Capítulo 3

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     Bill Skarsgard

Lissa estava em um lugar longe demais para que minhas mãos pudessem alcançar, e nem era sobre a distância diária que perseguia minha alma assombrada pela dela... Era sobre o quanto eu precisava pensar nela para aliviar a dor física que me castigava quando eu pisava em falso pelas linhas estabelecidas no contrato que me mantinha perto dela.

Prendi o grito por entre os dentes quando as duas pontas do arame tocaram meu abdômen pela décima vez naquele dia. O barulho da corrente sacudindo meu corpo no ar ao mesmo tempo que meus pulsos estavam presos para cima estava distante demais do pensamento que trazia a aparência de Lissa sempre que eu fechava os olhos para morrer. Mais um fio de sangue escorreu pelo canto da minha boca, e aquele não seria o dia que eu imploraria para algum Deus me salvar.

Eu reconheceria todos os meus erros em todos os tipos de dor, mas estava convicto de que nada me salvaria de algum fim cruel. Embora, eu soubesse que o final cruel seria supérfluo para um homem como eu... Uma longa vida longe dela sim, poderia ser minha crucificação.

— O anfiteatro inteiro... — O General citou enquanto puxava a cadeira de ferro para acomodar sua bunda em frente do meu corpo suado pós choque elétrico — Você tem merda na cabeça?

Levantei a cabeça sentindo o peso do mundo na própria, os fios do meu cabelo grudando em minha testa causando agonia.

Não havia nada que eu pudesse dizer, não havia redenção. Havia deixado a raiva vencer em incendiar o lugar inteiro segundos após Lissa sair da entrevista, eu nunca colocaria a vida dela em risco, já a vida de milhares de pessoas não me eram interessantes o suficiente para salvar.

— Está vendo alguma capa nas minhas costas? — eu disse ofegante — Não sou nenhum herói, porra.

O General levantou, a cadeira tombando com a força do movimento fez meu corpo entrar em alerta. Cara à cara eu conseguia sentir o cheiro do medo de um homem livre perto de um homem perigoso, estava camuflado de coragem e atitude, mas nada dele estava acima de mim.

— Qual era o combinado, Skarsgard? — falou mexendo no canto daquele bigode grosso — Preste seus serviços para o governo, e o governo te dá liberdade, identidade falsa e localização privada... Nada de crimes, nada de morte.

— Foi um crime... — engoli — Mas não houve mortes... E eu não fui pego.

Uma onde de eletricidade me fez gritar pelo despreparo. Pensei nos olhos escuros de Lissa e a dor desapareceu.

— Quanto ao número de mortes você terá uma vantagem... — disse ele — Nenhum corpo foi encontrado, Skarsgard. Você terá seu último passeio pela liberdade em dois dias, é bom aproveitar bastante... Nunca mais verá a luz do sol novamente.

Perdi o fôlego antes mesmo de encontrar.

— Escute. — balancei o corpo — Me dê mais alguns messes? Estou tão perto de encontrar os registros... Eu só preciso de mais tempo.

— Sabe, Skarsgard? — citou como uma pergunta — Você não é o tipo de homem que se importa com a vida ou com o fato de que tem uma. O que você tanto quer lá fora?

Lissa.

Algumas horas passaram rápidas sempre que eu pensava em Lissa. Costuma pensar no seu cabelo curto perto do queixo delicado, os lábios redondos sempre pintados com batom vermelho e nos cílios preenchidos por algum tipo de alongamento estético recente. Eu não sabia o real motivo ser obcecado, quando ela também era obcecada por mim, a única diferença era que ela jamais poderia me alcançar da mesma forma que eu alcançava ela.

Pesadelo (Bill Skarsgard)Onde histórias criam vida. Descubra agora