Cap 6

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Acordo sem nenhuma disposição. Minha cabeça lateja, meu corpo doí e uma sensação de peso no peito me impede até de respirar direito. Sei que não conseguirei encarar a escola nesse estado.

Levanto-me da cama com dificuldade e vou até o banheiro. Ao me olhar no espelho, levo um susto ao ver meu corpo todo marcado e vermelho. As marcas da bucha são visíveis por toda parte, e me sinto ainda pior ao perceber que me machuquei tanto na noite anterior.

As lágrimas voltam aos meus olhos enquanto me encaro no espelho. Sinto-me frágil, quebrada, e não tenho ideia de como consertar tudo o que está errado dentro de mim.

Depois de me recompor um pouco, desço para a cozinha. Preciso fazer algo para me animar, algo para me tirar desse estado de tristeza e desespero.

Decido preparar um café da manhã para mim. Vou até a geladeira e pego alguns ovos, queijo e pão. Enquanto preparo o café, as lembranças da noite anterior voltam em ondas, me atingindo como uma pancada.

Lembro de tudo que Pedro me fez, do encontro com Stev, da sensação de sujeira que não consigo lavar de jeito nenhum. Tudo parece tão confuso, tão doloroso, e não sei como lidar com isso.

Termino de preparar o café e me sento à mesa, tentando comer alguma coisa. Mas a comida parece sem gosto na minha boca, e mal consigo engolir um pedaço de pão.

Depois de um tempo, desisto de comer e me levanto da mesa. Sinto-me completamente vazia por dentro, como se não houvesse mais nada dentro de mim além de dor e tristeza.

Subo as escadas de volta para o meu quarto e me jogo na cama. As lágrimas voltam aos meus olhos, e choro durante horas, sem saber como parar.

Finalmente, quando as lágrimas secam e me sinto exausta demais para chorar mais, levanto-me da cama e me arrasto até o banheiro. Tomo um banho rápido, tentando limpar as marcas vermelhas da minha pele.

Quando finalmente saio do banheiro, decido que não irei para a escola. Não tenho cabeça para lidar com as aulas, com os olhares curiosos dos meus colegas, com toda aquela pressão que parece me sufocar.

Desço para a cozinha novamente e preparo outro café, mas dessa faço um café forte, do jeito que gosto, e me sento à mesa, tentando reunir forças para enfrentar mais um dia.

A dor e a tristeza ainda estão lá, esperando por mim. Mas por enquanto, tudo o que posso fazer é tentar sobreviver, um dia de cada vez.

Depois de cinco minutos angustiantes, finalmente meu celular toca. É Júlia. Rapidamente atendo, com o coração na boca, mas antes que eu possa dizer qualquer coisa, ouço soluços do outro lado da linha.

"Júlia? O que aconteceu? Por que você está chorando?"

A voz dela está entrecortada pelo choro.

"Cris... Pedro... ele... ele está morto."

Meu coração parece parar. "O que você está dizendo, Júlia? Como assim ele está morto?"

"Alguém... alguém o matou, Cris. Ele foi assassinado... na casa dele... estão dizendo que ele foi esfaqueado na própria cama..."

As palavras de Júlia são interrompidas pelos soluços, e uma onda de choque me atinge em cheio.

"Não, não pode ser verdade..."

Minha voz sai em um sussurro, e as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto.

"Estamos no hospital, Cris. Eles tentaram salvá-lo, mas... ele não resistiu. Pedro... ele se foi."

Sinto-me atingida pela notícia, sem conseguir processar completamente o que estou ouvindo.

"Estou indo para aí agora, Júlia. Fique onde está, vou encontrar você no hospital."

Desligo o telefone e fico parada por um momento, tentando entender o que acabou de acontecer. Meu coração está apertado de dor, mas também sinto um estranho alívio.

Pedro me fez tanto mal... Ele me deixou tão suja, tão quebrada... e agora ele se foi. Eu deveria estar chorando, mas tudo o que consigo sentir é um peso se levantando dos meus ombros.

