Capítulo 39

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- ALINA STARKOV -

O espaço era fornecido conforme nossos passos avançavam no largo corredor.

Os olhares a todo momento me encarando como se não soubessem que eu era real.

Passar em meio a essas pessoas fazia minha cabeça dar voltas e recordar dos meus últimos momentos em Ravka oeste, cada passo que eu dava ecoava não apenas no corredor, mas também nos recantos tristes de minha memória. Eu me via novamente naquele Skiff, deixando para trás o conhecido e o desconhecido.

Eu nunca poderia cogitar que estaria de volta depois de tudo que passei, tudo o que passamos.

"Ela retornou..." — Escutei o breve sussurro de um jovem. Ele se estreitava nas paredes e murmurava para o chão, sua aparência era impossível de ignorar, suas feridas falavam de tormentos que eu só poderia imaginar em meus piores pesadelos. A guerra deixara sua marca em todos nós, alguns de forma mais visível do que outros. A dor, a perda, a violência... Tudo isso era parte de um ciclo interminável que parecia se repetir sem trégua. Ravka era um palco de destruição e caos, e eu sabia disso. As pessoas estavam presas aquela realidade, não importa o quê ou quem fossemos, estávamos presos nesse sofrimento.

'Pensei que haveria a possibilidade de mudá-la... Pensei que teria escapado daquela realidade atormentada, deixando tudo para trás... Mas eu estava errada.' — Nenhum lugar era seguro. Nenhum lugar pertencia a nós, Grishas...

O murmúrio das pessoas ao redor diminuiu à medida que Aleksander avançava à minha frente. Os olhares cessaram e aqueles ao nosso redor logo se dispersaram para suas ocupações. Mantive a cabeça erguida, indiferente aos olhares e às possíveis fofocas que poderiam surgir. Naquele momento, meu único foco era o dever que tinha diante de mim, e nada me deteria.

Dobramos o corredor estreito à esquerda.

Examinei o local.

Era simples: uma porta comum, um Grisha aguardando do lado de fora. Em contraste com a agitação anterior, ali reinava um silêncio pesado, típico de um recinto afastado.

Duas batidas firmes ecoaram na porta.

Toc, toc.

A madeira rangeu ao se abrir.

"General Kirigan" — Ressoou a voz ao fundo.

Reconheci a voz, mas ainda assim, estreitei os olhos, mirando-a por cima dos ombros do homem à minha frente.

Meus olhos se fixaram imediatamente na ruiva, que parecia surpresa. Não havia choque em sua expressão, apenas uma ansiedade palpável.

De alguma forma, meu corpo não reagia com o instinto maternal protetor que eu esperava. Eu sabia que meus filhos estavam dentro daquele recinto, acompanhados por Genya. Meu coração não rugia de ódio; em vez disso, havia um ressentimento e uma tristeza profunda pelo que nos trouxera até ali. Genya demonstrava um sofrimento físico, uma dor que já se tornara quase rotineira desde que me deparei com a realidade além das águas do outro continente.

"Por favor, entrem." — Disse Genya, abrindo mais a passagem da porta.

Aleksander adentrou o aposento primeiro.

Genya se recostava no batente, enquanto eu me aproximava a passos lentos.

"Tio Aleksander!" — Então, a voz angelical da minha pequena ecoou, inundando meus ouvidos e acelerando meu coração. Apressei meus passos, ávida por vê-los, ansiando sentir o calor reconfortante de suas mãozinhas e envolvê-los em um abraço que exprimisse todo o amor que guardava dentro de mim.

Além das Sombras e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora