O sol já ilumina a cozinha quando me dou conta de que passei a noite em claro. Os eventos da noite anterior se repetem incessantemente na minha mente, como um filme que não consigo desligar. Estou encostada na bancada, segurando uma xícara de café que já esfriou, perdida em pensamentos.
A noite anterior... o toque de Stev ainda está gravado na minha pele, seus beijos ainda queimam nos meus lábios. Mesmo agora, na luz fria da manhã, não consigo entender completamente o que aconteceu. A intensidade do momento na cabine, a forma como ele me fez sentir... é tudo tão confuso e avassalador.
Eu havia saído daquela cabine com as pernas trêmulas, o coração batendo descompassado. Tentei voltar para a festa, mas nada mais parecia fazer sentido. As risadas, a música alta, tudo parecia distante, como se eu estivesse observando de fora. Até mesmo a presença de Júlia, que deveria ser um ponto de ancoragem, se dissolveu no caos dos meus pensamentos.
Agora, na cozinha da minha casa, a realidade parece ainda mais surreal. Eu tomo um gole do café frio, fazendo uma careta ao sentir o gosto amargo. O café não me desperta, não me traz clareza. Estou apenas... aqui, perdida.
Tento lembrar dos detalhes, dos sentimentos, mas tudo se mistura em um turbilhão. O toque de Stev, a maneira como ele me segurou, como se eu fosse a única coisa no mundo que importava naquele momento. E depois, o silêncio constrangedor que se seguiu, quando ambos percebemos o que tinha acontecido.
Eu deveria estar com raiva, ou pelo menos arrependida, mas tudo o que sinto é uma confusão profunda. Não consigo decidir se o que aconteceu foi um erro colossal ou algo que eu desejava há muito tempo, mas nunca admiti para mim mesma. Talvez seja um pouco dos dois.
A porta da cozinha se abre, e minha mãe entra, ainda em seu robe. Ela me olha com preocupação, provavelmente notando meu estado desolado. "Cris, você está bem?" pergunta ela, a voz carregada de cuidado.
Dou de ombros, tentando encontrar as palavras. "Não sei, mãe. Aconteceram tantas coisas..."
Ela se aproxima e coloca uma mão reconfortante no meu ombro. "Quer conversar sobre isso?"
Penso em contar a ela, mas as palavras não vêm. Como explicar a confusão que sinto? Como explicar Stev, e o que aconteceu? "Não sei se consigo, mãe. É complicado."
Ela suspira, apertando meu ombro gentilmente. "Eu estou aqui para você, Cris. Sempre. Lembre-se disso, tá?"
Assinto, tentando oferecer um sorriso que não chega aos meus olhos. "Eu sei. Obrigada."
Ela me dá um beijo na testa antes de sair da cozinha, me deixando sozinha novamente com meus pensamentos. Olho para o relógio. Ainda é cedo, mas sei que não vou para a universidade hoje. Preciso de tempo para processar tudo.
Volto a me encostar na bancada, fechando os olhos por um momento. O silêncio da casa é ensurdecedor, preenchido apenas pelo zumbido dos meus pensamentos.
O rosto de Stev surge na minha mente. Aqueles olhos intensos que pareciam ver através de mim, o toque que incendiou minha pele. O que ele significa para mim? O que significo para ele? A confusão apenas se aprofunda enquanto penso nisso.
Minha mente vagueia para Pedro, e uma pontada de culpa me atravessa. Ele está morto, e eu estou aqui, presa em minha própria confusão emocional. Parte de mim está aliviada que não tenho que enfrentar mais uma situação complicada com ele, mas me sinto suja por pensar assim. Ele me feriu, mas ninguém merece morrer daquela maneira. E mesmo assim não consigo me aborrecer com Stev. Muito menos entregá-lo.
Pego meu celular e começo a passar pelas mensagens. Júlia me enviou várias, perguntando como estou, tentando me distrair. Sei que preciso responder, mas não estou afim de conversar.
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Rodovias
RomanceNão foi dele que peguei essa obsessão por motos. Algo em mim sempre ardeu ao vê-las. mas saber que ele é um infrator da lei, fez algo desencadear de dentro de mim, algo que eu não consigo parar, nem ele vai.