Culpa

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Olá, pessoal. Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Aqui vamos nós, com mais um fresquinho. 

Não deixem de comentar e opinar. 


Camila POV

Acordei desorientada, a cabeça latejando como se estivesse prestes a explodir. Meus olhos se abriram lentamente, encontrando a luz fraca do quarto de hospital. Um som agudo de bipe incessante me tirava do torpor, e a lembrança do acidente voltou com força total.

O carro, a colisão, o impacto brutal... Tudo em câmera lenta, como um filme de terror que se repetia em minha mente. E então, a escuridão. Um vazio imenso, uma neblina que me consumia.

Lembranças fragmentadas começaram a surgir como flashes desconexos. Imagens de médicos e enfermeiros em volta de mim, seus rostos borrados pela preocupação. A voz da médica que me salvou, me tranquilizando com palavras que eu mal podia entender.

As memórias do acidente se misturavam com fragmentos de nossa vida juntos. Os cinco anos de casamento, cheios de amor, cumplicidade e sonhos. Shawn, sempre tão paciente, tão compreensivo, sempre me apoiando em meus sonhos de ser escritora. Mas havia também um sonho que nos separava. Shawn queria ser pai, construir uma família e ter filhos. E eu... eu ainda não estava pronta.

A visão da minha amiga Dinah, mãe solteira desde os 18 anos, lutando para criar sua filha Chloé sozinha, me assombrava. Ser mãe era uma responsabilidade enorme, e eu não me sentia preparada para assumir esse papel.

Essa era a nossa maior divergência. O desejo de Shawn de ser pai se chocava com meu receio de assumir essa responsabilidade. As discussões sobre o assunto eram frequentes, às vezes acaloradas, mas sempre terminavam com um pedido de desculpas e uma promessa de que encontraríamos um caminho juntos.

Na noite do acidente, voltávamos do aniversário da filha de Dinah, a pequena Chloé. A festa havia sido linda, cheia de risos e alegria. Mas a sombra da discussão sobre paternidade pairava sobre nós. No caminho de volta para casa, Shawn retomou o assunto, e a conversa logo se transformou em uma briga.

"Camila, eu te amo", ele disse, com a voz tensa. "Mas eu quero ser pai. Quero construir uma família com você. Você precisa entender isso."

"Eu te amo também, Shawn", respondi, com lágrimas nos olhos. "Mas eu ainda não estou pronta. Preciso de mais tempo."

"Mais tempo, Camila? Jura?! Estamos casados há cinco anos!!!", ele gritou.

A discussão se intensificou, e eu me lembro de sentir uma raiva crescente. As palavras se tornaram armas, ferindo nossos corações. E então, Shawn, em um momento de frustração, desviou o olhar da estrada.

O impacto foi brutal. O carro bateu em um poste, e tudo se apagou. Agora, aqui no quarto de hospital, com o corpo dolorido e a mente atormentada pelas lembranças, eu só conseguia pensar em uma coisa: Shawn. Ele precisava sobreviver. Eu precisava dele.

A culpa me consumia. Se eu não tivesse brigado com Shawn, se eu tivesse sido mais compreensiva, talvez o acidente não tivesse acontecido.

Com um esforço sobre-humano, me levantei da cama e cambaleei até a porta.

— Shawn, cadê meu Shawn? Meu amor? Cadê meu marido? — gritei.

E essa é a última coisa da qual eu me lembro, eu apaguei mais uma vez, caindo no chão do hospital e desmaiando.

De repente, uma dor lancinante percorreu meu crânio, me fazendo gritar. Abri os olhos com dificuldade, encontrando-me em um quarto branco e estéril, de novo. O cheiro de antisséptico era forte e pungente. Uma enfermeira de jaleco branco me observava com um sorriso gentil.

— Você está acordando, Camila — disse ela com voz suave. — Você sofreu um acidente.

— E Shawn...? Onde ele está? — perguntei, a voz fraca e rouca.

A enfermeira hesitou por um instante antes de responder.

— Seu marido está na UTI. Ele está em estado grave, mas os médicos estão fazendo tudo o que podem para salvá-lo — ela disse, e aquelas palavras foram piores do que um milhão de facas cortando meu peito.

Lágrimas brotaram em meus olhos enquanto a realidade se instalava. Shawn, meu amor, o homem com quem eu havia me casado há cinco anos, estava lutando pela vida.

— Eu quero vê-lo agora. Me deixe sair daqui. — eu gritava.

Comecei a levantar e arrancar todos aqueles fios atrelados ao meu corpo.

— É tudo culpa minha. Eu quero ver meu marido agora! — berrei.

Nesse instante, uma mulher de estatura mediana, com longos cabelos escuros e olhos esmeraldas entrou no quarto. Seu tom era sério e confiante.

— Camila, sou a Dra. Jauregui. Eu atendi você e seu marido no dia do acidente. Preciso que seja paciente, que me deixe te avaliar, e eu prometo que explicarei toda a situação para você. — disse a médica, com uma voz grave e rouca.

Eu juntei tudo em mim para tentar ouvi-la, naquele momento nada fazia sentido. Só queria estar perto de Shawn.

— Tu-tudo bem. Posso vê-lo depois? Eu preciso vê-lo. Foi tudo minha culpa, o acidente, a briga. Eu. Tudo de errado. Foi eu que causei — eu chorava descontroladamente.

— Eu não sei o que aconteceu, mas podemos falar disso depois. Posso direcionar uma equipe de apoio psicológico. Agora, no entanto, eu realmente preciso te examinar. Ok? Teremos que fazer outros exames, você caiu....— ela tentava me acalmar enquanto a enfermeira que estava ao seu lado preparava alguns objetivos.

— E minha família? Eles já sabem? Cadê todo mundo? Quanto tempo eu estou aqui? — eu estava confusa.

— Sim, todos já sabem. Você estava acompanhada de sua... amiga, Dinah, acho que o nome. Ela apenas saiu para que pudéssemos te avaliar. Ficará tudo bem, ok? Se acalme, por favor. — disse a Dra. Jauregui.

Algum tempo depois do exame físico, a médica me explicou que eu ainda precisaria ficar em observação no hospital e aguardar novos exames de imagem. Fazia dois dias que eu estava internada, mas eu não me lembrava, já que estava sedada por todo esse tempo.

— Posso vê-lo? Posso ir agora? — perguntei, minha voz fraca e trêmula.

A doutora assentiu, seus olhos transmitindo compaixão.

— Sim, mas ele está sedado e inconsciente. Não sei se ele poderá te ouvir. — afirmou.

Mesmo assim, eu precisava estar ao lado dele, precisava sentir sua presença, precisava transmitir-lhe a força do meu amor. Com a ajuda de uma enfermeira, me levantei da cama e me direcionei para a UTI.

Tudo em mim doía, mas eu não me importava. A enfermeira me segurava firme e me acompanhou por todo caminho.

Ao ver Shawn deitado na cama, ligado a diversos aparelhos, meu coração partiu em mil pedaços. Sua face pálida e serena, seus olhos fechados, respiração fraca e irregular. Ele estava lutando pela vida, mas eu não sabia se ele voltaria para mim.

Fiquei do lado de fora do vidro e fechei os olhos, apenas me concentrando em transmitir-lhe meu amor, minha esperança, minha força, mesmo que de longe. Sussurrei palavras de amor, prometendo que ficaria ao seu lado, que jamais o abandonaria. Prometi que se ele saísse dessa, teríamos a família que ele tanto sonhava. 


E aí, meus caros. O que acharam? Vejo vocês.  

@k_ccestrabao


Minha pacienteOnde histórias criam vida. Descubra agora