3.Oliver

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Era uma noite bem chuvosa e fria, já tinha passado das dez da noite e eu estava em casa assistindo uma série quando meu celular tocou. Era o Lucca. Estranhei porque ele nunca ligaria a essa hora. Atendi logo, já preocupado.

— Lucca, tudo bem? Perguntei sem rodeios. Ele ficou em silêncio por alguns segundos e depois respondeu:

— Oliver, o papai passou mal. Você e a mamãe precisam vir pra cá agora. Se for possível, peguem o próximo voo pra cá.

Ele falou tudo muito rápido mas a voz dele estava falha, como se estivesse tremendo, muito nervoso ou chorando. Eu sabia que era grave porque o Lucca é o cara mais forte que eu conheço. Ele nunca deixa transparecer quando está mal, mas dessa vez eu pude sentir pela voz dele.

— Lucca do que você tá falando? Como assim passou mal? Passou mal do que?

— Acho que foi o coração Oliver... Ainda não sei bem o que aconteceu. Mas é grave. Só venham pra cá.

—Tá bom, nós vamos. Mas vai me atualizando por mensagem. Antes que eu terminasse a frase ele desligou.

Quando desliguei o telefone senti que o meu chão se abriu. Era como se nada mais fosse certo nessa vida. Eu nunca pensei nesse momento, em perder o meu pai. Eu não estava pronto. Isso não podia acontecer.

Quando percebi eu já estava chorando e não conseguia me conter. Quanto mais eu enxugava as lágrimas mas elas desciam e eu não conseguia parar. Que sensação horrível. Mas tirei forças, não sei de onde, e fui falar com a mamãe. Acho que essa foi a pior parte.

Minha mãe e meu pai estavam juntos há 30 anos. Não existia um sem o outro. Quando dei a notícia ela ficou em choque, mas se conteve e ainda me consolou. Ela e Lucca eram iguais nisso. Eles guardavam tudo pra eles e era difícil deixarem transparecer algo. Minha mãe ficou como uma rocha e logo resolveu nossas passagens. Naquela mesma noite embarcamos pro Canadá.

Chegamos e íamos direto pro hospital, mas Lucca mandou mensagem dizendo pra irmos pra casa dele. Na hora eu não entendi bem. Se o papai tinha passado mal, nós não deveríamos ir pro hospital? Chegamos, tocamos a campainha e uma moça de meia idade abriu a porta. Lucca estava sentando num banquinho com a cabeça baixa. Ele parecia estar muito distante, tanto que não nos percebeu chegar. Minha mãe foi logo entrando e foi direto abraçar o Lucca. Dessa vez, era o Lucca de sempre. Ele parecia forte, mas tinha o olhar mais vazio que já vi. E foi minha mãe quem desabou a chorar quando o abraçou. Ele nem precisou dizer nada, nessa hora eu já tinha entendido. 

Eu não conseguia acreditar mas meu pai tava morto. A verdade é que ele nem teve chance. Foi um infarto fulminante. Ele estava morto desde a hora em que o Lucca ligou.

Interrompi o abraço dos dois ainda sem acreditar no que estava acontecendo:

— Como isso aconteceu, Lucca? O Papai era a pessoa mais saudável desse mundo.

— Foi do nada, Oliver. Nós estávamos conversando sobre a empresa e acabamos discutindo. Não foi nada demais mas ele começou a passar mal.

— O papai infartou numa briga com você? Então não foi do nada, Lucca! Eu estava muito puto.

— Não foi uma briga, Oliver. Foi... Nem deixei ele terminar a frase:

— Parece uma briga pra mim. Ele infartou, Lucca! Infartou. Eu gritei.

— Ele se estressou com você e infartou. A culpa é sua! Você matou o papai! Era pra você cuidar dele já que estávamos longe e olha o que você fez? Eu nem pude me despedir... Eu gritei com ele completamente fora de mim.

— Oliver para! Minha mãe gritou!

— Se acalma porque não existem culpados aqui. Eu sei que tá doendo meu filho, mas o seu irmão está sofrendo assim como você.