Ao mesmo tempo, me sinto a pior pessoa do mundo por pensar assim. Pedro morreu, e eu estou aqui pensando em como isso pode ser um alívio para mim?

Sinto-me envergonhada e culpada, como se não devesse sentir nenhum alívio com a morte de alguém. Mas a verdade é que Pedro me fez tanto mal que eu não sei se consigo sentir qualquer coisa além de alívio por ele não estar mais por perto.

Corro para o hospital o mais rápido que posso, cada passo pesando como chumbo. Não posso acreditar que Pedro se foi. Não posso aceitar que ele se foi sem eu conseguir perdoa-lo pelo que fez.

Quando finalmente chego ao hospital, encontro Júlia do lado de fora da emergência. Ela está sentada no chão, os olhos vermelhos de tanto chorar.

Corro até ela e a abraço com força, compartilhando sua dor.

"Meu Deus, Júlia... como isso pôde acontecer? Como alguém pôde fazer isso com ele?"

Júlia soluça em meu ombro, e eu sinto meu próprio coração se despedaçar em mil pedaços.

"Eu não sei, Cris... eu não sei..."

Passamos algum tempo ali, sentadas no chão do hospital, abraçadas.

Finalmente, Júlia se levanta e me olha nos olhos, os dela cheios de tristeza e desespero.

"Vamos entrar, Cris. Eles estão esperando por nós lá dentro."

Eu assinto, e juntas entramos no hospital.

Dentro do hospital, somos levadas a uma sala onde outros amigos de Pedro já estão reunidos. Todos têm olhares vazios, rostos pálidos e olhos inchados de tanto chorar. O ar está pesado, carregado de tristeza e desespero.

Finalmente o médico aparece.

"O corpo dele será liberado as duas da tarde para o velório." Ele fala e sai.

As pessoas ali reunidas começam a chorar ainda mais, porém não consigo derramar uma lágrima.

O tempo parece ter parado desde que recebemos a terrível notícia. São duas da tarde quando começam os preparativos para o velório de Pedro.

Júlia se levanta e vai até o caixão, seus olhos cheios de lágrimas. Ela olha para Pedro com amor e tristeza, e então começa a falar, sua voz embargada pela emoção.

"Pedro... meu querido amigo... você era a luz das nossas vidas. Sempre tão gentil, tão engraçado, tão cheio de vida. Não consigo entender por que isso teve que acontecer. Não consigo entender por que alguém faria isso com você. Você não merecia isso, Pedro. Você não merecia morrer dessa maneira."

As palavras de Júlia ecoam pelo salão, e eu sinto um aperto no peito ao ouvi-la.

Enquanto Júlia continua sua emocionante homenagem a Pedro, eu me vejo afundando em meus próprios pensamentos sombrios. Enquanto todos ao meu redor choram a perda de nosso amigo, tudo o que consigo pensar é em como ele me feriu. Em como ele me deixou quebrada.

Como posso chorar por alguém que me fez tanto mal? Como posso lamentar a perda de alguém que me deixou tão quebrada?

Enquanto Júlia continua sua declaração para Pedro, eu me afasto um pouco, lutando para conter as lágrimas que ameaçam transbordar. Meu coração está pesado de dor e tristeza, mas também de raiva e ressentimento.

Por que ele fez isso comigo? Por que ele me machucou tanto?

Enquanto Júlia termina sua declaração e volta para seu lugar, eu me vejo incapaz de dizer uma palavra. Não tenho palavras para expressar a mistura complexa de emoções que estou sentindo.

Enquanto o velório continua ao meu redor, eu me sinto cada vez mais distante, mais desconectada. Como posso estar aqui, lamentando a perda de alguém que me feriu tão profundamente?

Enquanto o tempo passa, eu me sinto cada vez mais perdida em meus próprios pensamentos sombrios. Não sei como vou superar isso. Não sei como vou seguir em frente.

Enquanto todos ao meu redor choram a perda de nosso amigo, eu me sinto mais sozinha do que nunca. Porque, no final das contas, mesmo rodeada de pessoas, eu me sinto completamente sozinha.




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