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ELEANOR HUGHES

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ELEANOR HUGHES

          Aileen estava diferente quando surgiu no meu quarto naquela manhã. Era um dia ensolarado, mas com um vento frio. Estava tão cansada que demorei um pouco para notar os pequenos sinais que demonstrava. Até chegou um momento que eles ficaram inegáveis.

Primeiro, o seu silêncio. Aileen me acordava com um bom-dia animado, falando sem parar até que eu estivesse completamente desperta. Depois exibia uma variedade de vestidos para que eu escolhesse aquele que gostaria de usar. E esse foi o segundo sinal.

Não me perguntou qual vestido eu gostaria de usar e nem separou um de cor escura — os quais usava desde o enterro há dois meses. Separou silenciosamente um vestido rosa-bebê, simples e sem muitos babados. Quando perguntei sobre isso, ela se resumiu a forçar um sorriso amargo em seus lábios.

— Hoje é um dia especial, senhorita.

— Mesmo? O que tem hoje, Aileen?

— Sua avó gostaria de contar ela mesma.

— Está bem.

Eu era uma criança. Um dia especial e um vestido bonito eram mais que o suficiente para me deixarem alegre e ansiosa. O que pareceu deixar o dia de Aileen ainda mais amargo, e eu não conseguia entender o motivo. Para que ficar assim em um dia especial?

Aileen usou presilhas de pérolas em meu cabelo e deixou que usasse minhas sapatilhas preferidas — as prateadas. Assim que saímos do meu quarto, notei que não era a única estranha hoje. Todos os empregados que passavam por nós nos olhavam da mesma forma estranha.

— Bom dia, senhorita. — diziam.

Seus olhos brilhavam de um jeito esquisito e suspiravam antes de virar o rosto e correr para longe. O mais estranho é que não me chamavam mais de Senhorita Blackwood.

Quando isso aconteceu pela quinta vez, puxei a mão de Aileen. Ela olhou para baixo, na minha direção.

— Aileen.

— Pois não, senhorita.

— Por que todos estão estranhos?

Aileen apenas suspirou e continuou caminhando. Minha barriga começou a doer, conforme nos chegamos mais perto do quarto da vovó.

Vovó me dava vestidos bonitos, mas era assustadora. Mamãe dizia que visitar ela em seu quarto nunca era algo bom, mas vovó sempre me chamava para passar algum tempo com ela depois que mamãe me atacou. E aquele era um dia especial.

Aileen bateu na porta e esperou.

— Entrem.

Vovó estava sentada em uma mesinha e sorriu por cima de sua xícara ao me ver, deixando os documentos que lia e o óculos de lado. Não lembro da última vez que vi vovó sorrir. Conseguia sentir o cheiro de bolinhos de mirtilo de onde estava e soltei a mão de Aileen correndo até vovó para abraçá-la.

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