Sete anos.

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Os dias de inverno sempre foram os preferidos dos irmãos Black. Apesar do frio cortante e da corrente de ar que jogava seus pequenos corpos para trás, ainda era a melhor época do ano para brincadeiras.

Era no inverno que Sirius e Regulus se tornavam os reis dos impérios gelados que erguiam com as próprias mãos, guerreiros lutando em lados opostos até um ser fatalmente derrubado com tiros de bolas congeladas, anjos que caíam do céu e deixavam suas marcas na terra, deuses que criavam vida. Regulus duvidava que lançar feitiços fosse tão mágico quanto esses momentos com seu irmão.

Mas, enquanto Sirius o carregava nas costas até o cume de um pequeno morro, Regulus não se sentia tão poderoso. Na verdade, sofria com suas pernas enfraquecendo e a cabeça girando. Não ajudava Sirius usar, ilegalmente, magia para levitar um trenó atrás deles, com a varinha que roubou da cabeceira do pai enquanto ele dormia. Regulus temia apenas a ideia do castigo que receberiam se os pais descobrissem onde estavam e o que estavam fazendo.

— Por que ir tão alto, Sirius? — o caçula perguntou, tirando uma risada do irmão.

— Porque o trenó não pega velocidade de uma altura pequena, Reggie. — explicou Sirius, como se fosse óbvio. Regulus engoliu em seco.

No topo do morro, era possível ver o bairro inteiro. O sol começava a nascer no horizonte, iluminando a neve caída sob as ruas e telhados, dando a impressão de estarem em um labirinto congelado. Entre o morro e a planície abaixo, o gelo mais parecia um espelho. Regulus não conseguiu encarar a visão por dois segundos inteiros, precisou fechar os olhos com tanta força que doía. Achou que suas pernas cederiam ali mesmo.

— Não quero descer, Sirius. — confessou, levando ambas as mãos até o peito, dando em si mesmo um abraço desajeitado. — A gente deveria ir para casa, tem muitas brincadeiras legais e seguras lá.

Sirius bufou.

— Pff, como o quê? Levar o chá matinal para Madame Walburga? — ele forçou uma voz teatralmente fina, e, mesmo de olhos fechados, Regulus sabia que certamente estaria gesticulando tão exageradamente quanto.

— A gente podia começar um livro, ou fazer um dueto no piano.

Regulus sentiu as mãos de Sirius em seus ombros, e soube que era seguro abrir os olhos.

— Reggie, não precisa ter medo. Eu vou te proteger. — Sirius afirmou no tom gentil e doce que Regulus sabia ser reservado apenas para si.

Regulus não duvidava, nem por um segundo, que Sirius iria tentar protegê-lo. Ele sempre o fazia. Desde que se entendia como bruxo, era Sirius que espantava os monstros debaixo da cama, beijava seus ralados no joelho, o abraçava quando os trovões pareciam estar perto demais de seu quarto, contava histórias até voltar a pegar no sono quando pesadelos vinham o assombrar. Mas, principalmente, Sirius sempre assumia a culpa de tudo que Regulus fazia de errado, jamais permitindo que fosse vítima da ira dos pais. Às vezes, quando Regulus via cicatrizes novas surgirem no irmão, enquanto sua pele permanecia imaculada, se sentia um grande covarde e era consumido pela culpa.

Confiava em Sirius para protegê-lo, mas não confiava no morro para proteger Sirius. Regulus temia uma virada do trenó, que acabaria por soterrar ambos debaixo da neve. A ideia o fez estremecer.

— Não, Sirius. Vamos para casa. — insistiu.

— Regulus, — a voz de Sirius se tornou mais firme. — Você só está sendo medroso. O morro nem é tão alto assim! Não vai acontecer nada, eu juro.

"Medroso" atingiu Regulus como um soco. Sirius sempre foi, para ele, o garoto mais incrível do mundo, seu protetor, herói, confidente. Regulus queria ser como o irmão, corajoso, imbatível, destemido. Queria que Sirius tivesse orgulho dele. Se para isso seria necessário enfrentar a morte cara a cara, Regulus deixaria a covardia de lado. Iria se provar para Sirius.

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⏰ Última atualização: May 15 ⏰

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