𝙰𝚞𝚛𝚘𝚛𝚊 ♚

61 12 11
                                    

Passei a mão em meu colar, meus dedos rodavam em volta do pequeno pingente com uma pedrinha de diamante azul. Um presente do meu pai. Me ajeito na cadeira e balanço o pé que estava cruzado por baixo da mesa. Apesar de já estar nessa profissão há um tempo, lidar com juízes e júris, um pior que o outro, na tensão na cobrança. Nunca fiquei nervosa como estou nesse momento esperando o cliente que teria que defender. O tal Pedro se tornará uma incógnita para mim.

_ Nunca a vi tão nervosa, quanto estou vendo agora. Tem algo que eu deveria saber sobre esse cliente.

Jhon me analisa enquanto pairo meu olhar para o mesmo, como se não tivesse dando ouvidos. Mas estava apenas nervosa, algo que não costumo ficar. Havia pedido que ele me acompanhasse a esse caso, precisaria de outros olhos profissionais, e Jhon é o tipo de advogado que nunca se engana com as pessoas. Eu tenho o meu jeito de lidar, de quebrar meus clientes pondo respeito, ele é o jeito mais leve porém sempre olhar analítico.

Aurora: Bom, só sei o que você também sabe pelas fichas.

Na verdade ele teve pouco tempo. Pois o mesmo chegou pela manhã em casa, e estudou a ficha do cliente durante o percurso até ao presídio. Nosso diálogo é interrompido pelo barulho da porta sendo aberta.

_ Desculpe por fazê-los esperar. Sou o Gonzales, o diretor do presídio. Soube que são os advogados do criminoso, Pedro Tavares Ortega! Gostaria de apenas fazer uma pergunta. Quem os contatou?

Estranho a pergunta do diretor, afinal ele não tem porque saber de tal informação.

_ O contrato de serviços advocatícios é um instrumento essencial da relação entre o advogado e seu cliente. Por isso, está protegido pelo sigilo profissional e pela inviolabilidade do exercício da advocacia, então acredito eu, Dr. Que o Sr não tem porque ter tal informação.

Jhon com seu português arrastado responde em um tom profissional.

_ Claro. Apenas quis me pôr a situação, afinal, esse cliente já teve tantos outros advogados. E todos abandonaram a causa, esse elemento, não é alguém que deveria estar solto nas ruas. Mas infelizmente não estou apto a da minha sentença.

Aurora: Sr. Gonzales, não é isso? Não estamos aptos a da nossa sentença, apenas o juiz e como você mesmo disse. É apenas o diretor. Agradeceria se pudesse fazer com que trouxesse o cliente.

Ele me mede de cima a baixo e noto o seu olhar fulminante. Mas sorrir amarelado e sair pisando fundo.

_ Amiga, acho que esse delegado não vai muito com a cara do seu cliente. Eu estou começando achar que existe uma conspiração aqui. Pelo o que você me relatou e pelo que li na ficha! Algo não está batendo.

Aurora: Acho que você está imaginando coisas Jhon. Ele apenas não gosta de criminosos. Com uma ficha dessas, até eu não estou gostando.

_ Você não acha estranho, simplesmente virem até você do nada? Não estou desmerecendo seus esforços, e resultados que são brilhantes. Porém pensa só, não tem fotos do cliente, e toda essa história é uma incógnita.

Meus pensamentos voltam a pairar no ar novamente. Sinto um misto de emoções dentro de mim! Meu celular vibra notificando mensagem, acabei esquecendo de pôr no silencioso. Verifico a mensagem e vejo nome do GT. Sorrio lembrando de quanto estou destruída por conta dele.

_ Aí esse sorriso, aposto que tem a ver com um moreno alto lindo.

Sorrio pra ele e silencio o meu celular e ouvimos o barulho da porta sendo destrancada, estava de costas para a porta. Apoio as mãos na mesa, me ergo arrumando minha roupa e pondo um olhar sério.

_ Estarei aqui fora, caso precisem.

