AUGUST

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August ainda não estava acreditando no que tinha ouvido naquela ligação, aquela voz rouca, séria e fria em um telefonema internacional, aquilo só podia ser uma brincadeira, ele devia estar ficando louco, era a única possibilidade lógica, seu sangue pulsava em suas veias, parecia ter uma escola de samba em sua cabeça, aquilo não podia ser sério. "Voltar ao Brasil?", "Voltar para aquele lugar que ele planeja esquecer?", Ele senta em seu sofá cinza e sem vida, com suas pernas ainda trêmulas, e liga para Sejun, uma, duas, três vezes, continua caindo na caixa postal, "Droga, que inferno, atende Sejun!", continua sem atender, sem pensar e quase sem respirar, August pega o vaso que está em sua frente e arremessa com toda a força que consegue encontrar e todas as suas lembranças voltam.

[...]

August se recorda que quando tinha apenas nove anos, um menino pequeno de cabelo preto como a noite e liso, olhos rasgados que deixavam a certeza da sua descendência asiática, consegue lembrar como se estivesse vivendo novamente o dia em que seu pai lhe contará o diagnóstico precoce de câncer de sua mãe, estágio quatro, com poucas possibilidades de cura, ele era apenas uma criança. Após um ano de medos, lágrimas e muitas noites de pesadelos, a mãe de August morre, e ele se vê sozinho, literalmente.
Seu pai ficou tão abalado que perdeu o rumo, a vontade de viver, e com uma atitude desesperada foi embora para nunca mais voltar, ele ainda podia sentir todas as sensações daquela noite, onde tudo parecia perfeito, uma noite quente, com um céu estrelado, August sentia a brisa bater em seus cabelos, e seus lábios implorando para que seu pai o levasse junto, foi uma noite de muitas promessas, promessas de voltas, de melhoras, de recomeços, nenhuma delas foi cumprida, aquela foi a última vez que August recebera um abraço de seu pai e daquele dia em diante nunca mais o viu, não podia saber se ele havia morrido ou se ainda estava vivo, mas sabia que o último lugar onde seu pai gostaria de estar era ao seu lado.
Dois meses depois seu avô materno não podia mais cuidar de August e o único lugar que ele poderia ir era para a Coréia, viver com os pais do homem que o havia abandonado, sua vida era realmente um drama, e as lembranças que restaram da sua infância foram muitas cobranças, falta de amor e que o seu sonho de ser músico era uma grande perda de tempo.

[...]

August ainda está desnorteado, com muitos pensamentos rodeando sua mente, "isso não pode estar acontecendo.", isso está mesmo acontecendo?", "Após vinte anos, ainda não consegui enterrar meu passado?", seu telefone vibra, ele olha imediatamente para a tela brilhante, é uma mensagem de Sejun.

"ME LIGOU ?"

"SIM, ONDE VOCÊ ESTÁ?" - August digita, desesperadamente.

"ONDE MAIS PODERIA ESTAR À UMA HORA DA MANHÃ? EM CASA!"

"PRECISO DE AJUDA."

"CHEGO EM VINTE MINUTOS."

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