𝘊𝘢𝘱í𝘵𝘶𝘭𝘰 7 - 𝘙𝘶𝘦𝘭𝘭𝘦 𝘐

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𝐇𝐀𝐕𝐈𝐀 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐃𝐈𝐅𝐄𝐑𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐍𝐀𝐐𝐔𝐄𝐋𝐀 𝐂𝐀𝐒𝐀 𝐀𝐁𝐀𝐍𝐃𝐎𝐍𝐀𝐃𝐀, que Ruelle conhecia tão bem. A construção de dois andares era feita com tijolos avermelhados que ostentavam os anos de descaso e abandono, a julgar pelo modo como a natureza se apossou do local.
A vegetação que a circundava estava murcha e enegrecida, contrastando com o verde brilhante que outrora se estendia por todos os lados da clareira.

Era noite — talvez madrugada — e Ruelle sabia que não deveria estar ali, entretanto, não conseguiu resistir ao chamado que parecia vir daquele lugar. Não, Ruelle não se lembrava de já ter estado lá de fato, mas algo dentro de si lhe dizia que já estivera ali mais vezes do que poderia contar, que fora feliz e bem tratada. Por que e por quem, ela não fazia ideia alguma. Não tinha sequer uma pista, por menor que fosse. Além do mais, sabia que não estava realmente lá... onde quer que "lá" fosse. Aquilo era um sonho. Todas as suas idas até a clareira sempre eram por meio de sonhos.

A lua cheia iluminava parcialmente o local com uma luz cálida que sempre se concentrava no mesmo ponto: na frente da casa, antes do primeiro degrau da plataforma que levava até a posta da frente. Ruelle nunca subia ou tentativa entrar, no entanto, porque já sabia — por causa de suas experiências anteriores — que uma barreira a impediria de subir a pequena escadaria. A ruiva sempre ficava frustrada quando essa parte se repetia em seus sonhos noite após noite. Entretanto, algo diferente aconteceu.

Ruelle ouviu sons de risada caracteristicamente infantis vindos de algum ponto que ela não conseguiu distinguir, pois poderiam vir tanto de dentro quanto de fora da construção à sua frente. E então, como se para responder a sua dúvida, ela viu três meninas de aparência etérea — uma ruiva e duas morenas — mais ou menos nas idades de três ou quatro anos, correndo de forma despreocupada com um halo prateado ao seu redor, com se a luz lunar as acompanhasse por onde quer que fossem.

A ruiva poderia muito bem ser sua versão mais nova, mas Ruelle tinha certeza de nunca ter visto as outras duas: uma delas tinha traços de ascendência asiática — provavelmente japonesa — enquanto a outra poderia ser grega ou estadunidense, talvez até ambos.

Por que alguém deixaria três crianças brincarem do lado de fora de um bosque no meio da noite? Se perguntou, ainda acompanhando a brincadeira de pega-pega.

Distraída, voltou sua atenção para a clareira que poderia facilmente ter sido parte de algum cenários dos mais famosos filmes de contos de fadas da Disney. As árvores, escurecidas pela noite, possuíam o mesmo brilho prateado que envolvia todo o lugar.

Paz. Essa era a se sensação que Ruelle sentia ao estar ali, mas assim como a visão das crianças era algo diferente do usual, a sensação de estar sendo observada espalhou um arrepio por todo o seu corpo. Foi quando uma urgência desconhecida fez com que parasse de analisar o lugar e saísse correndo clareira adentro.

Fugindo. A jovem ruiva sabia que estava fugindo de alguém ou alguma coisa, mas não sabia quem ou o que a perseguia, assim como também não queria se virar para descobrir. Os sons de galhos sendo pisoteados, folhas sendo arrancadas e dos pesados passos atrás de si eram o suficiente para manter seu corpo e sua mente em estado total de alerta.

Continue! Não pare! Precisa correr se quiser continuar viva! Ruelle sabia que, às vezes, a mente humana podia pregar algumas peças como uma forma de proteger o corpo — ou a si própria— e mantê-lo vivo, por isso ela escutava a própria voz de modo amplificado.

A escuridão que a cercava parecia se tornar cada vez mais densa à medida que ela adentrava o bosque e se afastava da luz lunar, a qual estava barrada pelos dosséis das árvores. Ruelle jamais estivera ali antes.

𝙄 𝙠𝙣𝙚𝙬 𝙮𝙤𝙪 𝙬𝙚𝙧𝙚 𝙩𝙧𝙤𝙪𝙗𝙡𝙚 • 𝙋𝙅𝙊Onde histórias criam vida. Descubra agora