Uma Noite em Curon - Mauro Bellini

86 4 0
                                    

Curon é uma cidade enigmática e repleta de segredos, envolta por uma atmosfera misteriosa que parece pairar sobre suas ruas de paralelepípedos. Situada em meio a uma densa floresta em um lugar qualquer, suas casas de arquitetura antiga e os contornos sombrios da catedral submersa no lago criam um cenário intrigante.

O sol se põe lentamente sobre Curon, lançando sombras longas por todos os lugares. A noite chegava e uma festa estava prestes a começar, você encontra-se próximo ao lago, onde a água reflete a luz da lua cheia. Segurando uma garrafa de vinho já aberta o silêncio da noite é quebrado por passos suaves. Mauro, seu novo colega, se aproximando e cumprimentando você com um sorriso.

– Isso não é para a festa? – Ele pergunta, se arrumando para sentar-se ao seu lado – Você roubou? Que coisa feia S/n.

Mauro é um jovem de cabelos escuros e bagunçados, com um sorriso fácil e expressivo. Sempre que ele se aproximava, carregava consigo uma presença calorosa e acolhedora, como se fosse impossível não gostar dele.

– Não vou morrer por beber uma garrafa antes da festa, e eu paguei para vir, tenho direito de roubar uma garrafinha – Você responde, sorrindo e dando mais uma golada na garrafa – Está tudo tão estranho esses dias, não é? – Mauro concorda, olhando ao redor com uma expressão séria.

– Sim, as coisas estão realmente estranhas ultimamente. Ainda mais com as pessoas desaparecendo assim – Ele parece tenso, como se estivesse falando menos do que realmente sabe.

– Acho que vamos ser os próximos – Você brinca, passando a garrafa para Mauro – Mas deve ser só as pessoas se tocando que Curon não tem futuro e fugindo daqui, se eu pudesse eu faria o mesmo.

– E para onde você iria? – Mauro pergunta, mesmo já sabendo a resposta, ele entende como você sonha em ser livre.

Ao ouvir a pergunta, você rapidamente solta a garrafa e se levanta sorrindo – Você sabe, qualquer lugar. Talvez eu queira poder conhecer o mundo, tá, talvez não o mundo, mas algo maior do que isso, algo maior que Curon.

Mauro tinha os olhos presos a você, ele amava ver como se animava ao falar dos seus sonhos, como você tinha determinação para sair daquele lugar. Ele acabara de chegar ali, mas também adoraria sair, ainda mais se fosse com você.

– Mas sério, isso não é normal. E se for um assassino? – Seu olhar estava frio, não realmente frio, e sim preocupado com o que possa acontecer a você e sua família.

Mauro pega a garrafa, seu sorriso desaparece ao ouvir a sua pergunta – Não sei, cara. Pode ser apenas uma coincidência, nada acontece por aqui, é tão tranquilo para tudo... Acho que devemos apenas ignorar, vão resolver essa merda.

– Então sair para uma festa à noite não me parece uma boa ideia – Você responde, virando de costas para o amigo e olhando a grande torre do relógio que ficava no meio do lago – Como acha que é lá embaixo? Sabe, na catedral? – Você pergunta, pegando pedras do chão e as jogando para o lago.

Mauro olha na direção da torre do relógio, com uma expressão pensativa – A catedral... Dizem que é um lugar assustador, cheio de segredos sombrios. Alguns dizem que há algo lá embaixo, sob a catedral, algo antigo e maligno. Mas são apenas histórias, não é?

– Sim, só histórias para assustar criancinhas como você – Seu sorriso acalma Mauro. Andando na direção do garoto, seu sorriso brincalhão logo mudou para algo com mais desejo, algo íntimo. Seus passos chegaram à frente de Mauro.

Ele deu mais um gole na garrafa e a estendeu para você, seus olhos se observavam, seus corações batiam em sincronia, vocês eram um só. Pegando a garrafa, você foi devagar ao colo dele, se sentando sobre o garoto.

– Talvez eu devesse ir embora daqui logo, antes que algo me prenda, sabe? – Você questiona, se arrumando no colo alheio enquanto passava suas mãos envolta do pescoço do moreno.

– Ah, e nem vai me levar? É assim que você me trata depois de tudo que passamos juntos? – Ele leva as costas da mão até a testa fazendo seu drama.

– Você já ouviu falar dos boatos de que o sino toca às vezes no meio da noite e só quem vai morrer o ouve? – Você pergunta, olhando nos olhos castanhos dele – Dizem que é um som fantasmagórico, que ecoa pela cidade vazia. Alguns dizem que é apenas o vento, mas outros juram que é algo mais sinistro, algo que está lá embaixo... Esperando... É um dos grandes mistérios de Curon, meu caro Mauro...

E assim vocês ficaram por um bom tempo, apenas aproveitando a presença, olhando um para o outro, o silêncio entre vocês era reconfortante, havia uma química inexplicável, foi assim desde a primeira vez que vocês se viram e sabiam disso.

– Vocês não vão vir? A festa já começou – Seu namorado apareceu pouco atrás de vocês, ele estava segurando uma lata de cerveja e olhava vocês dois, não muito feliz com o que estava vendo.

– Já estamos indo – Mauro avisa, te empurrando para fora do colo dele, o que te faz cair no chão. Ele rapidamente se levanta e te olha mais uma vez antes de ir andando para as ruinas de onde a música vinha.

Você se levantou, tentando limpar suas roupas de grama e terra. Bufou ao olhar para seu namorado, sabia que mesmo tendo algo aberto com o rapaz, ele não gostava de Mauro, só não sabia o motivo.

Pegando a garrafa do chão, você olhou mais uma vez para o lago. A essa hora, ele já estava iluminado pelas estrelas, o som alto vinha de trás de você te chamando como um imã. Você realmente não resiste a uma boa festa.

– Eu notei o que você fez – Você falou, se virando para seu namorado – Está me devendo uma – Continuou sorrindo enquanto olhava para ele, que apenas bufou.

– Vamos logo, quero voltar antes que abram a vodka boa – Ele disse, fazendo você ir andando até ele. Chegando ao seu lado, ele passou a mão pela sua cintura e vocês foram caminhando na direção da festa.

Um estrondo ressoou, fazendo você parar abruptamente e virar a cabeça – Você ouviu isso? – Perguntou, com um riso nervoso traindo a tensão em sua voz. Seu namorado também interrompeu os passos, os olhos vasculhando o ambiente.

– Isso o quê? Não ouvi na... – Ele tentou completar a frase, mas você já havia retomado o caminho, deixando-o para trás. Com um último olhar para trás, você o vê parado, sem perceber nada na escuridão densa de Curon. 

Imagines MaleReaderOnde histórias criam vida. Descubra agora