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ELEANOR HUGHES

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ELEANOR HUGHES

          Mamãe não saiu do quarto pela próxima semana inteira. Durante a noite eu fugia do meu quarto depois que Aileen me colocava para dormir. Era como nas histórias de fantasmas que meu primo, Richard, contava. Apenas ouvia os sons de passos arrastados e porcelanas se estilhaçando e então corria de volta para o quarto assustada.

Certas vezes deitei no chão do corredor e observei pela brecha da porta. Seus pés e a barra da camisola branca enquanto caminhava pelo cômodo. Sempre de um lado para o outro, como uma alma perdida procurando por algo. Mesmo agora que sou mais velha, tenho pesadelos onde seu rosto distorcido aparece no vão da porta. Acordo suando.

Eram raras, mas teve vezes em que a ouvia murmura. A voz carregada de rancor. Parecia prestes a quebrar qualquer coisa ao seu alcance.

“Como ele pode me trair...”

“Como ele pode me abandonar...”

“Como ele pode me trocar...”

Lembro que vovó resumia o estado de mamãe a simples e puro cansaço. Sentava na mesa para o café e dispensava minha curiosidade com um sua mãe está indisposta hoje. Comecei a desconfiar que a pessoa realmente cansada nessa história era vovó.

Com Tia Rietta sendo tão confiável quanto mamãe, vovó teve que voltar a gerenciar a Mansão Blackwood e seus gastos. Vovó não odiava a responsabilidade, odiava o caos que mamãe deixou. O modo como sua falta de compromisso e conhecimento financeiro foi um dos culpados pela situação de nossa família.

Acredito que esse foi um dos diversos motivos que contribuíram para que acreditasse não passar de uma birra temporária. Não só ela. Acho que todos acreditavam que duraria alguns dias e logo mamãe deixaria o quarto em algum traje elegante dizendo que precisava comprar vestidos novos. Era essa a forma que curava suas frustrações.

A situação logo foi se mostrando mais delicada do que o imaginado. As bandejas de comida voltaram cheias e geladas, depois de ficarem horas abandonadas no chão em frente a porta do quarto dela.

No terceiro dia de mamãe sem comer, vovó foi pessoalmente até o seu quarto. Ela não atendeu. No quarto dia tiraram vovô de seu escritório. Ela também não atendeu ele. As únicas coisas que mamãe aceitava eram os jarros de água. No mesmo dia enviaram uma carta ao papai, ordenando que ele voltasse da viagem.

Todos se recusavam a me deixar vê-la. Tudo que eu conseguia descobrir era me escondendo embaixo ou atrás de móveis e escutando a conversa dos adultos. Até que decidi usar o que mamãe me ensinou. Só precisei pensar bastante em algo triste para que lágrimas se acumularem em meus olhos. Chegou a ser surpreendente a facilidade com a qual amoleceram o coração de Aileen.

O seu não, logo se tornou um não é uma boa ideia, que em seguida virou um sua avó não gostará disso e derreteu em um farei o possível. Passei a tarde inteira inquieta com Tia Rietta e Mary. Sem mamãe ao meu lado agora passava mais tempo com o resto da família.

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