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Merliah.
Favela da Rocinha, 2:57am

Sinto o suor entre as minhas mãos e o medo se estabelecer em meu corpo. O Guilherme é burro, burro, lógico que o chefe daqui não chamou ele pro bonitinho da cara feia curtir um baile, é óbvio.

Mas o burro do Guilherme tá bêbado e drogado em uma favela que ele sabe muito bem que não é bem vindo e mesmo depois de ouvir o que o Martin tinha para falar, ele tá aqui dançando com uma mulher enquanto eu só consigo pensar em o que vai ser de mim em casa com o Guilherme totalmente fora de si, na última vez resultou em um dia na UTI de um hospital.

Vejo a mulher de cabelo preto ir até o chão acompanhada de Guilherme, ele sarra nela como se eu não estivesse ali. Passo a mão pela minha saia incomodada de estar em um lugar onde ele está sendo ameaçado, se o Guilherme morrer aqui eu vou ficar completamente sozinha pelo mundo com o meu bebê que ainda não sei o sexo, não seria ruim.

A única pessoa que eu tinha que fazia de tudo por mim, do possível até o impossível está morta, me culpo todos os dias pela morte da minha querida vó, se eu tivesse ficado em casa como ela me pediu, estaríamos agora assistindo algum programa ruim na televisão. Mas se tiver algum lado bom dessa história é apenas o meu bebê.

Sinto a ardência na perna onde foi cortado e balanço a mesma na intenção de aliviar a dor. Guilherme me olha com os olhos vermelhos e manda um beijo, era impressionante como ele age normalmente depois de me fazer várias coisas, abaixo o olhar me sentindo rebaixada por ele, como se não bastasse comer todo mundo do Cantagalo, fazer tatuagem com nome de mulher, ele fez questão de me trazer pra um morro onde eu não conheço ninguém e dançar com outra na minha frente.

Me levanto apoiando meu peso na perna que não estava machucada e me aproximo até uma mesa onde tinha uma caixa de isopor, pego uma água com gás e abro a mesma tomando um gole generoso, até sentir duas mãos que eu reconheço bem me rodeando e passando pela minha barriga.

GM: Por que não me pediu? Evitava levantar e fazer esforço na perna. — Ele passava uma de suas mãos pela minha barriga. — Porra, não vejo a hora de saber o que esse neném é.

Olho pro lado da menina que ele estava dançando e a mesma me olha sem entender nada, mas sabia muito bem que ele tinha chegado acompanhado por mim.

Eu: Você tava muito ocupado dançando, né não?! — Falo me desviando do seu toque e fechando a garrafinha de água.

GM: Se começar com suas putaria eu te arrasto ali pra rua. — Fala no meu ouvido e eu dou de ombros voltando pro cantinho que eu estava.

Aqui tava lotado de gente e o cabelinho cantando no palco só animava a galera, só de pensar que três anos atrás eu era uma dessas meninas curtindo um baile de boa, mal esperava eu que depois desse baile minha vida só ia ficar pior.

Vejo Martin subindo as escadas com um fuzil nas mãos e um macaco em seu ombro, ele passa o olhar pro camarote todo e abre um sorrisinho assim que ver o Guilherme que estava perto da mesa onde eu estava, me sento no sofazinho que tinha ali e encolho meu corpo. Eu já tô cansada, meu corpo tá todo doendo, eu tô enjoada por não ter comido nada hoje.

Martin se aproxima do GM junto com alguns seguranças e eu só observo de longe.

Não é de hoje que Guilherme tá deixando o Cantagalo se afundar de vez, mês passado ele teve uma reunião com a facção toda que tinha deixado claro que se ele não recuperasse em três meses o que ele perdeu nesses dois anos ele sairia do comando, mas só que Guilherme ele tá foda se pra tudo.

Vencida pelo cansaço que toma meu corpo encosto a cabeça na parede sentindo dor por todo meu corpo que já tá frágil.





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