Sete Pecados

Preguiça

Olho em volta tentando entender essas pessoas, é o meu terceiro dia nesse clube, mas nos outros dias eu fiquei alguns poucos minutos então não deu pra ter uma visão real de como é aqui. Muitos não parecem se encaixar, alguns não parecem gostar das pessoas ao redor, a maioria está aqui pelo status ou seja lá o que esse clube fornece aos membros.

O Ohm é a maior incógnita pra mim até agora, ele definitivamente não se sente a vontade aqui, pode ser por minha causa e pelo que aconteceu ou o que pode acontecer, ou por outro motivo qualquer, mas quando estávamos saindo eu tive impressão de que ele não queria vir, desde que chegou, sentou, pediu uma garrafa de whisky e não disse mais nada, é como se tivesse se fechado mantendo todos para fora, inclusive eu.

Um pequeno tumulto se inicia do lado direito, dois caras do grupo da ira começam a brigar, mas quase ninguém parece se importar. Ainda estou tentando entender o que está acontecendo quando o Ohm levanta, acho que ele vai separar a briga ou algo assim, afinal ele é o líder aqui, mas ele se afasta e vai para o outro lado sem olhar pra mim, de repente para e volta , não posso deixar de notar a surpresa geral quando ele se abaixa ficando sobre um joelho na minha frente.

— Eu já volto, você vai ficar bem sozinho?

— Sim.

Aquela máscara distante cai diante dos meus olhos e eu consigo ver a sua preocupação, sem conseguir me conter eu toco o seu rosto e o beijo.

— Eu vou ficar bem!

Ele me encara por alguns segundos ainda preocupado, então segura a minha mão que está no seu rosto e beija.

— Eu vou pedir para um segurança ficar de olho em você.

Eu concordo mesmo achando exagero, o que ele acha que vai acontecer aqui? Ele beija a minha mão mais uma vez, levanta, beija a minha cabeça e vai até onde aquele Phuwin está, o cara me olha antes de seguir o Ohm para o elevador, esse com certeza não gosta de mim.

— O que você quer?

Não vi ele se aproximando, tenho que ficar mais atento aqui, o Ohm sempre me faz perder o foco. O tal Perth senta no lugar do Ohm e se espalha pelo espaço disponível quase se jogando encima de mim, ele parece entediado, quando pega o copo de whisky que o Ohm estava bebendo e experimenta, faz uma careta, devolve o copo na mesa ao lado do sofá e observa um grupo dançando como se apenas isso fosse cansativo demais. Então ele finalmente fala sem olhar pra mim.

— Porque você está aqui? O que quer com o Ohm?

— Quem disse que eu quero alguma coisa?

— Todos querem alguma coisa.

— No seu mundo talvez.

Ele me olha desconfiado, cruza uma perna e passa o braço por trás das minhas costas pelo encosto do sofá.

— Eu posso te dar o que você quer, você não vai conseguir nada com o meu primo, não se engane, ele pode ser intenso, mas assim que as duas semanas acabarem ele te dispensa sem pensar duas vezes e você está fora.

Eu não digo nada, afinal não estou aqui por ele, então o que vai acontecer depois não é problema.

— Você pode continuar aqui, posso te ajudar com isso.

— Como você pode me ajudar?

— Me diga o que você quer aqui.

— Ganhar uma aposta.

Ele me olha surpreso e se afasta.

— Que aposta?

Eu tento parecer natural enquanto a história improvisada flui, sempre fui bom em inventar histórias.

— Eu estou de passagem pela cidade visitando amigos. Apostei um cavalo que eu conseguia entrar nesse clube antes de ir embora, admito que fui enganado, não sabia de tudo isso... — Eu aponto em volta e ele segue a minha mão com o olhar. — Mas eu amo os meus cavalos, então tenho que ganhar essa aposta.

A confusão no seu olhar é evidente e a dúvida também.

— Cavalo?

Eu dou o meu sorriso mais doce e aceno.

— Porque você escolheu o Ohm?

Penso por um momento e dou de ombros.

— Ele é o meu tipo.

— Ele podia te recusar, ele sempre recusa quem o escolhe.

— Eu não sabia disso.

— Se soubesse teria escolhido outro?

— Com certeza, afinal eu tenho uma aposta pra ganhar.

Mais uma vez e fica me encarando, acho que está tentando decidir se acredita ou não.

— Enfim, você disse que pode me ajudar. O que acontece quando o Ohm me dispensar?

— Você está fora, a não ser...

Ele faz uma pausa dramática que se estende até eu perder a paciência e entrar no jogo.

— A não ser...?

— Podemos votar, se a maioria dos sete te quiser aqui você pode ficar.

Isso poderia me ajudar, se eu não conseguir descubrir o que aconteceu nessas duas semanas eu teria mais tempo, mas isso parece uma armadilha.

— Não acho que os outros estão felizes com a minha presença.

— Você pode fazer isso mudar.

— Como?

— Rejeite o Ohm, escolha outro, se a pessoa te aceitar você fica com ela por duas semanas. Isso vai provar que você não está aqui com segundas intenções.

— Achei que todos estivessem aqui com segundas intenções.

— Você disse que não quer nada, só ganhar a aposta, então porque complicar as coisas se você pode ir pelo caminho mais fácil?

Esse cara é traiçoeiro, tenho que tomar cuidado essa conversa.

— Quem iria me aceitar?

Ele olha em volta e aponta.

— A Jane, ela quer tudo o que os outros têm, ela te aceitaria, afinal você é do Ohm, primeiro em muito tempo, muitos tem inveja disso.

Eu penso sobre isso e parece razoável, mas...

— E se eu quiser continuar com o Ohm?

— É ele ou o seu cavalo, não é? Não é isso que está em jogo aqui?

O meu cavalo... A minha prima... Fazer justiça, descobrir o que aconteceu, é isso que está em jogo, então a escolha devia ser simples, mas...

Olho para o elevador abrindo e o Ohm aparece,  ele está preocupado, mas não está irritado por eu estar falando o seu primo.

— É a sua ultima chance, rejeite ele, escolha o caminho mais fácil.

Sem olhar para o Perth eu nego.

— Eu quero ele!

O Ohm para na minha frente e estende a mão, eu seguro ela e levanto, olho para o Perth e sorrio.

— Bom papo.

Ele parece realmente surpreso quando acena de volta, o Ohm começa a me puxar para o elevador, assim que a porta fecha ele me prende contra a parede.

— Sobre o que vocês estavam conversando?

— Sobre escolhas.

— Que escolhas?

Eu empurro ele para o lado, vou até o painel e aperto o botão de emergência fazendo o elevador parar, viro para ele e abro a minha camisa devagar.