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Merliah.

Entro em casa atrás do Guilherme que tá todo transtornado, foi da Rocinha até aqui no Cantagalo ouvindo ameaças de morte dele. O dia já está amanhecendo e a visão do sol entrando pela porta de vidro da cozinha deixava a casa mais iluminada.

Passo a mão pela minha saia que o Guilherme fez questão de rasgar assim que descemos do carro, sinto a ardência na mão e vejo o pequeno corte que fiz na hora que fui tentar me defender do murro que Guilherme tentou me dar no rosto.

GM: Some da minha frente, Merliah. — Fala de costas para mim e eu franzo as sobrancelhas e vejo o mesmo enchendo um copo de bebida.

Eu: Se eu pudesse nem na mesma casa que você eu estaria. — Falo alto o suficiente para ele ouvir que se vira me olhando com os olhos vermelhos.

GM: E se eu pudesse eu te mataria aqui mesmo.

Eu: Estaria me fazendo um favor. — Dou de costas indo na direção da escada e deixando a bagunça que ele fez ali no chão da sala.

Subo degrau por degrau com o corpo mole de sono e cansaço. Abro a porta do quarto do bebê onde tem um berço, uma cômoda e um guarda roupa, ambos brancos, a poltrona cinza escuro no canto era a única coisa sem ser branco ali no quarto. Me sento na poltrona no canto direito ao lado do berço.

Tinha algumas roupinhas mais neutras que eu comprei junto com o Guilherme em um dos dias que ele estava de bom humor e decidiu me levar ao shopping.

Eu nunca quis filhos com o Guilherme, não queria carregar o peso de colocar uma pessoa ao mundo para viver do mesmo jeito que eu ou até pior, eu mal tenho relações sexuais com o Guilherme e sempre que tenho é com preservativo. Mas a gravidez veio de um estrupo, a primeira vez que ele me abusou sem ser psicologicamente, desde desse dia nunca mais fiquei sem roupa na frente dele e muito menos fiz sexo com o mesmo.

No dia em que descobri a gravidez foi um surto meu e dele, eu queria tirar por não querer essa vida para um filho meu, mas ele me impediu, disse que mudaria por mim e pelo bebê, que seria o melhor pai e o melhor marido de todos os tempos, eu acreditei. Guilherme conversava com a barriga nas duas primeiras semanas depois que descobri, essas duas semanas foram as melhores semanas depois de anos, por dias esqueci quem ele realmente era e que meu bebê era fruto de um estrupo. Agora ele promete melhorar assim que o bebê nascer.

Eu tenho medo de um desses surtos dele, ele tentar fazer algo com o bebê, ele sempre fala que tenta me bater no rosto pra não prejudicar o filho dele, só que o que adianta? Nada. Ele jura que fazer as coisas que faz comigo não irá prejudicar a minha gravidez, me deixar sem comer, fuder com o meu psicológico, se é que eu ainda tenho isso.

Abaixo meu tronco e tiro a minha sandália que já estava apertando meu pé por ele estar inchado, deixo a sandália no cantinho e vou me levantando da poltrona indo na direção do guarda roupa onde tinha as roupinhas. Abro a porta do meio abrindo a caixinha que tinha uma saída maternidade bege com uma mantinha branca.

Levo a pequena peça de roupa até meu rosto sentindo o cheiro bom de amaciante de bebê, minha mente voa imaginando como vai ser depois do nascimento, sinto a lágrima escorrer pela minha bochecha e sorrio assim que sinto o chute fraco na minha barriga, coloco a roupinha na caixa novamente e continuo chorando baixinho.

Eu: Que animação logo cedo, mamãe. — Falo com a voz falha passando a mão pela minha barriga que já estava de fora, sinto um chute novamente e levo como resposta. — A mamãe tá morrendo de sono e fome também, meu amor.

Saio do quartinho fechando a porta e indo até o meu quarto, abro a porta vendo Guilherme deitado na cama com o pau de fora e um filme porno passando na televisão pendurada no suporte, sinto o enjôo vindo e assim que vou virar meu corpo para sair do quarto ouço sua voz.

GM: Deita aqui e assiste o bagulho comigo, pô. — Nego com a cabeça de costas para ele. — Tô pedindo não, caralho.

A ânsia de vômito permanece pelo meu organismo e o choro se entala na minha garganta, o medo me faz negar com a cabeça várias vezes e a cena do que ele fez comigo naquela noite volta a passar várias vezes pela minha cabeça, o som do vídeo na televisão junto com os gemidos do Guilherme doía meu ouvido. Sinto o gosto do vômito e dou um passo para trás vomitando ali mesmo.

GM: Já começou com essas porra sua né, Merliah, se não começasse com o seu showzinho não era você. Vem deitar aqui agora. — O barulho da cama indica que ele levantou e a mão no meu braço só confirma, com o puxão que ele me dá acabou pisando no meu vômito, o que me dar mais vontade de vomitar.

Ele me encoxa e sinto seu membro duro na minha bunda, as lágrimas rolam pelo meu rosto e o medo de ser abusada de novo com um filho dele na barriga é maior do que qualquer outra coisa.

Eu: Para, Guilherme.. Por favor. — Minha voz sai chorosa e solto o choro pela garganta soluçando. — Eu tô grávida, me respeita uma vez, por favor.

GM: Tá grávida pô, num tá doente não.

Fecho os olhos assim que ele me puxa para deitar na cama, o vídeo continua rolando e eu mantenho meus olhos fechados sem querer assistir nada.

Eu: Você sempre procura na rua, faz isso hoje também.

GM: Quero comer a minha mulher hoje pô, bem gostosinho, prometo parar de te bater depois disso.

Eu: Para de prometer isso, Guilherme, para. — Grito com a garganta doendo. — Só me deixa em paz, cara, eu tô grávida de um filho seu. — O tapa no rosto é certeiro e ardido, abro os olhos olhando pro rosto dele que tá com os olhos vermelhos. — Pronto, já me bateu hoje né, agora me deixa em paz.

Me levanto da cama rápido e corro na direção das escadas pulando o vômito na porta do quarto.

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