5. Lucca

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Foi como levar uma facada. Quando desci as escadas e soube que a Maya era a namorada do Oliver... Meu Deus! A NAMORADA DO OLIVER - Pensei incrédulo - Eu senti um nó no estômago. Como isso aconteceu? Quando? Se eu não estivesse vendo com meus próprios olhos, nunca imaginaria eles dois juntos. Principalmente depois de nós. Por que a Maya fez isso? Eram tantas dúvidas…

 Já fui melhor em disfarçar, mas dessa vez não estava conseguindo. Eu olhei no fundo dos olhos dela e eu vi arrependimento. Eu conhecia a Maya como ninguém e percebi o quanto ela estava apavorada. Será que eu estava sendo arrogante por pensar assim?

 Precisei fingir que estava tudo bem e comprimentei o Oliver. Ele mal me olhou nos olhos e me deu um abraço frio e sem vontade. Aquilo me doeu na alma e percebi que nada tinha mudado desde a última vez que nos vimos. Ele ainda me culpava pela morte do nosso pai. Ele só não sabia que eu me culpava também. Como eu queria poder contar tudo que aconteceu naquele dia pra ele e pra mamãe, mas prometi a mim mesmo que ia guardar esse segredo comigo, mesmo que isso esteja me matando por dentro.

 Me aproximei da Maya, e logo senti o cheiro dela. Ah, aquele cheiro! Que saudade. Era cheiro de uva com um toque cítrico, era doce e sensual. Era o mesmo cheiro a anos. Eu a abracei, e por alguns segundos quis esquecer tudo. Esquecer que estávamos ali e esquecer que ela era a namorada do meu irmão. Eu estava precisando tanto daquilo… Precisando tanto dela! Ela me abraçou de volta e por alguns segundos eu senti que ela também queria aquilo, mas logo voltei pra realidade: Maya era do Oliver. Antes de largá-la eu disse em seu ouvido:

  — Você e Oliver? E ela me olhou fundo nos olhos. Parecia assustada mas não disse nada.

 Eu sempre tive algo especial com a Maya. Eu sempre a admirei. Ela era carinhosa, gostava de cuidar das pessoas, tratava todo mundo muito bem. Era tão esforçada, estudiosa. Eu a vi se formar, abrir o próprio escritório e virar uma mulher independente. Mesmo que eu não estivesse presente fisicamente, eu estava sempre procurando saber como ela estava. Por diversas vezes eu pensei em chamá-la pra sair, mas achei que as coisas iam ficar estranhas já que éramos amigos. E eu não queria, de forma alguma, estragar isso.

 Há um ano e meio atrás isso mudou. Quando descobri que ia embora do Brasil, eu liguei pra ela, queria muito me despedir.

 Há 1 ano e meio atrás:

 
— Lucca Albuquerque me ligando? O mundo vai acabar hoje! Ela brincou.

 —Oi, May! Saudade também.
- Respondi

— Eu também tô com muita saudade! Quanto tempo não te vejo. Como estão as coisas por aí? Tem novidades? - Ela respondeu.

 — Recebi uma proposta e tô indo embora do Brasil. Falei logo, sem rodeios. 

Ela ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder.

 —Indo embora de verdade? Pra sempre? -Senti que o tom de felicidade dela tinha ido embora e uma parte de mim ficou feliz com isso.

 — Pra sempre não sei, mas eu vou morar no Canadá. Já embarco daqui a uma semana e queria me despedir de você.

 
— É claro, Lucca. Eu tô muito feliz por você, mas sabe que vou sentir muita saudade né?

 Eu não estava louco. Ela realmente estava triste. E eu pude perceber pelo tom de voz.

 Conversamos por mais um tempinho e marcamos um barzinho pro dia seguinte.

 Eu liguei pra Maya quando ainda estava no escritório. Depois sai, fui pra casa e quando estava saindo do banho, ainda com o cabelo pingando, alguém bateu na porta. Eu gritei:

Um Conto para TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora