Sozinha

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Olá, pessoal. Mais um capítulo fresquinho para vocês. Um beijo.


Narrador POV

O Sol ardia na hora do almoço, enquanto a paciente se despedia do hospital, um nó de angústia apertando seu peito. A alta médica havia sido concedida, mas as palavras da Dra. Jauregui, a médica que a acompanhou durante a internação, ainda ecoavam em sua mente como um fantasma cruel.

Ao lado de Dinah, Camila se acomodou no carro. O silêncio pairava sobre elas e a estrada se estendia diante de seus olhos.

— Ainda não acredito que ele está assim — Camila murmurou, a voz embargada quebrou o silêncio. — Shawn, tão forte, tão cheio de vida, agora... — continuou.

Dinah apertou sua mão com força, buscando oferecer algum tipo de conforto.

— Eu sei, Chancho — ela respondeu com compaixão. — Mas você ouviu o que a médica disse, que ele está em boas mãos. Os médicos estão fazendo tudo o que podem — continuou.

— Tudo o que podem? Jura, Dinah! — Camila questionou, a raiva brotando em seus olhos. — Tudo o que podem é me dizer que ele pode ter sequelas graves? Que ele pode nunca mais ser o mesmo? — a morena exclamou, ainda indignada com a situação.

Dinah engoliu em seco, sem saber como responder. Ela compreendia a dor de sua amiga, a fúria que consumia, ainda mais por se sentir culpada após a discussão. Mas também sabia que a amiga precisava de força e apoio, não de palavras vazias.

— Camila, sei que é difícil, mas você precisa ser forte. O Shawn precisa de você agora mais do que nunca. E precisa de você bem, não dessa versão surtada — disse a loira, tentando trazer a amiga para a realidade.

A morena desviou o olhar da amiga, as lágrimas ameaçando cair. A ideia de Shawn debilitado, dependente, era insuportável. Como ela poderia cuidar dele? Como poderia seguir em frente sem a força e o amor do marido?

— Eu não sei o que fazer, Cheechee — ela confessou, a voz cheia de emoção — Sinto como se estivesse entrando em uma luta sozinha sem armas — disse Camila.

Dinah parou o carro e a envolveu em um abraço apertado, transmitindo amor e apoio que a amiga precisa.

— Nunca mais diga isso. Você não está sozinha. Eu estou aqui com você, e todos os nossos amigos também. A sua família também. Você sabe! — respondeu Dinah, sem deixar o abraço.

No fundo, ela sabia que sim. Tinha uma ótima rede de apoio. A cada quilômetro percorrido no carro, Camila se afastava do hospital e se aproximava de sua casa, mas também se aproximava de um futuro incerto. 

As palavras da médica sobre as possíveis sequelas de Shawn ainda ecoavam em sua mente, alimentando a sua angústia.

Ao chegar em casa, ela foi recebida por um silêncio ensurdecedor. A ausência de seu marido era palpável, cada canto da casa parecia vazio sem a sua presença. As memórias felizes do passado inundaram sua mente, intensificando a dor da perda.

Exausta e abatida, Camila se sentou no sofá, as lágrimas finalmente brotando em seus olhos. "Fazendo tudo que podem.....uhum", pensou a morena antes de se deixar adormecer, vencida pelo cansaço.

Camila POV

O sol penetrava pelas frestas da cortina, anunciando o início de um novo dia. Abri os olhos devagar, ainda sentindo o peso da noite anterior sobre meu peito. As lembranças do acidente, da internação de Shawn, da alta médica e das palavras da médica me que invadiram como uma onda gelada.

Levantei-me com cuidado, sentindo uma dor latejante na mão esquerda. O gesso apertado me lembrava da minha fragilidade, do meu estado de dependência. A ideia de me virar sozinha, de cuidar de mim mesma e do meu marido, me causava um medo avassalador.

Caminhei lentamente até a cozinha, o silêncio da casa ecoava com meus passos. Na geladeira, encontrei as marmitas que Dinah havia preparado com tanto carinho. Agradeci mentalmente à minha amiga por sua generosidade e cuidado. Mas hoje pela manhã, meu estômago pedia algo mais leve.

Peguei um suco de laranja e uma maçã da fruteira. Sentei-me à mesa, observando a luz do sol dançar sobre os imóveis vazios. A casa parecia sem vida, sem a energia contagiante de Shawn.

Enquanto mastigava a maçã, meus pensamentos voavam para ele. Imaginava-o no hospital, lutando para se recuperar, para voltar para mim. 

Precisava cuidar de mim mesma para poder cuidar de Shawn para quando ele voltasse para casa. Precisava me alimentar bem, descansar e seguir as instruções médicas.

Terminei a maçã e o suco de laranja, lavando a louça com cuidado para não machucar a mão enfaixada. A cada movimento, a realidade da minha situação se tornava mais presente. Eu estava sozinha, ferida e com um futuro cheio de dúvidas.

Eu ainda era uma escritora sem sucesso, publiquei dois romances que não foram tão bem, com vendas baixas nos EUA. Talvez eu conseguisse novas histórias agora, pensei. 

Sentada à frente do computador, tentei me concentrar em uma nova história. A tela em branco piscava diante dos meus olhos.

Os dedos da única mão boa pairavam sobre o teclado, buscando palavras que expressassem a tempestade de emoções que me consumia. A imagem de Shawn, frágil e debilitado no hospital, ainda assombrava meus pensamentos. Precisava vê-lo, talvez mais tarde, no horário de visita eu fosse ao hospital.

Enquanto navegava pela internet em busca de ideias, o telefone tocou, interrompendo o silêncio da casa. E eu dei graças a Deus. Era minha mãe, com uma voz alegre que contrastava com a melancolia da minha.

— Oi, filha! Como você está? Eu estou tão preocupada! — Dona Sinu é sempre calorosa.

— Eu estou bem, mãe. Só com um pouco de dor — menti, pelo menos a primeira parte. Não queria que ela soubesse que estou um caco porque meu marido terá sequelas do acidente que eu provoquei.

— É sobre isso que quero falar. Tenho uma ótima notícia! — ela exclamou.

— Consegui folga no trabalho e estou indo te visitar! Eu e Sofia chegaremos aí em breve — ela disse totalmente empolgada.

Um sorriso hesitante se formou nos meus lábios. A ideia de ter sua mãe e sua irmã mais nova por perto me confortava, mas também me deixava apreensiva. Não queria que elas vissem minha dor e fragilidade.

— Mãe — disse, tentando esconder a tristeza em minha voz — Você não precisa se preocupar comigo. Estou bem.

— Não seja boba, Kaki — ela respondeu com firmeza. — Sei que você está passando por um momento difícil, e é por isso que estamos indo. Queremos te dar apoio e carinho.

Engoli em seco, as lágrimas ameaçando cair. Droga, eu estava tão frágil. A preocupação da minha mãe me emocionava. Mas havia outro porém, eu realmente não queria ficar sozinha.

— Tudo bem. Estarei esperando por vocês — finalmente eu disse.

Desliguei o telefone com o coração batendo em uma mistura de apreensão e expectativa. A chegada da minha mãe e minha irmã significava companhia, e era tudo que eu precisava agora.


Oi, lindos. Espero que estejam gostando!! Deixem sugestões e opiniões sobre os capítulos, são sempre bem-vindas.

Beijos, vejo vocês.

@k_ccestrabao



Minha pacienteOnde histórias criam vida. Descubra agora