Flashes de câmeras iluminavam a quadra de vôlei, pessoas se inclinavam e gritavam seu nome das arquibancadas, querendo um pouco da preciosa atenção de Ushijima Wakatoshi, um dos membros do time nacional japonês. Ele não parava para entrevistas rápidas e nem dava muita atenção aos fãs, não gostava de perguntas demais e luzes fortes em seu rosto, mas abria exceções raramente, quando lhe interessava.
Carregava nas mãos uma pequena caixa de bombons que tinha recebido pouco antes do jogo e tinha levado consigo como um amuleto da sorte, sabendo que apenas uma pessoa no mundo lhe mandaria aquilo.
Seu melhor amigo, Tendo, mandava frequentemente chocolates que ele mesmo havia feito, diretamente da França. Nesta caixa havia apenas um bilhete escrito: "Para meu miracle boy!", sem nenhuma assinatura, sabendo que Wakatoshi não precisava mais do que isso para entender.
Parou de frente para a jornalista, não se sentindo incomodado com a grande câmera que estava apontada para seu rosto, e ergueu a pequena caixa.
— Este foi um presente do meu velho amigo, Tendo — declarou, olhando para a câmera — dedico meu bom desempenho de hoje a ele e este pequeno sinal de sua fé em mim.
— O grande Ushiwaka dedicando uma vitória a alguém? — a jornalista disse, se empolgando por uma exclusiva — Você já falou sobre esse amigo antes, sim? Nos conte mais dele.
— Ele é chocolateiro, na França — Ushijima contou.
Ele sabia bem que muitas pessoas especulavam muito o fato de ele sempre tocar no nome de Tendou em suas breves aparições na mídia, mas ele não poderia se importar menos com isso. Tendo disse a ele que sua propaganda não intencional sempre ajudava muitos nos negócios e ele gostava muito de ajudar seu amigo.
— É um presente do dia dos namorados? — ela perguntou.
— Não.
Já conhecia bem o fato de que, quanto mais famoso se tornava, mais as pessoas especulavam sobre sua vida e ele não se importaria com isso até o ponto que começasse a atrapalhar alguém que ele gostava.
— Estes bombons são os melhores que já experimentei, recomendo a todos — fez um pequeno aceno de cabeça e saiu.
Ushijima era lido como frio, rude e até mal educado às vezes, sempre o diziam que era sério demais e que dava medo nos outros, mesmo que nada disso fosse sua intenção. Tendo nunca pareceu intimidado por ele, mesmo no colégio ele se sentava em sua mesa durante o almoço e falava sem parar, cantarolava e fazia muitas perguntas. Nunca pareceu incomodado quando ele não queria responder muito ou retribuir suas conversas muitas vezes desconexas para ele, por isso Ushijima se sentia tão bem em sua presença.
Eles se falavam muito por celular, já que moravam em continentes diferentes e, quando secretamente sentia falta da voz de Tendo, ele ligava e deixava que Tendo falasse sem parar por horas a fio.
Depois do jogo, alguns de seus amigos o convidaram para jantar fora e beber um pouco, como Tendo parecia ocupado demais para responder, ele aceitou o convite. Durante esses encontros, ele passava a maior parte do tempo calado, deixando que Hinata, Bokuto e Atsumu animassem a mesa inteira. Aquele trio era muito barulhento.
Sakusa só falava quando recebia alguma pergunta ou conversava em voz baixa com Akaashi, companheiro de Bokuto. Kageyama só respondia o que lhe interessava ou discutia com Hinata sobre os assuntos mais banais e bobos possíveis. E ele tinha conversas curtas com Akaashi e Sakusa às vezes, mas prestava atenção nos amigos sempre.
Durante o jantar, notou as mãos entrelaçadas de Bokuto e Akaashi, notando mais uma vez como as alianças deles pareciam reluzir em qualquer ambiente. Bokuto sempre convidava Akaashi para qualquer evento e ele sempre fazia questão de ir, assim como comparecia a quase todos os jogos.
Sakusa e Atsumu eram um casal estranho aos olhos de Ushijima, mas eles funcionam muito bem juntos. Ao contrário de Bokuto e Akaashi, eles não andavam muito de mãos dadas ou se tocavam muito, mas pareciam igualmente apaixonados. Atsumu respeitava muito o espaço pessoal de Sakusa, o que era impressionante já que Ushijima notou que ele gostava muito de toques físicos.
E por último, Hinata e Kageyama, que sempre foram diferentes de casais comuns. Estavam sempre discutindo e rivalizando, mas de longe dava para notar que se tocavam e olhavam com carinho. Não tinham muita vergonha de se beijar em público também, o que incomodava muito Wakatoshi e Sakusa, que sempre balbuciava algo sobre germes e troca de saliva.
