dar essa chance?

— Para ser honesto. É desconfortável sim. Mais ainda morar na casa de outra pessoa. - respondo, roendo a unha do polegar. - Não me cai bem. A sua casa é tão bonita que nem consigo me mexer confortavelmente. Seu cheiro está em todo lugar. Além disso, é muito longe que não posso nem pedir frango frito à noite. Esperar que eles entreguem no dia seguinte frio. Odeio ser picado por mosquitos no meio da floresta, fico com várias manchinhas que doem na pele depois que não saem.

Taehyung desviou o olhar e respondeu em um suspiro pesado.

— Eu não sabia que você estava tolerando tanto durante o nosso passeio. - fez uma careta para mim e sussurrou, cruzando os braços.

Sinto meu peito ficar muito apertado. Merda... Que pessoa mal agradecida eu estou sendo?

— Não... Não quis dizer que foi tão ruim assim...

— Eu achei que seria uma boa ideia para você sair, então eu decidi isso. - ele interrompeu minha fala. Taehyung deu um passo à frente e toca meu ombro. - Mas vejo que isso só te deixou irritado. Me desculpe.

Com um sorriso triste. Aperto a mandíbula.

— Taehyung... espera...

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