AUGUST

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Depois de horas conversando com seu amigo, August decide ignorar aquela ligação, não é problema dele, o conteúdo daquele telefone não era do seu interesse a muito tempo, seu desejo mais profundo era realmente esquecer tudo aquilo, focar em seus projetos, em sua carreira, tudo estava indo muito bem, ele conquistou todas aquelas coisas com seu trabalho, muita persistência, mesmo tendo recebido uma enxurrada de críticas e muitos nãos como resposta, optou por nunca desistir do seu sonho, provar pra todos que ele iria alcançar seus objetivos, que seu talento tinha muito valor, e agora todos podiam ver, ele era o melhor.
Em seu quarto com paredes azuis, não um azul celeste, um azul profundo como o fundo do mar, escuro quase negro, August olha para o teto e repensa naquele telefonema, uma, duas, três, mil vezes, sua sensação era de que aquele teto cairia sobre sua cabeça a qualquer momento, "inferno, isso tudo é uma grande merda", era tudo que ele conseguia pensar, mesmo implorando para seu interior que ele deveria dormir, seus olhos mal conseguiam fechar, insistiam em ficar abertos, acesos, deve haver uma solução, uma saída, e voltar ao Brasil com certeza não é uma opção.

[...]

Sexta-feira pela manhã ao chegar em seu estúdio, após uma longa noite sem dormir, August não cumprimenta ninguém, se tranca em seu mundo e tenta se concentrar no que ele faz de melhor, produzir música, colocar no papel seus sentimentos, todas aquelas sensações serviriam pelo menos para letras terrivelmente incríveis, alguém bate a porta.

— Posso entrar ? — É Sejun, seu amigo de longa data, um cara alto, tipicamente coreano, com cabelos pretos  bem lisos, que chegam cair em seus olhos.

— Não quero conversar — August responde sem olhar para a porta.

— Você não pode ignorar todas as pessoas, fala sério cara, porque não encara seu passado de frente, ele é seu pai, toda aquela conversa da noite passada não serviu de nada ?

— Eu já disse que não quero falar sobre isso. — August passa a mão pelos seus cabelos, com um semblante de quem realmente queria correr.

— E o que você vai fazer? — Sejun pergunta sentando ao lado de seu amigo.

— O que eu faço a vinte anos, colocar uma pedra e seguir em frente.

— Você não pode fugir de tudo o tempo todo, você precisa enfrentar sua vida, resolver e pronto.

August é muito bom em ignorar, pois é simplesmente mais fácil, ele não gosta de ser pressionado, ele está acostumado a fazer o que bem entende, August ganhou esse direito a muito tempo, quando ainda era muito novo e teve que aprender a se virar sozinho.

— Eu não sou você, eu não aguento essa vida bonitinha que você vive, Sejun, acorda, eu não quero uma namorada chata como a  sua, uma família normal como a sua, uma vida monótona como a sua, a vinte anos eu não tenho pai, eles não podem me ligar e simplesmente pedirem para eu mudar minha vida assim.

— Acorda seu babaca, seu pai está morrendo.

— Eu quero que ele morra, meu pai nunca me amou, para mim tanto faz. — August levanta com raiva, e sem pensar, fecha sua mão, e acerta a parede. — Eu odeio ele.

— Essa decisão é sua, mas se eu posso te dar um conselho, eu diria para que você tenha coragem e enfrente de uma vez por todas o seu passado.

[...]

"Como hoje pode ser quarta-feira?", para August os dias estão demorando a passar, e a notícia que seu pai está morrendo, não consegue ser afastada dos seus pensamentos, é como um ciclo vicioso, aquelas palavras  voltam hora após hora, sem dar trégua.

— August ! Entram Sejun e seu empresário, com os olhos arregalados.— Você viu as últimas notícias?

— O que foi dessa vez ? — Algust fala sem dar muita importância. — Outra fã reclamando porque não deu autógrafo? Já sei, é algum  rapper me acusando de plágio? fala sério a gente já passo por....— mas August é interrompido.

— August a notícia do seu pai vazou, toda a imprensa está falando disso.

— Eu quero ver !

Aquilo não podia ser verdade, como aquilo podia estar acontecendo? Quem poderia ter vazado essa informação?

— E agora? Você vai continuar sem fazer nada August?
— Pergunta Sejun, com os olhos serrados.

— Parece que isso não é mais uma opção!

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