𝒞𝒶𝓅í𝓉𝓊𝓁𝑜 𝟫 - 𝒜𝓊𝓇é𝓁𝒾𝒶 𝐼𝐼𝐼

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— O que você quer dizer com "ela fugiu"? — A voz calma da pretora não enganou o responsável pela vigília dos prisioneiros na noite anterior, um semideus filho de Marte que ainda perdia para ela em força e altura.

O moreno engoliu em seco sob o escrutínio do olhar da pretora e desviou o olhar para o chão.

— Não vimos ou ouvimos nada de suspeito durante nosso turno. Tampouco sabemos como ela saiu sem que ninguém a visse... a não ser, que soubesse o horário da troca de turnos e... — Ele se calou porque sabia que estava piorando a situação.

— Acha que algum legionário pode tê-la ajudado? — questionou, escorada na parede rochosa da cela onde Valerie deveria estar.

O soldado negou com convicção.

— Impossível. Não me leve a mal, mas Valerie não era exatamente próxima de absolutamente ninguém. Não tinha amigos ou colegas. Estava sempre só e não conseguia permanecer na mesma coorte por mais de dois meses. Duvido que alguém a tenha ajudado.

Aurélia ouviu com atenção mesmo que não demonstrasse absolutamente nada. Por dentro, no entanto, sentiu uma sensação incômoda ao pensar na solidão com que a morena tinha se acostumado a viver. Lembrou-se de seu olhar desesperançoso quando percebeu que seria punida novamente e que Aurélia nada faria para ajudá-la, sequer atenuar um pouco a pena daquela vez.

— Quero que encontre o responsável por isso e o traga para mim e que fortifique suas patrulhas. Verdade seja dita, tivemos sorte que o incidente foi a fuga de um dos nossos. Já pensou o que poderia ter acontecido se um monstro tivesse invadido o acampamento? — ralhou a loira, sentindo suas têmporas pulsarem. Ótimo, sua enxaqueca resolveu aparecer quando menos era necessária.

Aurélia sabia que a resposta que recebera havia sido "Sim, senhora", entretanto, tudo o que ouviu foi um conjunto da voz de Valerie em diversas memórias nas quais ela sempre lhe respondia "Sim, pretora". Sentiu seus dedos apertarem a haste da lança com ainda mais força, tornando os nós esbranquiçados pela força desnecessária. A filha de Vênus não se sentia no comando de suas próprias ações, no entanto. Na verdade, raramente o sentia quando se tratava de Valerie.

Aurélia ouviu a própria voz dar a ordem para que o soldado se fosse, mas tudo o que viu foi o moreno deixando-a sozinha na cela. A pretora suspirou e, em um ato de frustração, atirou uma das adagas que carregava consigo contra uma fenda entre dois blocos de pedra, acertando exatamente em seu ponto de encontro. Outra lembrança a atormentou, entretanto, essa era mais específica.

Valerie estava com as mãos presas acima da cabeça em um estranho aparato feito de madeira e ferro, enquanto Aurélia se encontrava em pé em uma plataforma um pouco mais alta à sua frente, a encarando de cima. Todos os legionários e os habitantes de Nova Roma tinham se aglomerado no Coliseu para assistir a primeira punição pública romana em séculos após a queda do mais poderoso império do Mundo Antigo.

Ninguém sabia ao certo o que esperar. Nem a pretora, e muito menos a semideusa que receberia a punição. Uma trompeta soou, calando a todos e finalmente cessando os burburinhos que preenchiam o ar. Um silêncio denso pairou enquanto Aurélia se preparava para pronunciar a acusação e a sentença.

Quando o público aplaudiu, ela soube a decisão estava tomada. Valerie iria sofrer nas mãos do acusador, mas isso não significava que ela ficaria sentada e assistiria.

Valerie sentia o coração batendo rápido em seu peito assim como a crescente sensação de pânico que se instalava em seu corpo, mas ainda sim cometeu o erro de erguer a cabeça, esperando conseguiu qualquer perdão possível de Aurélia, mesmo que seu "crime" não tivesse sido diretamente contra ela. "Erro" porque viu a pretora como jamais a vira antes.

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⏰ Última atualização: May 23 ⏰

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𝙄 𝙠𝙣𝙚𝙬 𝙮𝙤𝙪 𝙬𝙚𝙧𝙚 𝙩𝙧𝙤𝙪𝙗𝙡𝙚 • 𝙋𝙅𝙊Onde histórias criam vida. Descubra agora