Olhos de vidro

Capítulo 2

Brasil, Rio de Janeiro - 1 mês depois.

O sol nascia por detrás do famoso e imponente Pão de Açúcar, um dos vários monumentos naturais existentes na cidade maravilhosa chamada Rio de Janeiro.

Pessoas caminhavam calma e trajando roupas de praia, academia, caminhada e roupas formais, pois seguiam para o trabalho e não para diversão, como alguns faziam.

Entre elas e sentada em um banco de cimento ao lado de uma estátua, cujo nome ela não sabia, estava uma menina de idade desconhecida, conhecida apenas por Alice por quem passava pelas calçadas, fios longos e sujos, olhos famintos e roupas rasgadas, olhando ao redor e sendo completamente ignorada por mulheres de alto nível e homens musculosos, crianças que, desde pequenos eram ensinados a ignorar quem não fazia parte de seu convívio social, deixando a menina com uma das mãos erguidas e pedindo, apenas um trocado ou algo para comer.

Ninguém notava sua presença e tão pouco lhe olhavam, e isso machucava o coração tão jovem e que não escolheu ter a vida que tem.

A menina se levantou, caminhando descalça pelo piso quente, correndo para não se machucar e assim que conseguiu espaço em um quiosque para se proteger do sol, foi expulsa aos gritos e ameaças de chamarem a polícia, obrigando ela, tão jovem, a sair e encarar o mesmo sol e piso quente.

Muitos continuavam a ignorando e aos poucos ela encontrou a sombra abaixo de uma árvore, sentando no chão e sentindo o próprio estômago emitir sons devido à fome de horas e horas sem comer algo sólido e vagar pelas ruas em busca desse, para ela, sonho.

A alguns metros e caminhando ao lado de uma mulher, cuja idade era passando dos 20 anos, estava uma mulher bem vestida, roupas formais e longos fios loiros, sapato social e bolsa de mão, falando que não, ela não iria gastar uma fortuna por um pedaço de papel.

Seu nome é S/N Castro, advogada formada a um ano, mais que luta para conseguir um emprego sólido e capaz de lhe sustentar, assim como manter uma vida digna para seus pais, sendo ela a única filha a conseguir sair de um interior do Pará para ingressar em uma importante Faculdade do Rio de Janeiro, local que formou nomes importantes do mundo empresarial e jornalístico.

S/N continuava caminhando enquanto ouvia de sua amiga, Margô Fernandez, também advogada, que ela precisava se permitir sentir algo diferente, mas teve como resposta:

- Você é assim, Margô, fica com um hoje e amanhã outro. - caminha - Eu não! Tenho meus compromissos e o mais importante - a olha - Arrumar um bom emprego.

- Então você pode, ao menos, ir comigo no show?

- Um show que vai acontecer em 2026? Ah, Margô!

- Mas é o show!! - comemora - Vamos, vai? Eu pago seu ingresso.

- Não! - a olha novamente - O valor desse ingresso já me ajuda e ainda ajuda meus pais. - pega a bolsa - Não vou dar mais de 4 mil reais em um pedaço de papel, tá doida?

- Ah, mas você é chata!!! É a Adele, poxa!!

- Ah, meu Deus é a Adele!!! Vou chorar de emoção!

S/N fez uma leve expressão de choro, mas riu segundos depois com as próprias palavras, e quando iria falar algo ainda mais engraçado para testar a paciência de sua amiga, encontrou os olhos tristes de uma menina sentada debaixo de uma árvore e brincando sozinha com suas roupas sujas e rasgadas, não pensando duas vezes ao se aproximar e se ajoelhar em frente a ela, sorrir e perguntar:

- Tudo bem?

- Hum hum.

- Como é seu nome?

- Alice.

- Alice? Você está sozinha?

- Sim!

- Onde estão seus pais?

- Eu não tenho e... você tem alguma moeda para me dar? Por favor?

S/N conseguiu ouvir um som bem baixo vir do estômago da garota, e segundos depois sua amiga Margô falar:

- Vamos, S/N!

- Pode ir, eu vou depois.

- Ah, S/N?

- Vai! Mas que coisa!!

Ambas se olhavam intensamente e era nítida a reação de negação de S/N com a atitude fria de sua amiga, e poucos segundos depois ela a viu continuar caminho e esquecer a menina, que nem olhou, diferente de S/N que voltou suas atenções a ela e ergueu uma das mãos, vendo a firmeza e certeza da garota, assim como o sorriso ao ouvir:

- Vamos almoçar?