Ouço a voz do oficial que o trouxe, ouço barulho das correntes, ponho uma mecha do cabelo para trás e me viro. E tudo parece em câmera lenta diante dos meus olhos, parece que a sala vai ficando escuro e só o vejo diante dos meus olhos, como se começasse a ficar pequeno o espaço, meu corpo paralisa, nossos olhos fixados um ao outro, sinto um ar gélido percorrer meus ossos minhas entranhas se contorcendo, minhas pernas começam a ficar pesadas sem conseguir me mover, sair do lugar é impossível. Fecho as mãos cerrando os punhos e o maxilar, pressiono as unhas com força para sentir perfurando minhas mãos.

_ Aurora?

Ouço a voz do Jhon ao longe, ele repete meu nome. E eu só consigo olhar pro cara que me arruinou, que me usou da maneira mais sórdida que existe. Agora diferente do garoto que conheci sete anos atrás, cabelos coloridos, muito magro, olhos escuros de olheiras, corpo todo fechado de tatuagem, pálido, com algumas cicatrizes no rosto, no pescoço, barba por fazer. Está um trapo, diferente de quando vivia no morro.

_ Aurora, está tudo bem?

Ouço a voz firme e seria do Jhon me chamar a volta.

Aurora: Não! Não está bem. Não posso, não posso amigo, esse cara não.

Sinto um misto de emoções me atingindo, e sinto que vou desabar, e tudo volta em minha mente, todas as emoções.

_ Você quer sair por um minuto, Uma água?

Aurora: Não! Não precisa, eu estou bem. Só preciso respirar um pouco.

Me viro de costas e mordo meu punho com força, tentando me debulhar em lágrimas, mais lágrimas de ódio, vontade de enfiar a mão na cara dele, xingar por ter destruído minha vida, meus sentimentos. Respiro fundo, ele não fala nada apenas de mantém em silêncio. Me viro encarando olho no olho, eu não estava preparada, ele deveria estar morto, com os ossos brancos já debaixo da terra.

Aurora: Não irei advogar para esse homem Jhon. Me recuso a defender esse...

Engulo firme e pigarro voltando ao tom profissional.

Aurora: E você deveria fazer o mesmo, partir de agora, caso queira defender esse homem, esteja sozinho, pois me nego, a aceitar esse caso.

_ Dra. Aurora, não estou entendo o que está acontecendo aqui. Me explique agora?

Ele perguntou em inglês em um tom acusativo.

Aurora: He is Aisha's father. ( Ele é o pai de Aisha)

Respondo em inglês. Jhon me encara de olhos arregalados, pois o mesmo sabe de toda minha história.

_ Na moral, não preciso de um bando de imbecil vindo aqui tentar tripudiar em cima de mim não. Já basta esses lixo que armaram pra mim. Me deixem em paz.

Sua voz sai com um pouco de dificuldade, essa não é sua voz, algo aconteceu, porém pouco me importa. Ele levanta com dificuldade e arrastando a perna direita sai em direção a porta.

_ Amiga, tudo bem que ele te fez todo mau, mais não posso negligenciar esse caso.

Jhon sussurra para mim, não posso impedir meu amigo de trabalhar. Apenas balanço a cabeça consentindo para ele. Pego minhas coisas e me retiro, mas antes de sair o aviso com um olhar para não falar nada, nada a respeito de Aisha.

Saio do presídio perdida, sem rumo, direção. Entro no carro e todo o misto de emoção me toma e começo a chorar de soluçar, soco o volante lembrando de tudo que ele me fez passar. Porque ele tinha que está vivo, ele tinha que estar morto. Pego o telefone e ligo pra mamãe, mas ela não me atende e acabo ligando pra meu pai.

_ O que foi Chuck?

Aurora: Pai, cadê a mãe?

_ Ela foi na rua com teu irmão, o que aconteceu?

Aurora: Você está em casa, você pegou Aisha na escola?

Respiro fundo mais minha voz está trêmula, nervosa.

_ Que que aconteceu? Ela tá com tua tia lá em casa. Aurora, o que tá rolando?

Ouço barulho de vozes, ele deve está na boca.

Aurora: Ele, ele, ele tá vivo pai.

Solto um soluço e meu pai parece se ligar na hora e já ordena que eu vá direto pro morro. Desligo a chamada e vejo várias mensagens do Gustavo. Coloco celular no painel do carro e dou partida em direção ao morro, onde preciso ir para recarregar minhas energias e me sentir segura ao lado da minha filha. Ele não poderia ter voltado, não deveria.

O Lado Feio Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora