Capítulo 9: Bolinho de canela

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POV Capitã Snow/Sansa

O amanhecer estava terrivelmente deslumbrante, sob um céu estrelado. E eu estava aqui, ensinando uma Princesa, que poderia facilmente mandar me matar, a usar uma espada.

Enfiei dois pedaços de bolinhos de canela na boca. Saboreando aquela maravilha. — Você acha que pode manusear uma espada?.

— Eu nunca tive a oportunidade de aprender, mas se você parar de comer por alguns segundos e resolver me ensinar, estou disposta a tentar.

Faço uma careta para ela. Ficando emburrada. — Parece que tem um buraco sem fundo nesse estômago. — Ei! São uma delícia!. — Sim, são, e por isso, você deveria guardar alguns para comer mais tarde.

Fico indignada, mas guardo o restante para depois. — E você tem esse cheiro, aliás. — De bolinho?. — De canela, Sansa. — Hm, entendo. Vou levar como elogio.

Limpo as mãos, e me viro para ela. — Bom, a vida pode ser muito perigosa, como você sabe bem. Tem experimentado muito esse perigo.

Ela cora. — Mas enfim, se quer sobreviver, vai precisar aprender a se defender.

Me aproximo com cautela, segurando minha espada, estendo o cabo para ela. — Pegue. Primeiro, você precisa sentir o peso. A espada será como uma parte do seu corpo.

Ela segura o cabo, analisando o peso. — É capaz?. — Eu posso aprender rápido, especialmente quando se trata de defender o que é meu. Posso ser feroz.

Sorrio com malícia. — Ah, vejo que você tem um fogo interior, mas a luta entre espadas é mais do que apenas força bruta, é sobre técnica, precisão... — Seu olhar penetrante quase me fez falhar. — E o que mais?.

Me aproximo um pouco mais, a rodeando. — É sobre controle. Você deve sentir o peso da lâmina, cada movimento, como se fosse uma extensão de si mesma.

Fico totalmente de costas para ela. — É mais pesada do que eu imaginava. — Isso é bom. Significa que é poderosa. Agora, mantenha-a firme em suas mãos. Firme, mas não tão rígido. Deixe seus dedos relaxarem um pouco. Isso mesmo.

Ela se ajusta um pouco, ainda errada. — Assim está melhor?. — Encosto em suas costas. Sua respiração desregulou um pouquinho. — Quase lá. Concentre-se. Sinta a energia que flui através da espada, como se fosse uma dança entre você e o metal. Novamente, você precisa estar firme, mas também flexível. Como um bambu no vento forte.

Sua pele se arrepiou, e eu inspirei fundo o cheiro que emanava do seu pescoço. — Como um bambu... — Fala fraca.

— Mantenha os pés afastados. — Coloco minha perna esquerda no meio das suas, afastando-as. — Um na frente do outro. Assim você terá mais estabilidade e flexibilidade em seus movimentos.

— Vamos começar com um movimento básico. Mantenha o punho da espada apontado para frente, e quando eu contar até três, quero que você faça um corte horizontal, como se estivesse cortando o vento. — Um corte horizontal, entendi. Posso fazer isso. — Um, dois, três! Corte!

Para uma iniciante, ela estava indo bem, mas ainda tinha alguns erros bobos. — Agora, vamos tentar um golpe vertical. — O som do metal cortando o vento era maravilhoso, e o meu peito se encheu de saudade, de quando eu ainda era uma garotinha, brincando e lutando com os meus amigos.

— Assim?. — Quase perfeito. Apenas mantenha os ombros mais relaxados e deixe a gravidade ajudá-la a descer com mais força.

— É... impressionante. — Uma espada não é diferente de um amante, Princesa. Você precisa conhecê-la intimamente, sentir seu peso, entender seus movimentos.

Seu corpo esquentou, e eu tenho certeza que está corada. Me aproximo ainda mais, pondo as mãos em seu quadril. — Deixe-me ajustar sua posição. — Isso é realmente necessário?.

A pergunta foi baixa, quase inaudível. Aproximei novamente minha boca ao seu ouvido. —  Sim. Para dominar a espada, Princesa, você precisa estar em sintonia com todo seu corpo. Deixe-me mostrar...

