Capítulo 3: Liberdade

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N/A - AIAIAIAIA, tô tão empolgada com essa fic, afff

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POV Lauren Lacanter

Eu não queria ter sorrido, não na frente dela. Meu combinado era odiá-la desde o primeiro momento, mas essa mulher, diante de mim, tinha o olhar mais dourado, penetrante e arrepiante que já tinha visto.

As roupas estavam um pouco folgadas, um longo vestido vinho, feito de tecido pesado como lã ou linho, com mangas compridas e uma cintura marcada, adornado com bordados em renda.

— Alteza. É uma grande honra. — A voz era melodiosa, suave como a brisa da primavera. Cada palavra era proferida com uma delicadeza cativante, envolvendo-me em um abraço.

Me viro para Margaret, a governanta. — Outra? Achei que tivessem desistido de me trazerem outra dama depois do que aconteceu com a última.

A moça ergueu levemente a sobrancelha direita, e eu pude jurar ter visto um leve sorrisinho no canto dos lábios, e uma pequena cicatriz ali. — Princesa, por favor. Demonstre a educação que sabemos que você tem.

Solto o ar, impaciente. — Olá. — Vou deixar Vossa Alteza e a Lady a sós, para que se conheçam. Gentilmente, Lauren. Depois, compareça a sala do trono, seu pai quer falar com você ao entardecer.

Reviro os olhos assim que ela deixa o jardim. Volto para minha cadeira, emburrada. Ouço o farfalhar das flores no chão, e um cheiro gostoso de mar e canela invade minhas narinas.

Ela estava ao meu lado. Olhando para o horizonte já escurecendo. Vi quando ela engoliu saliva, e entrelaçou as próprias mãos. Tinha um machucado nas costas da mão direita, como se tivesse desferido um soco em alguma coisa, ou em alguém.

Ela cobriu a mão com as mangas, e eu desviei o olhar rapidamente. Aquilo não me interessava.

O silêncio não era desconfortável, mas estava incomodada com sua presença, parecia um poste. — Você deve ter coragem ou burrice extrema para se aventurar por aqui. Ainda não me decidi.

Ela continuou olhando para longe. — Coragem, burrice e um toque de curiosidade, talvez. — Curiosidade, entendo. E questões politicas e financeiras, imagino também.

Seu corpo pareceu absorver aquelas palavras, examinando. — Deixe-me lhe garantir, Alteza, que não estou aqui para pilhar ouro, mas sim para trocar palavras. Meu propósito, neste momento, é simplesmente apreciar a beleza deste jardim. E talvez, quem sabe, compartilhar histórias que me contaram na viagem para cá, se estiver disposta a ouvir.

Tento parecer interessada. Eu não estava interessada. — Parece tentador, devo admitir, mas o que me faz pensar que posso confiar em uma só palavra que sai da sua boca?.

— Ah, é verdade. A confiança é um tesouro raro, e eu não esperaria que você a concedesse facilmente a uma estranha como eu. Mas quem sabe, em meio a uma conversa amigável, possamos encontrar algo em comum.

Gargalho sem vontade. — Duvido muito, mas muito bem. Você tem minha atenção, por enquanto. — Ela puxou uma cadeira para perto, e se sentou ao meu lado.

— Devo pedir para que Vossa Alteza não conte sobre essa história a ninguém, em respeito a protagonista. Bem, esta é uma história que ouvir sobre uma menina em alto mar, quando ainda era uma garotinha e tinha acabado de fugir de problemas, durante uma noite tempestuosa.

— Estavam navegando sob a luz fraca da lua, quando avistaram um navio mercante, carregado de tesouros.

Há uma certa musicalidade em sua entonação, uma cadência que embala os ouvidos com sua suavidade encantadora.

— O capitão tremeu de medo, então a garotinha tomou a liderança, ordenou o ataque e iniciou uma batalha intensa, com o vento soprando nas velas e ás espadas dançando.

— Uma batalha em alto mar, entendo. Continue. — Sim, Alteza. Deve ter sido uma batalha feroz. As ondas batiam contra os navios enquanto a garotinha brigava pela glória e pelos tesouros que tanto buscava. Em meio ao caos, ela subiu ao convés inimigo e enfrentou o capitão mercante em um duelo de espadas que durou horas.

— Imagino que tenha sido uma luta memorável. — Acredito que tenha sido sim, de fato. No final, ela emergiu vitoriosa, mas não apenas com os tesouros capturados. Ela descobriu algo mais valioso naquele navio: um mapa secreto que leva a um tesouro lendário, escondido em uma ilha remota.

— E o que vocês fizeram com tal descoberta?. — Não sei dizer, eles não foram atrás. — Ela buscava pela glória, me vejo um pouco nela. Estou em busca de algo mais. Queria descobrir o mundo além dos muros do castelo, sentir o vento nos meus cabelos e escrever minha própria história.

Me calo, eu não deveria contar essas coisas. Não sei o que deu em mim. — Vossa Alteza parece ter uma alma livre. A liberdade é algo que muitos de nós desejamos, mas poucos realmente têm.

— Sim, a liberdade é difícil de alcançar, especialmente para aqueles como nós, que estão sempre presos às regras e tradições. Mas às vezes sinto que há mais na vida do que apenas seguir ordens.

— Se você pudesse escolher, o que faria para escapar dessas correntes impostas pela sua classe... ou pelo Rei?. — Se eu fosse você, não diria isso em voz tão alta.

Ela sorri. Fico realmente assustada de vê-la falando daquela maneira. Não estava acostumada, normalmente eram só... bajulações e coisas assim. — Vou correr o risco. — A encaro, se ela contasse isso para meu pai... É claro que contaria, todas contam, mais cedo ou mais tarde.

Suspirei, uma lição a mais não iria fazer diferença. — Se eu pudesse escolher... Eu navegaria pelos lugares desconhecidos, exploraria terras distantes, viveria cada dia como se fosse uma aventura. Mas são apenas sonhos de uma Princesa, condenada a cumprir seu destino.

Esperei pela repreensão, pelos gritos ou pela risada zombeteira, mas nada disso veio. — Quem sabe, talvez seus sonhos não sejam tão inalcançáveis quanto pensa. Às vezes, o destino nos surpreende de maneiras inesperadas. E quem sabe, talvez, o mar tenha planos para você.

Mudo de assunto, não era hora de fantasiar com o impossível. — Me admira que ainda não tenha falado do seu irmão. — Ela se retorceu, parecia nervosa agora. — Meu irmão, sim. Apenas me distrair demais com vossa presença. O que deseja saber sobre ele?.

Talvez o fato dele estar tramando alguma barbaridade com o meu pai. — Achei que ele viria até aqui. — Ela se remexe, desconfortável. — Ele virá, em algum momento.

Gostaria que não viesse nunca. Tinha nojo daquele homem, e agora, olhando para a irmã dele diante de mim, não sei como sua mãe teve filhos tão diferentes. Lady Sansa era... Linda. Um tipo de beleza que nunca tinha visto por aqui.

Me dei conta que já era tarde quando o Sol começou a se pôr, deixando o céu em um tom fraco de laranja. A lua já vinha fazendo morada, tomando seu lugar.

Percebo seu olhar sobre mim, e não faço questão de repreender, me vi percebendo que gostava de ter sua atenção, ela não desgrudava o olho de mim nem por um segundo, não sabia dizer se era pelas ordens de meu pai, ou apenas sua mera vontade de me olhar, mas naquela noite, em meu quarto, eu desenhei seus olhos dourados.

A Maré do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora