VI

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Gatilhos: homofobia internalizada, alienação religiosa, idealização suicida.

As cenas onde contém os gatilhos vão estar sinalizadas com ⚠️ caso queiram pular.

...

Tudo estava mergulhado na escuridão, ele não entendia por que, afinal, tinha certeza de que já estava dormindo há um bom tempo e seu quarto deveria estar um pouco iluminado pela luz do sol e pelas luzes LED que costumava deixar acesas. Não demorou muito para ele perceber que estava de pé, tornando tudo ainda mais estranho.

Uma sensação de realidade se misturava com confusão, ele começou a andar às cegas, percorrendo uma distância considerável até encontrar uma luz fraca, no entanto, ao se aproximar, todo o seu corpo estremeceu. Felix estava ajoelhado no chão, com o rosto ensanguentado, soluçando baixinho, como costumava fazer quando era criança.

Enquanto tentava compreender a situação, um cano de arma surgiu, apontado para a cabeça de seu irmão, nesse momento, ele se viu paralisado, incapaz de fazer algo além de correr desesperadamente na direção de Felix, gritando para que ele fugisse e que o ajudaria, mas já era tarde demais, sempre parecia tarde demais.

Ninguém parecia ouvir. Ele sabia que era apenas um pesadelo, mas todas as vezes eram angustiantes e reais demais, sentia cada detalhe em sua pele e em todo o seu corpo.

Sempre parecia ser tarde demais.

As emoções, o desespero e a dor de testemunhar o assassinato de seu irmão diante de seus olhos eram avassaladores, mesmo que fosse apenas um pesadelo, era perturbador demais para aguentar quase todas as noites.

Chan acordou abruptamente, acostumado a despertar pensando no trabalho, mas logo se lembrou que era seu precioso domingo de folga, um suspiro aliviado escapou de seus lábios enquanto se levantava para lavar o rosto e realizar sua rotina matinal. Ao sair do quarto, deu de cara com Felix, sentado na mesa da sala, e como sempre, seu irmão estava imerso em seus próprios pensamentos, com fones de ouvido, desenhando modelos de roupas que gostava.

O mais velho passou por trás dele, depositando um beijo carinhoso no topo de sua cabeça.

Felix estava ali, são e salvo, e permaneceria assim.

- Bom dia, Channie.

- Bom dia, florzinha. - Chan se senta no sofá com uma expressão sonolenta e cabelos desgrenhados - Acordou cedo?

Felix assente - Preciso apresentar um trabalho amanhã, tô meio ansioso.

- Hmmm, mais tarde a gente bebe algo pra você conseguir dormir direitinho e se concentrar amanhã, que tal?

O garoto ri da ideia do irmão, mas apenas concorda com a cabeça, sabendo que não era uma má ideia. Observa o mais velho pegando seu celular e sorrindo levemente, Felix franze as sobrancelhas e cruza os braços em sua direção, não era a primeira vez que flagrava o irmão sorrindo daquela forma para a tela digital.

- Tá esquecendo de me contar alguma coisa?

Felix questiona com um tom falso de seriedade.

- Hm? - Chan murmura, confuso, enquanto o garoto aponta para o celular. Chan não consegue conter uma risada. - Nada demais, você não vai acreditar se eu falar.

Ele provoca, sabendo que isso deixaria Felix ainda mais curioso, o garoto fecha seu caderno e corre até o sofá. Todos sabiam que Chan só levava as coisas a sério com uma pessoa, e eles não tinham um compromisso, mas estavam confortáveis com a situação, se as pessoas não viessem até ele, ele não ia até elas, então ver Chan sorrindo para o celular do nada era, de fato, estranho.

Treacherous | Jeongchan Onde histórias criam vida. Descubra agora