Coloco minha mão em cima da sua, entrelaçando-as enquanto manobramos a espada juntas. Cada movimento é suave, mas cheio de tensão, a atmosfera eletrizante corria dentro de mim.

— Eu... eu não sabia que aprender a lutar poderia ser tão... íntimo.

Sorrio, negando com a cabeça. — Batalhas não são apenas físicas, Lauren. Elas também ocorrem na mente, no coração.

— Como você faz isso parecer tão fácil?. — Viro seu corpo, botando-a de frente para mim. Seus olhos arregalados me fizeram sorrir. — Talvez porque eu esteja acostumada a ter algo desafiador em minhas... mãos.

Ela rir, tímida. — Você é... incrível. — E você, Princesa, tem um potencial que mal começamos a explorar. Mas precisa aprender a canalizar essa energia de forma... adequada.

Ela desviou o olhar, a voz estava trêmula. Talvez desconcertada pela proximidade. — Adequada?. — Sim, adequada. Mas está tarde, temos que voltar antes que alguém perceba.

Coloco minha mão sobre a sua, para pegar a espada, mas quando faço menção de puxar, sou impedida. — É gentil da sua parte me ensinar, você não é nada como o seu irmão. Achei... achei que era uma megera.

Não me contive, gargalhei. Coloquei as mãos na boca imediatamente, ninguém poderia saber que estávamos ali. Segundos depois, ouvimos passos se aproximando. Os guardas estão fazendo sua ronda pelo castelo. — Ela sussurrou.

— Precisamos nos esconder. — A puxo para trás de um arbusto próximo, nos abaixando e ficando imóveis, segurando a respiração enquanto os guardas passavam.

— Você ouviu alguma coisa?. — Não, e você?. — Ele olhou para os lados, e eu me encolhi ainda mais. — Achei ter ouvido. — Delírio da sua cabeça, Ainon. — Sim, é possível. Parece que está tudo tranquilo por aqui. Vamos voltar.

Nos certificamos de que os guardas se afastaram, e saímos. — Isso foi por pouco. Não podemos nós dar ao luxo de sermos descobertas.

— É, precisamos ter cuidado. Se alguém nos encontrar aqui... — Não se preocupe. Eu sou especialista em escapar das situações mais complicadas. — É verdade, você é mesmo.

Nos entreolhamos por um momento, compartilhando uma conexão silenciosa que ia além das palavras, ela desviou o olhar, encarando a parede.

— Acho que é hora de ir para cama, Lo. — Lo?. — Ela volta a me olhar, me analisando e depois sorrindo, sinto que fiquei vermelha. Ai, merda.

— Desculpe, foi sem querer, não vou mais chamá-la assim. — Não, eu gostei. Gostei mesmo. Vem, vamos sair logo daqui.

Seu quarto estava cheirando a puro morango fresco, envolvi o ar para que trouxesse aquele cheiro mais para perto de mim. Ela se aproximou do guarda roupa, pegando suas roupas de cama.

Sua agitação era palpável. — Eu não posso acreditar que estamos fazendo isso. Treinando escondidas, como duas rebeldes.

Me encosto na porta do quarto, a observando. — A coragem exige que nos arrisquemos. E você, Princesa, tem muita coragem.

Ela sorri, acho que se sentiu encorajada, e eu fiquei satisfeita com aquilo. — Minha mãe sempre falou em me treinar, arrumar uma pessoa.

Aquilo definitivamente me surpreendeu, ela se sentou na cama, e eu cruzei os braços, pensativa. — Mas nunca deu certo, e se meu pai descobrisse... — Ela balançou a cabeça em negação. — Mas e você? Como conseguiu aprender todas essas habilidades? Não parece uma nobre comum. — Ah.

Tombo minha cabeça para o lado, sorrindo amarelo. — Achei que era hora de revidar as brincadeiras do meu irmão.

Ela gargalha, e aquele som era maravilhoso. — Faz sentido mesmo. Ele é muito... Agressivo. Eu não quero me. — Ela para, assumindo a pose daquilo que ela realmente era, uma Princesa e futura Rainha. Ela não queria se casar, era nítido, não com ele, pelo menos, mas ela aceitava isso como uma boa governante. — Acho que nos despedimos aqui, boa noite, Sansa. — Boa noite, Alteza.

A Maré do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora