O cheiro de cerveja e batata frita atingiu Kuroo assim que ele entrou no bar, sorrindo um pouco ao ver um casal desafinado mas apaixonado no palco, parecendo se divertir. Seus amigos gostavam de se reunir sempre que podiam e quando era sua vez de escolher, ele sempre escolhia aquele bar. Não era porque gostava de cantar, ou porque gostava bastante da comida que serviam e do ambiente hospitaleiro, mas sim por causa do garçom.
Desde que Kuroo tinha colocado os olhos nele, tinha ficado encantado, ele era bonito, gentil e eficiente, também carregava um leve sotaque indicando que não era da capital e que soava bem charmoso aos seus ouvidos. Kuroo adorava flertar com ele, muitas vezes sendo ignorado, mas se sentia vitorioso quando conseguia arrancar alguns sorrisos dele.
Adentrou o local com Kenma em seu encalço, reclamando que já estava enjoado daquele lugar barulhento, mas Kuroo não deu ouvidos, estava ocupado demais procurando seu garçom no espaço cheio, mas não conseguiu localizá-lo. Foi até a mesa em que os amigos já estavam sorrindo com entusiasmo.
— Vocês demoraram — Yaku reclamou, quando Kuroo se sentou ao lado dele.
— O Kuroo demorou arrumando o topete dele e passando meio litro de perfume — Kenma contou, se esticando para alcançar algumas batatas dispostas na mesa.
— Ele já veio aqui? — Todos sabiam a quem ele se referia.
Eles sempre o incentivavam a pedir o número dele, mas Kuroo queria ter certeza que não levaria um fora daqueles caso tentasse algo.
— Acho que hoje não é seu dia de sorte — Yamamoto disse, tomando um gole de cerveja.
Kuroo suspirou, ele planejava mesmo pedir o número dele de um jeito bem clichê dessa vez, não acreditava que ele não ia trabalhar logo hoje.
— Não faz essa cara, Kuroo, ele não está servindo hoje, mas tá lá no bar — Kai apontou com a cabeça, atraindo o olhar dele.
Ele olhou para o bar e deu um pequeno sorriso ao vê-lo, com a mesma expressão séria que habitualmente fazia, mas que se desfazia rapidamente ao conversar com algum cliente. Se levantou e caminhou até o bar, mas não tinha intenção de pedir nenhum drink.
— Boa noite, gatinho — cumprimentou, chamando a atenção dele.
Sorriu quando ele lhe lançou um olhar rápido e deu um pequeno sorriso, terminando de preparar o drink que estava fazendo.
— Pensei que não viria hoje — Falou, finalmente se virando para ele.
— Tava com saudade de mim? — Kuroo se apoiou no balcão, levantando e abaixando as sobrancelhas sugestivamente.
— Com o que posso te ajudar hoje? — Ele deu uma risadinha, mas disfarçou.
Era sempre assim, Kuroo flertava e ele desconversava, mas não de um jeito rude. Se perguntava se ele era hétero, mas seus amigos diziam que nenhum cara hétero aceitaria tantos flertes sem deixar claro que não gostava de homens.
— Vem cá, bonitão, antes de qualquer coisa hoje eu preciso te perguntar — ele tomou coragem, se sentindo um pouco envergonhado — Você gosta de homem ou coisa assim?
Ao invés de responder, ele apenas riu, uma risada que fez os ombros dele balançarem e o peito de Kuroo se aquecer.
— Qualé, Sawamura, nenhum homem resiste ao meu charme por tanto tempo assim, você só pode ser hétero, né? — Perguntou novamente, com as bochechas quentes.
Ele se sentia um adolescente de novo, um que estava tendo a primeira paixonite por outro garoto e tendo medo que não fosse correspondido. Daichi parou de rir, mas ainda mantinha o sorriso no rosto.
— Eu resisto? — ele disse e começou a limpar o balcão.
— Isso não é resposta — Kuroo retorquiu.
— Pensei que você só gostasse de brincar de flertar e que aquele loiro fosse seu namorado — Daichi confessou — Você nunca pediu meu número nem nada, por isso não te dou bola. Não quero problemas com namorado de ninguém.
— Cada coisa no seu tempo, eu tenho que te cortejar primeiro — Kuroo sorriu.
— Tá bom, galã, se você não pedir nada tem que sair do balcão pra não atrapalhar os outros — Daichi avisou, balançando a cabeça.
— Me dá alguma coisa forte então, preciso de coragem hoje — Kuroo pediu, apoiando o rosto em uma das mãos.
— Alguma ocasião especial?
— Hum… você vai saber mais tarde.
Ele observou enquanto Daichi pegava algumas garrafas e virava no copo de metal, misturando tudo. Subiu o olhar pelos seus antebraços que estavam à mostra, e depois até seu bíceps que ficava marcado na blusa branca de uniforme. Seus olhos já tinham feito aquele caminho muitas vezes, já tinham passeado por todo o corpo dele, onde suas mãos formigavam para tocar. Teve que sair de seu devaneio quando Daichi colocou um drink colorido em sua frente e seu olhar lhe dizia claramente que sabia pra onde estava olhando.
— Não pode me culpar — deu de ombros, mas se sentiu envergonhado por ser pego — Doce… e forte — disse, após experimentar o drink, sorrindo — igual a você.
— Como sempre, você não é tão bom de flerte quanto pensa — ele disse, mas seu sorriso entregava que havia gostado — Seus amigos estão te chamando.
— Estão nada, mas vou te deixar trabalhar — ele se levantou, pegando o copo — Eu vou cantar hoje, fica de olho, tá?
Ele lançou uma piscadela e saiu, voltando para a mesa. Estendeu o drink para Yaku, balançando a cabeça só para lembrar do gosto.
— Pavoroso, do jeito que você gosta — disse, roubando o copo de cerveja de Taketora.
— Se você não gosta de drink, por que pediu? — Yaku perguntou, tomando um gole.
— Porque queria ver ele misturando as coisas e queria parecer sexy bebendo sem fazer careta — ele disse, tirando o copo de cerveja do alcance do amigo, que reclamava.
— Não funcionou, eu vi sua careta daqui — Kenma disse, bebericando um pouco de seu suco — Acho que você tem sorte que ele gosta de você.
— Você podia me apoiar de vez em quando, Kyanma — reclamou.
— Alguém tem que ser sincero.
Kuroo se sentia nervoso, ele lançava olhares para o bar e muitas vezes pegava Daichi olhando em sua direção também, mas ele rapidamente desviava o olhar e parecia envergonhado. Naquele bar, aceitavam cantores amadores, qualquer um poderia escrever seu nome na lista para ter uma oportunidade de subir no palco e cantar o que quisesse, caso tivesse a coragem. Kuroo já tinha cantado algumas vezes, ele não era tão ruim e gostava de cantar, mas hoje em especial, ele tinha separado algumas músicas pensando em Daichi.
Quando chegou sua vez, ele tentou não parecer tão nervoso ao subir no palco, mas tropeçou em alguns fios, lhe deixando ainda mais envergonhado. Pegou o violão que tinha ali, preferia tocar a ter a melodia gravada, e se certificou que estava bem afinado. Procurou os olhos de Daichi e sorriu um pouco quando já os encontrou atentos em sua direção, como se o encorajasse.
Muitas das pessoas nem prestavam atenção nele, mas Kenma estava com o celular apontado na sua direção, ele nunca deixava Kuroo subir no palco sem ter nenhum registro para depois. Começou a tocar, não precisava seguir os acordes que passavam na pequena tela virada para o palco, ele tinha praticado tanto que sabia de cor, então se pôs a tocar.