Ushijima nunca teve nenhum relacionamento romântico, para ele era complicado demais entender seus sentimentos e os de outras pessoas, namoro e casamento eram complicados demais, mas gostava de ver a dinâmica dos casais ao seu redor.
— Vai fazer algo depois de amanhã, Wakatoshi-kun? — Akaashi perguntou, chamando sua atenção.
Wakatoshi gostava dele, ele era inteligente e calmo, sempre trazia um pouco de tranquilidade para o pequeno caos do grupo.
— O Tendo chega amanhã — contou, virando um pedaço de carne na churrasqueira — ele quem faz os planos quando vem.
— É que... depois de amanhã é dia dos namorados — ele lembrou, sorrindo envergonhado — você vai sair com ele?
Balançou a cabeça positivamente, só se lembrando neste momento dessa data que todos falavam sobre. As pessoas eram mesmo muito apaixonadas e dedicadas, por todos os lugares as lojas estavam enfeitadas com corações de papel e flores. Perfumes, cestas de chocolate, buquês e músicas românticas preenchiam as ruas, seria difícil esquecer a data se não tivesse outras coisas em mente.
— Akaashi-san — ele chamou, sem ter certeza de como formular sua pergunta — Como soube que estava apaixonado pelo Bokuto-san?
Encarou o homem sentado à sua frente, que parecia mais surpreso do que nunca e notou que os outros tinham parado de falar e estavam prestando atenção nos dois. Akaashi sorriu gentilmente e seus olhos brilharam quando ele olhou para Bokuto, antes de voltar a encará-lo.
— Acho que foi no dia em que a gente foi em uma cachoeira, fazer um trilha que eu não estava nem um pouco animado pra ir — ele deu uma risadinha e apertou a mão de Bokuto na sua — no meio do caminho, quando eu estava cansado e muito irritado por ter escorregado em uma pedra um pouco antes, ele me deu uma pedrinha que até hoje não sei ao certo qual é.
— Uma pedrinha? — perguntou, não entendendo onde ele queria chegar.
— Sim, uma pedra diferente, esquisita e azul. Ele levantou ela na direção do meu rosto e disse: olha, Kashi! Ela é da mesma cor dos seus olhos, não é bonita? — ele deitou a cabeça no ombro do marido, que parecia estar transbordando de paixão — Naquela hora ele parecia reluzir mais do que o normal, seu sorriso estava tão bonito e ele parecia tão animado que eu o beijei. Foi como sentir que meu peito estava pegando fogo e nada pareceu mais certo naquele momento.
Wakatoshi balançou a cabeça lentamente, ele nunca tinha sentido aquilo, mas gostaria de experimentar um dia.
— Eu já sabia que tava apaixonado e levei ele na esperança de seduzir ele quando entrasse na cachoeira e me exibisse sem blusa — Bokuto declarou, arrancando algumas risadas dos outros — Eu sempre tive muita gente querendo namorar comigo, mas ninguém faz eu me sentir como o Kashi faz. Ele deixa eu ser eu mesmo e não me julga por isso.
Ushijima pensou consigo mesmo que Tendo sempre deixava que ele fosse ele mesmo também, nunca brigava com ele por ser calado demais.
— Comigo foi estranho, eu achava que detestava ele, mas tudo que se passava na minha mente era ele — Atsumu compartilhou — era como se o rosto dele estivesse tatuado no meu cérebro e no meu coração, mas eu era muito medroso pra dar o primeiro passo. Tinha medo que se eu chamasse ele pra sair ele ia tentar me matar como se eu fosse um germe ambulante.
— Ainda penso nisso às vezes — Sakusa brincou, fazendo o namorado rir.
Todos olharam para ele, esperando que ele compartilhasse algo também, fazendo ele suspirar e dar de ombros.
— Eu ainda não sei como aconteceu — ele confessou — só sei que quando penso no futuro, não imagino outra pessoa ao meu lado.
Wakatoshi nunca tinha pensado em como seria caso ele e Tendo se distanciassem e, tinha que admitir, ele não tinha gostado nada dessa possibilidade de futuro.
— Comigo e com o estressadinho foi algo meio intenso e viciante — Hinata disse, cutucando Kageyama — quando a gente se abraçou pela primeira vez foi esquisito, como se um choque percorresse entre a gente, mas fez com que a gente nunca quisesse parar. Dar as mãos, abraçar, se beijar e... mais umas outras coisas fez que a gente nunca quisesse ficar longe um do outro.
— Eu ainda não entendo tudo, mas ele sempre me faz querer ser melhor — Kageyama disse, remexendo seu arroz — todo mundo sempre diz que namorar e casar é difícil, mas não é. É fácil como... respirar, se sua companhia não for tóxica.
— Ownn, Tobio! Como você é fofo! Vem cá, vem — Hinata provocou, puxando o rosto dele.
