Sete pecados

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Assisto o vídeo mais uma vez e olho para o espelho, seguro a gravata, passo a ponta maior por cima, enrolo, passo por cima de novo, encaixo e tento arrumar o nó.

— Deus me ajude, porque isso é tão difícil?

Desisto tirando a gravata e jogando na cama, abro os dois primeiros botões da camisa e solto os botões da gola, isso vai ter que servir.

— Uau!

Vejo pelo espelho o meu primo parado na porta olhando pra mim, quando ele revira os olhos eu olho para o meu reflexo apenas para ver o que eu já sei, estou vermelho, como eu vou fazer isso se tenho vergonha até do Chimon?

— Você vai mesmo fazer isso, não vai?

Já tivemos essa conversa várias vezes nas últimas duas semanas e ele sabe que eu não vou desistir, mas tenta mesmo assim.

— A Love é como uma irmã pra mim, vocês dois são. Ela está em coma há seis meses e ninguém está tentando descobrir o que aconteceu, quando nós éramos pequenos eu prometi que a protegeria, não consegui cumprir a minha promessa, mas vou fazer justiça por ela.

— Não haverá nenhuma justiça se você acabar como a minha irmã. Acredite, somos gêmeos, ninguém mais do que eu quer que a pessoa que fez isso pague, mas aqui não é como na sua cidade e aquele lugar é muito diferente da fazenda onde você viveu nos últimos 23 anos.

Ouvir sobre a fazenda sempre me aperta o coração, sinto falta de tudo, da minha avózinha, dos meus pais e até dos meus quatro irmãos mais velhos, mas com eles eu posso sempre conversar, os que mais me fazem falta são os meus cavalos Rudolph, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago, eles estão comigo desde que nasci, o meu pai sempre conta que eu fui um bebê auspicioso e que no ano que nasci vários animais nasceram na fazenda, temos uma grande variedade de espécies, mas os cavalos sempre foram os meus favoritos, então quando completei 3 anos o meu pai me deu de presente todos os que nasceram naquele ano. O meu aniversário é alguns dias antes do natal, adoro essa época do ano, por isso escolhi colocar o nome das renas do Papai Noel neles, as vezes eu pedia pra prenderem todos em uma carroça só pra fingir que eu estava no trenó do bom velhinho. Essa é uma lembrança boa, mas não o bastante para fazer eu esquecer do porque eu deixei tudo para trás e vim para essa cidade.

Vou até a gaveta e pego o cartão, tudo começa com ele, se isso der errado...

— Tem certeza que vai funcionar?

— Eu espero que sim, mas não tenho certeza, a minha irmã me mostrou quando ganhou e disse que era como um convite, estava no quarto dela...

Ele para de falar, a sua falta de confiança só me deixa mais nervoso, então antes que desista eu guardo o cartão na carteira e vou para a porta.

— Ah, eu tenho uma coisa pra você!

Ele sai correndo, entra no seu quarto, volta e para na minha frente, segura a minha mão e coloca um relógio, não qualquer relógio, esse ele ganhou do nosso avô quando completou 18 anos, todos os netos ganharam algo de grande valor, jóias, casas ou carros, eu ganhei a fazenda da família, mas esse relógio deve valer tanto quanto.

— Você não precisa fazer isso.

— É só um empréstimo, então cuida bem dele, se o cartão não funcionar isso pode ajudar.

Olho para o Rolex que sempre deixa todos com inveja e penso em não aceitar, mas sei que ele está certo, ninguém me conhece aqui, pessoas ricas normalmente só querem saber de uma coisa, dinheiro, então isso realmente pode ajudar.

— Eu vou te devolver.

— Eu sei que vai.

Ele me abraça com força e fica estranho, porque ele está prendendo os meus braços e não consigo o abraçar de volta, então ele se afasta com os olhos cheios de lágrimas.

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