𝙄 𝙠𝙣𝙚𝙬 𝙮𝙤𝙪 𝙬𝙚𝙧𝙚 𝙩𝙧𝙤𝙪𝙗𝙡𝙚 • 𝙋𝙅𝙊

𝘊𝘢𝘱í𝘵𝘶𝘭𝘰 8 - 𝘝𝘢𝘭𝘦𝘳𝘪𝘦 𝘐𝘐

Valerie odiava ser uma legionária. Odiava mais ainda a pressão que colocavam em cima dela por ser filha da Deusa da guerra, mas se tinha algo que realmente a tirava do sério eram as punições do Acampamento Júpiter. Afinal, eram romanos, e apenas esse adjetivo implicava que a maioria era fanática por disciplina e acreditavam que deveriam ser severamente punidos pelo menor dos erros.

A palavra rondou sua mente e a fez sentir um gosto amargo na boca mesmo que fizesse algumas longas horas que estivesse sem beber ou comer absolutamente nada. Não deveria ser assim. Ninguém deveria passar por isso, nem aqui e nem em lugar nenhum.

Valerie observou o sol do final de tarde por dentre as pequenas janelas da câmara de pedra e se perguntou há quanto tempo estava ali e quanto tempo mais ainda permaneceria naquele lugar que começava a se tornar tão conhecido. Uma hora e meia? Duas, talvez três horas? Ela não tinha ideia, afinal, foi enviada até ali quando não deveria ser nem uma hora da tarde. A semideusa afundou na cadeira que estava no meio da cela na melhor posição possível dadas as circunstâncias em que se encontrava: seus tornozelos estavam amarrados aos pés do assento e ambas as suas mãos estavam presas na parte de trás.

Sua mente divagou por horas a fio até sentir uma dor lancinante em sua têmpora que a obrigou a retornar para a sua infeliz realidade.
Valerie bufou com impaciência. Esperar definitivamente não era sua melhor habilidade.
E então, para piorar a situação, Valerie lembrou-se do que a esperava: uma adorável conversa com a pretora que seria responsável por definir sua punição. Um arrepio lhe percorreu o corpo e suas mãos começaram a suar frio ao pensar nisso. A sucessora da sucessora de Reyna não era conhecida por ser compassiva e governava a mão de ferro ao lado do irmão gêmeo. O trabalho era bem dividido, é claro, mas para seu azar — ou seria sorte? — foi ela quem ficou responsável por avaliar os problemas das legiões. E até onde Valerie sabia, haviam muitos problemas que precisavam de atenção imediata, o que significava que a líder tinham de pouca a nenhuma paciência para corrigir os soldados que ousavam andar fora da linha.

— Espero que todo esse silêncio seja porque está refletindo sobre o que fez mais cedo e me poupe de precisar gastar um tempo precioso lhe dando um esporro. — Valerie piscou e engoliu em seco ao ouvir a ameaça dita com um tom surpreendentemente doce.

Ao erguer o olhar, viu a pretora fechando a porta da cela atrás de si, colocando outra cadeira a sua frente, na qual se sentou com um gesto gracioso. A pretora arqueou uma sobrancelha ao perceber que estava sendo encarada. Valerie rapidamente desviou o olhar, embora não conseguisse mantê-lo longe da semideusa sentada à sua frente por muito tempo. Na verdade, sentia que era impossível, quando ela claramente parecia ter sido feita para ser encarada.

— E então, soldada? — Valerie se sobressaltou ao ouvir o tom mais forte de sua voz. A voz da comandante das legiões. Seu corpo reagiu de imediato após anos e anos de treinamento, tentando se colocar em posição de sentido, mas sendo impedida por causa das amarras.

A semideusa morena de cabelos escuros baixou o olhar, subitamente encontrando algo extremamente interessante em seus coturnos. A pretora aproveitou esse momento para lhe avaliar. Valerie não estava gravemente machucada, tendo apenas um fino corte acima do supercílio esquerdo, seu cabelo e roupas estavam sujos de lama seca.

— Eu... hm... — Valerie não conseguiu dizer muito mais, mas reuniu coragem o suficiente para finalmente erguer os olhos e encara-la de frente.

Aurélia Corvinus era uma semideusa filha de Vênus que havia herdado as habilidades de sua mãe divina. Era alta, pálida e esguia além de ostentar um lindo e lustroso cabelo dourado — que lhe dera seu nome — e olhos verdes como esmeraldas. A túnica púrpura constrastava com sua pele clara e lhe dava um ar etéreo e superior, como ela de fato era na hierarquia.