Kageyama ficou corado e se esquivou dele, se distraindo do pequeno discurso romântico. Ushijima voltou a olhar para sua comida, refletindo sobre tudo o que foi dito. Ele não era intenso como os amigos, ainda não entendia muito bem o que falavam por ser inexperiente neste assunto, mas gostaria de tentar entender. Seu relacionamento atual com Tendo era muito bom, confortável e tranquilo, mas às vezes ele sentia que queria algo mais e reprimia o sentimento logo, tendo medo que pudesse estragar o que tinham. Não queria ser precipitado.
— Pra amar alguém você não precisa sentir que está queimando ou que a ansiedade faz seu estômago revirar — Akaashi chamou a atenção dele novamente — não precisa sentir que sem ele seu mundo vai desabar ou que vai morrer se não tocá-lo por alguns minutos. Cada um tem sua forma de amar e, mesmo que vocês não namorem, é fácil ver o quanto se amam.
— Vocês são melhores amigos, só conversa com ele e não tenha medo — Hinata disse, sorrindo.
Para ele era fácil dizer, ele parecia nunca ter medo de nada, mas Wakatoshi no fundo sabia que ele tinha medo, sim, mas que era corajoso o suficiente para enfrentar.
Acenou com a cabeça e agradeceu aos amigos pela ajuda, mas ainda não tinha certeza do que fazer sobre os sentimentos que dominavam seu peito já tinha um tempo. Naquele momento, o rosto de Tendo apareceu na tela de seu celular, sinalizando que ele estava ligando. Pediu licença e saiu da mesa, parando do lado de fora para atender e ter um pouco mais de privacidade longe dos olhares curiosos dos amigos.
— Wakatoshi-kun — a voz de Tendo soou quando atendeu, fazendo ele sorrir de leve — desculpa por não responder antes, sua pequena aparição na TV fez meu celular tocar sem parar.
— Isso é bom? — perguntou, enquanto rolava uma pedrinha com a ponta do pé.
Sempre quando estavam falando no telefone, ele se pegava distraído fazendo outras coisas, como rabiscando em um caderno. Se perguntava se Tendo costumava fazer isso também, se ele sentia o mesmo que ele quando conversavam.
— Isso é ótimo, miracle boy! — ele riu, fazendo Wakatoshi sorrir de novo — Logo, logo vou poder te pagar uma viagem aqui pra França e comprar um monte de lembrancinhas para nossos amigos.
— Devo fazer isso sempre?
— Hum... só de vez em quando, eu não aguento tantos pedidos do bombom favorito do Ushiwaka — Tendo suspirou dramaticamente — eu deveria colocar seu nome neles e vender pro mundo inteiro, né? Seus fãs são muito dedicados.
— Vai vender bombons Wakatoshi? Não sei se é um título muito bom — brincou, fazendo ele rir.
Ushijima geralmente não fazia piadas, mas com o passar do tempo ele foi tentando mudar esse comportamento, pelo menos com Tendo. Ficaram em silêncio um pouco, sempre faziam isso quando estavam juntos e isso acabou refletindo em suas ligações, mas dessa vez foi ele quem quebrou o silêncio confortável.
— Que horas chega amanhã? — perguntou.
— No fim da tarde, eu acho. É um longo caminho pro Japão, você devia vir pra cá mais vezes — Tendo reclamou.
— Da próxima eu vou.
Ele queria ficar mais tempo com ele no telefone, mas seus amigos o esperavam e escutou Tendo bocejar do outro lado da linha. Ele sempre ligava em horários que não atrapalhasse Wakatoshi, por causa do fuso horário do Japão para a França, muitas vezes já era de madrugada lá. Ele insistia que podia ficar acordado às vezes, mas Tendo sempre dizia que um atleta como ele deveria estar sempre bem descansado e que ele não se incomodava em ficar até um pouco mais tarde.
— Estou em um restaurante com os outros, podemos conversar depois? — ele perguntou sabendo que se dissesse que era Tendo quem precisava dormir, ele jamais aceitaria desligar — amanhã vou te buscar no aeroporto.
— Okay, não se atrasa — ele disse, parecendo sonolento — e dá um oizinho pros outros por mim.
Se despediram e ele desligou, voltando para o restaurante e se sentando de volta na mesa. Ninguém perguntou nada, para seu alívio, e ele voltou a comer e beber, como se nunca tivesse saído dali.
— Você sempre sorri quando ele te liga — Akaashi disse, também sorrindo — mesmo que bem pouquinho, você sorri.
Ele não percebia que fazia isso, mas sabia que isso era verdade. Ele não conseguia ter outra reação além dessa quando estava com Tendou.
Espero que tenham gostado deste primeiro capítulo! Desculpem qualquer errinho <3