Quando olhei pro Lucca ele estava branco. Ele Me olhava sem acreditar em tudo que eu tinha dito. Ele nem tentou se explicar, só me deixou gritar com ele. Eu senti muito por tudo que falei e da forma que falei. Ele realmente estava sofrendo. Me arrependi, eu não queria magoar o meu irmão daquele jeito, mas eu realmente acreditava em tudo que disse pra ele. E isso é algo que não vou conseguir esquecer.

Os dias seguintes foram cruéis. Eu sabia que ia doer, só não sabia que doeria tanto. Fizemos todos os trâmites de velório, enterro, papelada e ficamos alguns dias na casa do Lucca. A mamãe insistiu muito pra ele voltar pro Brasil mas ele não quis. Disse que jamais deixaria a filial do papai, que agora era dele.

Nós estávamos nos falando pouco depois de tudo que disse pra ele. Ele tentou conversar comigo algumas vezes, perguntava como eu estava e eu só respondia sem dar muita abertura. A minha cabeça só conseguia pensar em uma coisa: Se o Lucca não tivesse brigado com o papai será que ele ainda estaria aqui? Eu não conseguia mais admirar o meu irmão como antes. Eu precisava de um tempo pra processar tudo isso.

Voltamos para o Brasil e os dias passaram lentamente. Eu só pensava em me afogar no trabalho pra tentar diminuir a minha dor. Eu não saia de casa, não tinha ânimo pra nada, mas todos os dias, com alguma mensagem, a Maya me fazia sorrir.

A Maya sempre foi presente na minha vida, éramos melhores amigos quando criança. Ela sabia tudo sobre mim. Nos afastamos um pouco no período da faculdade, depois por conta do trabalho, mas sempre nos falamos pelas redes sociais. Quando ela soube da morte do meu pai logo me ligou e passou a enviar mensagens todos os dias pra saber como eu estava. Ela sempre muito carinhosa e com palavras de apoio. Significava muito pra mim.

Tinha dias que a tristeza tomava conta de mim e eu não conseguia nem responder as mensagens. Eu só queria chegar do trabalho, tomar um banho e me jogar no sofá. Eu não respondi as mensagens da Maya por dois dias e quando eu já estava jogado no sofá, pronto pra apagar ali mesmo, alguém bateu na porta. Estranhei porque com certeza não estava esperando ninguém. Corri pra ver quem era e lá estava ela, como sempre linda.

Tinha meses que não a via. Maya era morena cor de praia, tinha cabelos enormes e lisos, era preto, mas agora tinha umas mechas que pareciam cor de mel. Os olhos eram enormes e castanhos e a boca era bem carnuda. Ela não era tão alta, eu chutaria 1,67. Tinha uma cintura fininha, mas as coxas e quadris grandes. Ela tinha um corpão. Aonde ela chegava o cheiro ficava. Era muito gostoso. É um cheiro doce, sensual e que sempre foi dela. Ela estava usando uma calça jeans, um tênis Vans e uma regata branca... Despojada, mas muito bem arrumada com suas mil pulseiras, anéis e cordões... Estava bem maquiada também. Sempre estava. Assim que abri a porta, ela disse: 

— Quando meu amigo tá mal e não responde minhas mensagens, eu apareço.

Meus olhos encheram de água assim que a vi. Acho que eu não sabia o quanto estava precisando de alguém. Sempre tive o Lucca nos meus momentos ruins, ele sempre estava lá pra mim, mas agora não tinha mais... e acho que nem queria.

 Ela se aproximou mais, me olhou nos olhos e depois me abraçou. No meu ouvido ela disse:

 — Você não vai passar por isso sozinho, eu tô aqui. 

E eu desabei... 

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NOTAS DA AUTORA
Meu Deus, o Oliver ta sofrendo tanto! 🥺🥺
Ele tem uma personalidade tão forte e ao mesmo tempo é tão sensível.
O que acharam desse personagem? Me digam nos comentários e cliquem na estrelinha por favor :)

Um Conto para TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora