Alta

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Olá, pessoal. Fiquei feliz com os feedbacks dos outros capítulos. Essa história está fresquinha na minha cabeça, e por isso, aqui vai mais um. 

Espero que gostem. Não deixem de comentar. Beijos!!


Lauren POV

Cheguei ao hospital para mais um dia de trabalho. A rotina agitada do pronto-socorro já era familiar, mas hoje havia algo especial, de alguma forma. Era o dia da alta de Camila Cabello, a paciente que me tocou profundamente desde o dia do trágico acidente com seu marido, Shawn.

Havia oito dias que ela estava internada. Apesar de não ser nada agravante, Camila sofreu uma concussão cerebral, uma fratura na mão, e alguns ferimentos superficiais no rosto, pescoço e abdômen.

Enquanto me inteirava sobre o estado dos pacientes, a imagem de Camila me vinha à mente. Lembrava-me de seus olhos cheios de tristeza e esperança, e de como ela se agarrava a cada pequena notícia sobre Shawn, que ainda se encontrava em estado crítico na UTI.

Sabia que a alta seria um divisor de águas. Ela finalmente poderia voltar para casa, mas a realidade da situação de Shawn ainda era delicada.

Com o coração apertado, mas com a firmeza de uma médica dedicada, preparei-me para conversar com Camila. Precisava ser honesta e transparente sobre a situação de Shawn, mas também precisava oferecer esperança e apoio à paciente em um momento tão difícil.

Ao entrar no quarto da minha paciente, encontrei-a sentada na cama, com o olhar distante.

Bom dia, Camila. Como você está se sentindo hoje? — perguntei.

Com voz baixa e triste ela respondeu:

— Melhor fisicamente, mas... meu coração ainda está em pedaços.

Eu sei. Quero dizer, imagino. E é totalmente normal se sentir assim — eu falei.

Eu só queria que ele estivesse aqui comigo. Queria poder conversar com ele, abraçá-lo... — disse a jovem, demonstrando todo seu amor pelo marido.

Era justamente sobre isso que eu gostaria de conversar — iniciei o diálogo para tentar explicar toda situação.

— Como havia dito, você sofreu concussão cerebral, então é normal que ainda sinta dor de cabeça forte ou persistente, vertigens e tonturas, até mesmo sensibilidade à luz e confusão mental — eu falei. 

— A boa notícia é que você recebeu alta hoje, poderá voltar para casa, mas precisará descansar. Repouso absoluto. Nenhuma atividade que exija esforço ou atividade física. Tudo bem? — perguntei e a jovem assentiu.

— No entanto, temos más notícias sobre o estado de Shawn — continuei.

— Não, ele não. Ele está bem, está vivo. Eu sei, eu sinto — ela se apressou em dizer, com olhar desesperado e voz trêmula.

— Sim, ele está vivo. Esta é a esperança que devemos ter, Camila. Mas também precisamos nos preparar para todas as possibilidades — eu afirmei.

O que você quer dizer? — minha paciente perguntou, com tristeza no olhar.

Baixei o tom de voz e escolhi as melhores palavras que vieram à mente:

Os médicos me informaram que, mesmo que o Shawn acorde do coma, há a possibilidade de sequelas graves. Ele pode ter dificuldades para se mover, falar, ou até mesmo reconhecer as pessoas — afirmei.

Expliquei detalhadamente o estado de seu marido, as chances de recuperação e as possíveis sequelas que ele poderia apresentar.

Camila ouviu atentamente, seus olhos se enchendo de lágrimas enquanto eu falava. A dor era visível em seu rosto.

Não! Isso não pode acontecer! Meu Shawn não — ela gritou.

Eu sei que é difícil ouvir isso, Camila. Mas precisa se acalmar. Ele está em boas mãos, estamos fazendo tudo que é possível e o que a medicina nos permite — tentei pontuar antes que ela me interrompesse para dizer:

— Então faça o impossível! Eu quero que ele fique bem. Eu estou confiando em você e nessa "equipezinha" de médicos para salvar o meu marido — disse ela dando ênfase na palavra ao se referir ao time de médicos.

— Sra. Cabello, eu realmente entendo sua dor, mas acredite, ele está nas mãos dos melhores médicos de Miami e eu não admito que fale assim de minha equipe. Seu momento é delicado, e eu respeito. Mas também exijo respeito pelo meu trabalho — respondi.

— A sua alta está assinada, e se não há nada mais que eu possa te ajudar, então, com licença — falei indo em direção da porta, não permitindo que ela devesse qualquer resposta.

Quem ela pensa que é para desmerecer o trabalho árduo que fazemos aqui? Pensei indignada. Sequer olhei para trás, mas pude ouvi-la resmungar algumas coisas em tom baixo. Tentei me focar em outras coisas, afinal, não havia somente Camila Cabello como minha paciente

Com passos leves entre os corredores do hospital, entrei no quarto do Sr. Martin Cooper. A energia positiva que emanava do ambiente era contagiante. Também era o dia de alta dele, um senhor de 59 anos que, apesar de ter caído da escada enquanto arrumava o telhado, se recuperava bem.

Ao lado do Sr. Cooper, sua esposa, Mirian, acompanhava cada passo da recuperação com devoção e carinho. A união e o amor do casal eram visíveis em cada gesto, cada palavra e cada olhar. Era aquele amor que eu queria para mim, que eu sonhava em ter.

Ao me aproximar da cama, fui recebida por um sorriso do Sr. Cooper.

— Doutora Lauren! — ele exclamou, com a voz ainda um pouco rouca, mas com um entusiasmo contagiante. — Que bom ver você! Já estou pronto para voltar para casa! — ele disse.

— Sr. Cooper — respondi, retribuindo o sorriso — Que alegria vê-lo tão bem disposto! Sua recuperação foi incrível, mas antes de ir, preciso verificar alguns detalhes sobre sua alta. Tudo bem? — falei.

Com cuidado, examinei o prontuário do Sr. Cooper, confirmando que sua condição física era estável e que ele poderia retornar para casa com segurança. Expliquei as instruções para os cuidados pós-alta, incluindo a medicação, fisioterapia e repouso.

O Sr. Cooper ouvia atentamente, fazendo algumas perguntas com humor. Sua esposa, Mirian, anotava tudo com cuidado, demonstrando a preocupação e o amor que nutria pelo marido.

— Doutora Lauren — Mirian interveio — obrigada por tudo o que fez pelo meu marido. Sua dedicação e competência me tranquilizaram muito durante esse período difícil. — disse a mulher.

— Foi um prazer cuidar do Sr. Cooper — respondi, emocionada com a gratidão do casal. — Ele é um paciente forte e com um espírito contagiante. Sua recuperação só foi possível graças à força de vontade dele e ao apoio da senhora — falei em resposta.

Ao terminar de avaliar o prontuário, estava pronto para dar a alta.

— Sr. Cooper e Sra. Cooper, desejo-lhes uma ótima recuperação e uma vida longa e feliz juntos. Que este susto sirva como um lembrete da importância de tomar cuidado e aproveitar cada momento ao lado de quem amamos. Nada de subir novamente aquelas escadas, viu!? — eu disse com humor.

Com um último abraço no Sr. Cooper e um aperto de mão caloroso na Sra. Cooper, me despedi do casal.

Ao sair do quarto, carregava comigo a sensação de ter feito a diferença na vida de alguém, e a certeza de que a medicina, além de curar, também pode trazer alegria e esperança. Nada parecido com o que senti atendendo a minha paciente Camila Cabello.


E aí, o que acharam?  Vejo vocês. 

@k_ccestrabao

Minha pacienteOnde histórias criam vida. Descubra agora